O aviso da produção surgiu no aplicativo interno do programa com a mesma suavidade de um tiro:
Desafio da Semana: Passeios Românticos em Turnos. Um dia, cada integrante do casal escolhe uma atividade “especial e significativa”.
Luna sorriu maliciosamente ao ler.
Isadora ergueu uma sobrancelha.
O campo estava aberto. E a guerra também.
...A NOITE NA BOATE...
O transporte do reality deixou as duas na frente de uma casa noturna iluminada por néons azuis e vermelhos. O som das batidas eletrônicas já fazia o chão vibrar antes mesmo de entrarem.
— Isso aqui é sua ideia de passeio romântico? — pergunta Isadora, de braços cruzados, encarando a fachada como se fosse uma sentença.
— Claro — diz Luna, com um sorriso malicioso e o vestido colado ao corpo. — Amor se constrói com suor, música alta e umas doses de tequila.
Dentro da boate, Luna era como uma estrela em órbita: se movia com graça, acenava para as câmeras escondidas e para os curiosos no bar, e dançava como se o mundo estivesse ali para vê-la.
E Isadora... estava visivelmente deslocada. Sentada no canto, copo com gelo na mão, olhos vigilantes, postura ereta como se aquilo fosse uma audiência.
— Vem dançar comigo — disse Luna, estendendo a mão.
— Tô bem aqui. Observando a decadência da civilização.
Luna riu alto. Ignorou a recusa e começou a dançar em frente a Isa.
Perto. Muito perto.
Corpo curvado, quadril insinuando, os olhos presos nos dela.
— Isso aqui não é sobre dança — disse Isadora, irritada. — Você só quer me provocar.
— E tá funcionando?
Isadora levantou-se, empurrando Luna levemente com o ombro ao passar.
— Parabéns, Luna. Você venceu. Conseguiu me irritar.
— Obrigada. Foi mais fácil do que eu esperava.
...O DIA DA TRILHA...
Foram dormir às três da manhã.
Às cinco, Luna foi acordada com uma luz de lanterna no rosto.
— Levanta. Nosso passeio romântico começa agora — disse Isadora, com uma mochila nas costas e um sorriso quase angelical. Quase.
— Você tá louca? Isso é castigo, não é passeio!
— Considera uma meditação ativa. Vem, Barbie da Montanha.
A trilha começava no pé da serra e ia até uma cachoeira isolada. A produção deixou uma câmera fixa no alto de uma árvore — privacidade suficiente para parecer espontâneo, mas o suficiente para capturar boas cenas.
Luna reclamou desde o primeiro passo.
— Minhas pernas doem.
— Tá quente.
— Isso aqui tem mosquito.
— Você tá fazendo isso pra se vingar.
— Eu sei.
— Claro que estou — respondeu Isadora, impassível. — Mas pense pelo lado bom: sua maquiagem vai sair e vamos descobrir como você realmente é.
— Ah, querida... até suada eu sou linda.
Isadora riu.
— Isso é o que me irrita em você. Esse narcisismo desavergonhado.
— E o que me irrita em você é que... você se diverte me irritando.
— Exato — respondeu Isadora, com um brilho nos olhos que Luna, mesmo ofegante, percebeu.
O som da água caiu como um alívio nos ouvidos cansados.
Isadora jogou a mochila no chão e tirou a camiseta, ficando apenas de top esportivo e shorts.
— Vai entrar? — perguntou, sem olhar.
Luna já estava de calcinha e sutiã rendados.
— Se você não olhar, vai perder um espetáculo.
— Tô acostumada com espetáculo. Quero ver se tem conteúdo.
Elas entram na água fria. Um choque no corpo e, estranhamente, um alívio.
O clima muda.
Luna deita numa pedra submersa, cabelos molhados grudando no rosto.
Isadora senta ao lado, os joelhos junto ao peito.
Por alguns minutos... silêncio.
Até Luna falar, com uma voz mais baixa do que o normal:
— Sabia que eu cresci em Pindaré-Mirim? Interior do Maranhão. Sem asfalto, sem sinal de celular... Mas tinha rio, manga no pé e céu de verdade.
Isadora a encara, surpresa.
— Interior de Minas. São João do Pacuí. Sete mil habitantes e cinquenta igrejas. A única coisa que unia o povo era a rádio local e as fofocas na mercearia.
Luna ri.
— E agora a gente aqui, fingindo que tá se apaixonando.
— A gente tá fingindo? — pergunta Isadora, mas é mais para si mesma.
Elas se encaram.
E por um segundo, não tem provocação.
Não tem briga.
Só um eco da infância, da simplicidade que ambas deixaram para trás.
A câmera lá em cima grava tudo.
Mas naquele momento, pela primeira vez, elas não estão a interpretar.
A água ainda escorria pelos corpos quando Isadora olhou o relógio à prova d’água no pulso.
— Já deu. Vamos voltar antes que a produção precise vir resgatar a Barbie perdida no mato.
— Eu sou uma Barbie com GPS — rebateu Luna, levantando devagar, cabelos grudando na pele molhada. — E, sinceramente, o único perigo aqui... é você.
Isadora ignorou a provocação. Puxou a toalha da mochila, entregou uma para Luna, virou-se para começar a trilha de volta.
— Anda logo, princesa. Se cair, a floresta não tem passarela pra você desfilar.
— Pode deixar, Rainha dos Espinhos. Estou indo.
Elas começaram a subir a trilha de pedras escorregadias, os pés molhados deixando marcas no chão. O cansaço pesava nos músculos, mas nenhuma das duas admitiria.
Foi numa curva, entre uma raiz e uma pedra torta, que Luna escorregou.
— Merda!
O grito saiu alto.
Isadora virou rápido e a segurou pelo braço no reflexo. Os corpos se chocaram.
Luna escorava-se nela com força.
As mãos de Isadora em sua cintura.
Os rostos... muito próximos.
As respirações pesadas.
Os olhos se prenderam.
Por um segundo — um segundo real — o tempo congelou.
A boca de Luna fica a centímetros da de Isadora.
O susto ainda no peito.
O desejo? Talvez. Mas nunca admitido.
Isa foi a primeira a quebrar.
Soltou Luna, rápida, colocando-a de pé como se o toque tivesse queimado.
— Cuidado, porra. Vai quebrar o tornozelo e me fazer carregar você serra abaixo.
— A culpa é sua! — rebateu Luna, ainda com o coração acelerado. — Me trouxe pra essa trilha infernal, de propósito!
— Eu te segurei, Luna. Queria que eu deixasse você cair e ralasse esse joelho de comercial de hidratante?
— Eu preferia o tombo do que esse sermão.
— Ótimo. Na próxima, eu deixo você rolar pela mata. Talvez assim você cale a boca por dois minutos.
— E você, talvez aprenda a relaxar e não agir como se tivesse um diploma de superioridade no bolso!
— Relaxar?! Eu tô carregando o peso da sua birra desde que esse programa começou!
As palavras saíam como balas. A tensão entre elas voltava a se incendiar, alimentada pelo susto, pela proximidade, pela quase... qualquer coisa.
Luna ajeitou o cabelo molhado com raiva. Isadora ajeitou a mochila com um suspiro exasperado.
Elas voltaram a andar. Separadas por dois passos e dezenas de farpas silenciosas.
Mas nenhuma das duas conseguia parar de pensar naquele quase-beijo.
Ou no que ele teria sido... se alguém tivesse cedido.
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Atualizado até capítulo 53
Comments
💜🦋 Fuyuki 🐺💛
Amo quando uma chama a outra de princesa como provocação
2025-07-07
1
💜🦋 Fuyuki 🐺💛
O tipo de passeio que eu amaria e não iria querer voltar pra casa
2025-07-07
2
Leslie
Isadora arrasou na vingança kkkkkk
2025-07-07
0