Capítulo 4 — Reputações, Beijos (de Mentira) e Um Café Muito Derramado

O campus nunca foi exatamente calmo — mas naquela manhã, parecia que alguém tinha soltado uma bomba no grupo de fofocas da faculdade.

E o nome da bomba era: Nick Moreau está namorando. Um cara. Um barista. Um fofo. Um… Lian.

...

Na cafeteria, tudo parecia normal. Até Lian entrar com Nick.

Não atrás dele.

Ao lado dele.

Mais que isso — Nick segurava a mochila de Lian no ombro, casualmente. Como se fosse a coisa mais natural do mundo. Como se não fosse o mesmo Nick que vivia chamando Lian de “Potter” e implicando com os óculos dele.

As pessoas pararam de mastigar. Uma menina deixou cair a colher no iogurte. Um cara tirou o fone com tanta força que o fio arrebentou.

Lian foi direto pro balcão, fingindo que não notava os olhares. Nick… parecia se divertir.

— Estão todos olhando — Lian sussurrou, sem encarar.

— É que somos lindos juntos.

— Eu te odeio.

— Mas beija bem — Nick respondeu, sorrindo.

Lian teve que fingir que tossia pra esconder o riso. Ou o nervoso.

...

Na fila, Rafael — melhor amigo de Lian e rei das fofocas não-oficiais — estava paralisado, segurando um café que claramente não era pra ele, porque ele nem gostava de cappuccino. Era só o primeiro copo que encontrou ao ver a cena.

— Eu vou desmaiar. — Ele declarou, encarando Cael do lado. — Aquilo… aquilo é real?

Cael, que normalmente era o mais cético, também estava chocado.

— Ou a Matrix quebrou… ou alguém tá pagando muito bem esse namoro fake.

— Você acha que é fake?

— Rafael, é o Nick. Ele tem mais pose que sentimento. E o Lian mal conseguia olhar pra cara dele sem querer jogar espuma de leite na testa do garoto. Isso tem cara de teatro.

Rafael analisou. E teve uma ideia. Daquelas perigosas.

— Se é teatro… eu vou descobrir nos bastidores.

...

Mais tarde, na biblioteca, Nick e Lian estudavam (ou fingiam estudar). Nick tava claramente só desenhando coraçõezinhos no canto do caderno de Lian, e Lian tentava não socar a mesa a cada 5 minutos.

Rafael apareceu. E sentou do lado deles, com aquele sorriso de “eu sei de tudo”.

— Que surpresa ver vocês dois… tão grudados. Vocês sempre foram assim?

Nick sorriu, debochado.

— Claro. A gente só escondia bem.

— Hum. Que curioso. E quando foi o primeiro beijo?

Lian hesitou. Nick respondeu por ele.

— Quarta passada. Corredor do prédio de Artes. Tinha cheiro de tinta e perfume de lavanda.

Rafael arregalou os olhos. Nick tinha detalhes.

— Lavanda? — Lian murmurou. — Isso é real ou você leu isso num livro da sua mãe?

Nick piscou. — Os dois.

Rafael, agora genuinamente confuso, cruzou os braços.

— Então… vocês estão mesmo juntos? Tipo… juntos juntos?

Lian respirou fundo. A verdade dançava na ponta da língua. Mas aí Nick segurou a mão dele embaixo da mesa.

Não apertou. Só encostou.

Como se dissesse: “Calma. Finge. Só mais um pouco.”

Lian olhou pra Rafael e respondeu:

— Estamos.

Rafael ficou em silêncio. Depois sorriu.

— Ok. Eu apoio. Mas se ele te magoar, eu escondo o corpo.

Nick assentiu, como quem aceita o destino.

— Justo.

...

Depois que Rafael saiu, Lian olhou pra Nick.

— Você decorou a história do primeiro beijo. Com detalhes. Lavanda?

Nick deu de ombros.

— Eu… imaginei. Achei que precisava parecer verdadeiro.

— Você é assustadoramente bom nisso.

— Ou só tenho muita prática fingindo que não gosto de você.

Silêncio.

Lian o encarou. Por um segundo, esqueceu que era fingimento.

E então Nick sorriu.

— Relaxa. Ainda odeio seus óculos.

— Ainda quero te bater com meu caderno de croquis.

— Perfeito. A química tá viva.

E com isso, eles voltaram a fingir que estudavam.

Mas a tensão? Essa não era fingimento.

•••

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