“O Dia em que a Luz se Apagou”
Kael voltava com o peito leve.
O sol já se punha quando ele atravessava os vales, os dedos apertando com carinho a pequena caixinha no bolso.
Dentro, a aliança.
Simples, discreta.
Feita por mãos humanas, mas carregada de um símbolo ancestral.
Um elo. Um juramento.
Aquela seria a marca invisível do compromisso com Ravena, sua loba. Sua fêmea. Sua vida.
E ele ainda trazia enfeites pro berço…
Estava animado como nunca, imaginando o sorriso da pequena Maysa, o brilho orgulhoso nos olhos da sua companheira.
Mas quando se aproximou da cabana, o ar mudou.
Não havia o cheiro da sua família.
Só rastros estranhos.
Muitos.
O rosnado veio sem ele perceber.
Seco. Mortal.
Ele correu.
Rápido como um raio atravessando a tempestade.
A cabana estava vazia.
Destruída por dentro.
O mundo girou. O estômago virou pedra.
Ele seguiu o cheiro.
As árvores se abriram até chegar numa clareira.
E ali… o inferno.
Ravena, caída de joelhos, amarrada com cordas brutas no pescoço, os cabelos grudados de sangue e terra, o corpo coberto de feridas.
Ela havia lutado até o fim.
Sozinha.
E Maysa…
Nos braços de um Alfa.
Pequena. Tremendo. Chorando.
E Kael viu.
O desprezo no olhar daquele maldito ao segurar sua filha como se fosse lixo.
Como se ela fosse... algo a ser descartado.
O grito de Kael rasgou o céu.
Não foi humano.
Não foi vampiro.
Foi de um pai.
Ele avançou.
Com fúria, com desespero, com amor.
Mas eram muitos.
Muitos Lycans.
Caíram sobre ele como sombras famintas.
Tentou alcançar Ravena.
Tentou tocar sua filha.
Mas braços o seguraram, presas o rasgaram, força bruta o jogou ao chão.
Ravena chorava.
“Me perdoa... Kael... eu tentei...”
As palavras saíam quebradas, como vidro nas costas nuas.
Ele gritava por ela.
Por Maysa.
E dentro dele… algo morria.
O príncipe se partia.
O pai gritava.
O monstro despertava.
As garras dele coçavam.
Ele jurava que ia arrancar a cabeça daquele Alfa.
Juro de sangue.
Juro de morte.
“O Preço do Sangue e da Honra”
A clareira estava silenciosa, como se o próprio vento tivesse medo de respirar.
O Alfa Thorgan, imponente em sua arrogância, andava em círculos diante da Ravena ajoelhada, sua voz um corte a cada palavra.
— Como pôde? Uma Lycan de linhagem pura se deitar com um sugador de sangue? E ainda gerar... isso? — cuspiu olhando pra Maysa, como se o choro da criança sujasse o chão sagrado sob seus pés.
— Você é uma vergonha. Uma puta com o cio fácil. E ele... — olhou Kael com desprezo — um verme de capa nobre.
Kael se debatia, olhos em chamas, os caninos expostos.
Ele queria sangue.
Queria rasgar aquele desgraçado em dois.
Mas antes que desse o comando final, um dos guerreiros, um Lycan mais velho, se adiantou.
A voz dele saiu firme, mas cheia de tensão:
— Alfa… não podemos matá-lo.
— Por que não?! — Thorgan rosnou, os olhos quase dourados de fúria.
— Ele é um príncipe. Se o matarmos... o tratado será quebrado. O Rei Lycan terá que dar satisfações. E os vampiros... eles vão vir. A guerra vai começar.
— E daí?! — o alfa urrou, os olhos ardendo — Você acha que já não estamos em guerra?
Mas no fundo, ele sabia.
O rei jamais perdoaria uma afronta tão estúpida.
Matar um príncipe significava selar o destino de seu próprio território.
Ele rangeu os dentes, engolindo o orgulho.
Mas não desistiu da crueldade.
Caminhou até Kael, o encarou com repulsa e cuspiu no chão.
— Muito bem… já que não posso matar você…
Fez uma pausa, cruel. Um brilho perverso nos olhos.
— ...então vou te dar uma lição, princípezinho. Uma que vai te marcar mais do que qualquer garra.
Ravena gritou, se debatendo nas amarras.
Maysa chorava desesperada, os bracinhos tentando alcançar o pai.
Kael rugia, os olhos pulsando vermelho, fúria pura — impotente.
O plano de Thorgan ainda estava para ser revelado.
Mas todos ali sentiram:
não haveria misericórdia.
Só dor.
E vingança no horizonte.
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Atualizado até capítulo 62
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