Tudo bem, eu entendo. Mas tô aqui, tá?”
Ela leu o bilhete umas dez vezes antes de jogá-lo no lixo. Mas era tarde. As palavras tinham grudado nela como chuva fria em pele quente.
No sábado à tarde, Vanessa a chamou para uma visita rápida. Disse que queria companhia, que Diego ia chegar mais tarde, e que fazia tempo que as duas não se viam.
Julie, relutante, aceitou.
Ao chegar, percebeu logo o problema: Caleb também estava lá.
Sentado na varanda, cerveja na mão, camiseta preta justa, pernas esticadas, cabeça encostada na parede como quem já sabia que ela viria.
— Oi — disse ele, sem pressa, quando ela passou pela porta.
Julie hesitou, mas forçou um sorriso educado. — Oi.
Vanessa fingiu que não percebeu a tensão entre eles, mas seus olhos curiosos diziam o contrário.
— Fiz bolo de cenoura — disse ela, animada demais. — E vocês dois vão comer, sem desculpas.
Julie se sentou no sofá da sala, longe de Caleb. Ele ficou do lado de fora, em silêncio, tomando sua cerveja devagar. Mas ela sentia o peso do olhar dele, mesmo que não o encarasse.
A conversa entre ela e Vanessa foi leve, cheia de pausas. Mas o coração de Julie batia acelerado, como se estivesse fugindo de algo. Ou correndo em direção a alguém que ela não queria admitir.
Depois de um tempo, Vanessa foi atender uma ligação, e Julie se viu sozinha na sala… com Caleb parado na porta, olhando pra ela com um misto de paciência e frustração.
— Vai me evitar por quanto tempo? — ele perguntou, sem rodeios.
Julie mordeu o lábio inferior, se sentindo pressionada contra a própria consciência.
— Não tô te evitando.
— Julie… — ele deu um passo pra dentro, a voz mais firme. — Eu conheço você melhor do que ninguém. Tá fugindo.
Ela se levantou, os olhos brilhando de tensão.
— Eu não sei o que a gente tá fazendo, Caleb. Eu tô confusa, perdida. E se isso… for só carência? Culpa? Você era o melhor amigo do Ramon…
Ele se aproximou, devagar.
— E você era a mulher da vida dele. Mas ele se foi, Julie. E a gente ficou. Com essa saudade, com esse vazio. E eu não sei explicar… mas toda vez que eu olho pra você, eu sinto como se… como se eu estivesse voltando a respirar.
As palavras dele atravessaram a armadura dela como um raio.
Ela piscou, tentando conter a emoção.
— Eu não sei se consigo…
Caleb parou a poucos centímetros dela.
— Não precisa saber agora. Só… para de fugir.
O silêncio entre os dois se encheu de tudo que ainda não tinha sido dito. O desejo, a dor, a culpa, a vontade.
E no fundo, Julie sabia: ela podia continuar fugindo… mas uma hora, ia ter que parar. E quando parasse… ou se entregava por inteiro, ou se quebrava de vez.
A semana passou mais devagar do que qualquer outra desde a morte de Ramon. Cada dia parecia uma eternidade, e o tempo tinha deixado de ser um consolo. Julie estava exausta de lutar contra os próprios sentimentos. A culpa ainda morava nela, sim. Mas também havia algo novo… ou talvez sempre estivesse ali, escondido atrás da dor.
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Atualizado até capítulo 40
Comments
Foquita Retrasada
Hey autora, não nos deixe na curiosidade! Atualiza logo! 😩
2025-06-27
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