O relógio marcava 19h42 quando Lívia desceu do carro de aplicativo e ficou parada em frente ao prédio luxuoso no bairro nobre da cidade. Não era um restaurante comum. Na verdade, não parecia um restaurante nenhum pouco. Era um edifício elegante, com fachada envidraçada e iluminação suave, discreta. Uma portaria com recepcionista uniformizada e um saguão que mais parecia um hotel cinco estrelas.
Ela engoliu em seco.
— Boa noite — disse o recepcionista ao vê-la. — Senhorita Lívia?
Ela assentiu.
— O senhor Monteiro a aguarda no 21º andar. Elevador à sua esquerda.
As portas do elevador se fecharam, e com elas, Lívia sentiu a realidade se dissolver. Era como entrar em outra dimensão. Uma onde o acaso deixava de ser um acidente e começava a se parecer com um destino traçado.
Ela usava um vestido preto de tecido leve, justo na medida certa, de alças finas e costas nuas. Nos pés, uma sandália de salto baixo. Nada chamativo, mas sensual. Sem exageros. Como ela.
Ao chegar ao 21º andar, as portas se abriram para um único corredor. No fim dele, uma porta de vidro já entreaberta. E lá estava ele.
Cael.
De terno azul-marinho impecável, sem gravata, camisa com dois botões abertos, e aquele olhar cinza que fazia tudo ao redor parecer perder o foco. Ele a observava como se ela fosse um segredo antigo finalmente desvendado.
— Boa noite — disse ele, com a voz baixa e firme.
— Boa noite — respondeu ela, tentando manter a calma mesmo com o coração acelerado.
— Você está linda.
— Obrigada. Você também... parece ter saído de um filme.
Ele riu de leve, e então estendeu a mão para ela. Quando os dedos se tocaram, Lívia sentiu aquele arrepio de novo — aquele que nascia no centro do peito e se espalhava pelos braços, aquecendo tudo por dentro.
Cael a conduziu até uma mesa posta na varanda do apartamento. A vista era simplesmente de tirar o fôlego: a cidade iluminada embaixo deles, como um mar de estrelas artificiais. Uma brisa suave circulava pelo espaço, trazendo o perfume das flores que enfeitavam o ambiente.
— Preparei algo mais reservado. Nada de garçons entrando e saindo, nem distrações.
— Você mesmo cozinhou?
Ele sorriu.
— Mandei preparar. Mas montei a mesa. E escolhi o vinho.
Ela se sentou, admirando cada detalhe: guardanapos de linho, taças finas, velas flutuando em potes de vidro. Tudo delicado, íntimo. Nada exagerado. Era o tipo de ambiente que ela jamais imaginaria para o CEO de uma das maiores empresas do país. Mas ali estava ele, servindo-a com cuidado, atento, como se não houvesse mais ninguém no mundo.
— É difícil imaginar você em um ambiente tão... pessoal — disse ela, após o primeiro gole do vinho tinto encorpado.
— Por quê?
— Você parece... distante. Racional demais. Frio, talvez.
Ele apoiou os cotovelos na mesa e a olhou nos olhos.
— E você parece alguém que esconde a própria sensibilidade atrás de uma armadura de força.
Lívia riu, balançando a cabeça.
— Você tem o hábito irritante de acertar.
— Não é irritante quando alguém finalmente te enxerga, Lívia.
Silêncio. Mas um silêncio bom. Daqueles que unem.
Enquanto jantavam, a conversa fluiu com naturalidade. Cael falava pouco, mas ouvia com intensidade. Cada vez que ela contava algo — da infância no interior, da faculdade, dos sonhos interrompidos — ele absorvia como se fossem capítulos de um livro que esperava a vida inteira para ler.
Ela também queria saber mais sobre ele.
Descobriu que Cael era filho único, criado por um pai ausente e uma mãe rígida. Que começara a trabalhar cedo, por conta própria, por orgulho. E que nunca se permitiu amar ninguém de verdade — por medo de perder o controle que passou a vida inteira tentando manter.
— E por que me procurou? — ela perguntou, em determinado momento, olhando-o por cima da borda da taça.
Ele se aproximou mais, com os olhos cravados nela.
— Porque desde que você saiu da minha vista naquela noite, algo dentro de mim ficou em silêncio. Como se faltasse uma parte do som.
Aquela resposta — simples e poética — desmontou a racionalidade de Lívia. Ela sentiu as pernas formigarem, e pela primeira vez, não tentou fugir daquilo. Não tentou racionalizar. Não tentou frear.
Ela simplesmente sentiu.

Depois da sobremesa, ficaram em pé, encostados no parapeito da varanda. Cael se aproximou, muito devagar. Lívia virou o rosto para ele. O momento era inevitável.
Mas, como se algo em seu olhar pedisse permissão, ele esperou.
— Posso? — sussurrou.
Lívia apenas assentiu.
O beijo foi suave no começo. Quente. Lento. Exploratório. Como se ambos ainda estivessem se redescobrindo. A mão dele pousou em sua cintura, firme, e a outra tocou sua nuca com delicadeza. Os lábios se encaixaram com naturalidade, mas o que explodiu entre eles não era nada comum.
Era desejo, sim. Mas também era mais que isso.
Era entrega.
O beijo se aprofundou, se intensificou. Lívia sentiu o corpo se derreter, os joelhos amolecerem, o mundo girar. Não havia mais dúvida, nem receio. Tudo fazia sentido naquele toque. Tudo parecia certo.
Quando se afastaram, ofegantes, os olhos ainda estavam grudados.
— Isso não é normal — ela disse, entre risos nervosos.
— Eu sei. Mas talvez o normal seja superestimado.
Ela sorriu. E pela primeira vez em muito tempo, sentiu-se viva. Realmente viva.

Já passava da meia-noite quando ele a acompanhou até o elevador.
— Posso te ver de novo? — perguntou ele, com a mão entrelaçada à dela.
— Acho que vai ser difícil me impedir — respondeu ela, com um brilho novo no olhar.
Quando as portas se fecharam, Cael permaneceu parado, olhando para o vazio do corredor como quem acabara de ganhar algo que nem sabia que estava procurando.
E Lívia, lá dentro do elevador, encostada na parede espelhada, tocava os próprios lábios ainda marcados por aquele beijo. Algo dentro dela já sabia: a vida não seria mais a mesma.
E o destino... bem, ele mal havia começado a brincar.
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Atualizado até capítulo 55
Comments
MARIA RITA ARAUJO
espera, era meia noite quando ela foi embora e ele deixou ela ir sozinha!?
2025-07-02
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