O salão de festas estava envolto por um brilho suave das luzes penduradas como pequenas estrelas artificiais. Músicas românticas embalavam o ambiente enquanto garçons se movimentavam com bandejas equilibradas entre taças de espumante e canapés delicados.
Lívia observava tudo com certa admiração. O casamento de Renata parecia ter saído de uma revista. Detalhes impecáveis, flores brancas em profusão, cadeiras em madeira clara, e uma pista de dança elegante ao fundo. Era, de fato, lindo.
Mas por mais que o cenário impressionasse, sua atenção não conseguia se manter nos arranjos. Seus olhos teimavam em buscar aquele homem — o mesmo que a observava desde o início da cerimônia. E não demorou para ele surgir novamente, dessa vez mais perto.
Lívia se virou para pegar uma taça na bandeja de um garçom, e ao se virar de volta, deu de cara com o estranho.
— Desculpe... — murmurou ela, surpresa com a proximidade.
Ele apenas sorriu de leve, mas seu olhar parecia atravessar sua alma.
— Não tem por que se desculpar — disse, com uma voz grave, firme e ao mesmo tempo calma. — Eu que deveria me apresentar. Cael.
Lívia demorou um segundo para processar. Apenas retribuiu com um aperto de mão breve, porém inesperadamente firme.
— Muito prazer.
— O prazer é meu, Cael responde sem tirar o olhar do dela.
A maneira como ele fala, fez algo vibrar dentro dela. Aquilo não era apenas um cumprimento social. Era como se cada sílaba fosse escolhida com intenção.
— Você é da família da noiva ou do noivo? — ela perguntou, tentando soar casual.
— Sócio do noivo. Rodrigo e eu temos uma empresa juntos. Mas confesso que não sou muito fã de eventos assim... até hoje.
Ela franziu levemente a testa.
— E o que mudou hoje?
Cael inclinou a cabeça com um meio sorriso.
— Digamos que hoje eu tive bons motivos pra sair de casa.
Lívia mordeu o lábio inferior, tentando conter o rubor que subia por sua pele. O homem não era apenas bonito. Era magnético. Sua presença preenchia o ambiente com uma força difícil de ignorar.
— E você? — ele perguntou. — Amiga da noiva?
— Prima. A gente cresceu juntas. Mesmo quando a vida nos afastou um pouco, sempre mantivemos uma ligação.
Cael assentiu.
— Gosto disso. Laços verdadeiros. São raros hoje em dia.
A conversa, ainda que simples, se desenrolava com fluidez. Não havia esforço, apenas um fluxo natural entre olhares, palavras e sorrisos disfarçados.
— Posso te oferecer uma bebida decente? — ele disse, levantando ligeiramente a taça.
Lívia hesitou por um instante, olhando ao redor em busca de Mariana. A amiga, no entanto, estava do outro lado do salão, rindo com outros convidados.
— Pode — respondeu, enfim. — Desde que não seja champanhe barato.
Ele sorriu, genuíno. Era a primeira vez que ela o via sorrir de verdade. E, por algum motivo, aquele gesto fez seu coração acelerar.
Os dois caminharam juntos até o bar. Cael fez questão de pedir ele mesmo os drinques, trocando algumas palavras com o barman, demonstrando familiaridade com o ambiente. Quando retornou com um coquetel avermelhado, estendeu para ela.
— Morango com hortelã. Sem álcool, caso precise dirigir.
Lívia ergueu uma sobrancelha, surpresa.
— Sem álcool?
— Gosto de observar as pessoas sóbrias. Elas revelam mais do que acham — disse ele, tomando um gole da própria bebida.
Ela riu, divertida.
— E o que acha que descobriu sobre mim até agora?
Cael a olhou demoradamente antes de responder.
— Que você prefere os cantos a estar no centro. Que não confia em elogios baratos, mas retribui quando são sinceros. E que está, de algum jeito, tentando fugir de alguma coisa — talvez de si mesma.
Lívia sentiu a respiração falhar por um segundo. As palavras dele bateram fundo, como se ele tivesse lido algo dentro dela que nem ela mesma sabia que estava lá.
— E você, Cael... — disse com a voz um pouco mais baixa. — De que está fugindo?
Ele demorou mais para responder. Seu olhar ficou mais denso, como se pesasse entre o que dizer e o que calar.
— Do mundo. Do vazio de conexões falsas. E... de mim mesmo, talvez.
O silêncio entre os dois não foi desconfortável. Foi intenso. Elétrico. Como se palavras fossem desnecessárias naquele instante. Eles se encararam, e ali havia mais do que atração física. Havia um reconhecimento silencioso — como se, de alguma forma, suas almas tivessem se esbarrado antes mesmo de seus corpos.
Mais tarde, quando a música tomou conta da pista e os convidados começaram a dançar, Mari finalmente reapareceu, puxando Lívia pelo braço.
— Você sumiu! Tava te procurando... — parou subitamente ao ver Cael. — Ah... agora entendi.
— Mari, esse é o Cael. Cael, essa é minha amiga e colega de apartamento.
— Ah, colega de apartamento? Já gostei. Alguma história boa deve ter. — disse ele, sorrindo com charme para Mari.
Mari sorriu de volta, desconfiada.
— Mantenha suas intenções puras, Cael. Ela é preciosa pra mim — disse, apontando para Lívia.
— Não se preocupe. Eu também não gosto de desperdiçar o que é raro.
Mari se afastou devagar, deixando-os sozinhos novamente.
— Eu gosto dela — disse ele.
— Todos gostam. Ela é meu anjo e meu demônio particular — brincou Lívia, olhando para a pista de dança. — E agora ela vai me fazer dançar com alguém que não quero.
— E se eu for esse alguém?
A pergunta foi direta. Simples. Mas carregada de algo difícil de nomear.
Lívia olhou para ele por alguns segundos. Então estendeu a mão.
— Vamos dançar, senhor Cael.
No centro da pista, a música mudou para uma batida suave, lenta. Os corpos se aproximaram. Ele a envolveu com firmeza, mas sem invadir. Ela pousou as mãos em seus ombros, sentindo o calor dele atravessar o tecido da camisa.
Dançaram em silêncio. O mundo ao redor parecia se dissolver. E pela primeira vez em muito tempo, Lívia não pensou em trabalho, responsabilidades ou no amanhã. Apenas no presente. Na sensação das mãos dele em sua cintura, no cheiro amadeirado que vinha de seu pescoço, na forma como os olhares se grudavam e se recusavam a se desviar.
Se houve palavras naquela dança, elas foram ditas com os olhos. Se houve promessas, foram feitas com o toque.
E quando a música acabou, e eles se afastaram um pouco, Lívia sentiu que algo dentro dela havia mudado. Algo que não sabia nomear. Mas que já havia começado a crescer.
E não havia mais volta.
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Atualizado até capítulo 55
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