A mansão Vitalle jamais estivera tão cheia.
Lustres de cristal lançavam reflexos dourados sobre os salões revestidos de mármore. Havia música ao fundo — um quarteto de cordas discreto — e dezenas de garçons desfilando com taças de vinho tinto e bandejas de iguarias. As famílias da máfia estavam todas ali: homens imponentes, esposas maquiadas como bonecas de porcelana e filhas em seus melhores vestidos, sorrindo como se o mundo fosse um palco.
E naquela noite, era mesmo.
A expectativa pairava como névoa: todas esperavam ser vistas por Giancarlo Vitalle.
Antonella
Segurei firme a barra do meu vestido. roxo, delicado, quase etéreo — escolhido por Valentina, que jurava que era “o único tom que não te apaga completamente, Antonella”.
Bianca desceu a escadaria principal como se fosse la dona do baile. Valentina vinha logo atrás, com passos leves e sorriso cativante. Eu fiquei por último. Como sempre.
Meu coração batia forte. Eu não queria estar ali. A festa, os olhares, as vozes altas — tudo me sufocava. Mas os olhos da minha mãe, firmes e orgulhosos, me diziam que eu precisava cumprir meu papel.
Aos poucos, fui me afastando para perto das colunas laterais do salão, onde a penumbra oferecia algum alívio.
Foi quando senti.
Alguém me observava.
Virei o rosto devagar... e o vi.
Giancarlo
Estava entediado.
As moças passavam diante de mim como peças de uma vitrine: sorriam, se curvavam, ofereciam conversas vazias, elogios ensaiados. Algumas eram lindas, outras confiantes. Mas todas... previsíveis.
— Bianca Rossi — anunciou uma mulher ao meu lado, como se aquilo devesse me impressionar. — Uma das mais cotadas.
Observei. Bonita. Intensa. Sorria com dentes perfeitos, mas havia algo de agressivo em seu olhar.
— E ali, Valentina. Diplomática, elegante. Muito influente entre as esposas dos chefes.
Mais uma vez, olhei... e desviei. Elas queriam demais. Quase suplicavam.
Foi então que meus olhos pousaram nela.
Antonella.
Não dançava. Não sorria. Não se exibia. Estava parada, em silêncio, próxima a uma coluna, como se implorasse para ser esquecida.
Mas não havia como esquecê-la.
O vestido roxo desenhava seu corpo com leveza. Os cabelos estavam presos num coque solto, com algumas mechas escapando como se não tivessem sido domadas. Ela não era uma beleza escancarada. Era... sutil. Frágil. Real.
E, acima de tudo, ela não me olhava como os outros.
Não com medo. Nem desejo.
Apenas... curiosidade cautelosa.
Aproximei-me devagar, sem pressa. Meus passos calculados, como sempre.
Quando parei diante dela, Antonella ergueu os olhos.
Límpidos, firmes, mas não arrogantes.
Pela primeira vez naquela noite, senti algo vibrar por dentro.
— Antonella Rossi — falei, como quem confirma uma descoberta.
Ela hesitou por um instante antes de responder, com a voz doce:
— Senhor Vitalle.
Meu sobrenome nunca soou tão... humano.
Antonella
— Senhor Vitalle.
Foi tudo o que consegui dizer.
Ele estava perto. Alto, impecável em seu terno escuro, com um olhar cortante que me analisava como se tentasse me decifrar. Não parecia um homem acostumado a ouvir “não”. Mas, curiosamente, não me intimidou. Me desconcertou, sim. Mas não me amedrontou.
— Você não dança? — perguntou, sua voz grave.
— Prefiro observar — respondi.
— Observar é uma arte... poucos fazem bem.
Seu olhar baixou discretamente até minhas mãos — firmes, entrelaçadas. Em seguida, voltou aos meus olhos. Quieta, sustentei o olhar. Por fora, calma. Por dentro, caos.
Por alguns segundos, ficamos em silêncio. Mas não foi desconfortável. Foi... denso.
Quando ele se afastou, não disse mais nada. Apenas seguiu entre os convidados. Mas não sem antes lançar um último olhar para mim.
E eu percebi: ele voltaria.
Valentina observava.
Disfarçada entre um grupo de moças que riam alto, ela viu Giancarlo parar diante da irmã mais nova — a invisível — e trocar palavras com ela. Poucas, mas significativas.
Valentina apertou os lábios, pensativa.
Bianca viu.
E não gostou.
Se aproximou rapidamente de Giancarlo minutos depois, oferecendo-lhe um sorriso sedutor.
— Senhor Vitalle — disse, com o mesmo tom de quem já se sentia parte dele. — Posso lhe fazer companhia?
Ele aceitou. Conversaram por alguns minutos, até outra moça o puxar. Ele foi, educado, mas impessoal.
E, de tempos em tempos, olhava para Antonella.
Não importava onde ela estivesse — próxima ao piano, à mesa de doces, ou num canto discreto do jardim.
Seus olhos a buscavam.
Don Alberto Vitalle, ao longe, observava o filho.
Com um copo de uísque na mão e expressão atenta, percebeu rapidamente o padrão. O filho cumprimentava todas, sorria para algumas, falava com outras. Mas olhava só para uma.
Antonella Rossi.
— Interessante — murmurou ao ouvido de Don Enzo, patriarca de outra família.
— A filha mais nova? Pensei que fosse apenas uma sombra das irmãs.
— Talvez seja justamente isso que chama atenção de Giancarlo — disse Don Alberto, com um sorrisinho quase imperceptível. — Uma sombra é difícil de capturar. Mas quando se consegue… torna-se valiosa.
Mais tarde, no fim do baile
A música diminuiu. As despedidas começaram. Os criados recolhiam bandejas vazias. O salão ainda reluzia, mas o encanto da noite começava a se dissolver.
A decisão não foi anunciada.
E isso gerou rumores. Comentários. Tensão.
No carro da família Rossi, antes da partida, Bianca não se conteve. Virou-se para Antonella com um sorriso forçado e um olhar venenoso.
— Você não deve se aproximar de Giancarlo, entendeu? — sussurrou. — Ele não é para você. Ele pertence a outra mulher. Uma que saiba lidar com o poder, não uma ratinha de biblioteca como você.
Antonella engoliu seco, mas não respondeu.
Valentina bufou, impaciente:
— Não comecem. Estamos todos sendo observados.
A mãe delas, Dona Francesca, estava sorridente. O tipo de sorriso que só aparece depois de um bom pressentimento.
— Que noite, não é? — disse, animada. — Antonella, você estava linda. Você chamou atenção. Eu vi!
O pai, Massimo Rossi, falou por fim:
— As minhas filhas não brigarão por um homem. Quem ele escolher, está escolhido. E isso basta.
O carro seguiu em silêncio pelo caminho de paralelepípedos, levando consigo não apenas três irmãs, mas três corações inquietos. Um por ciúme. Um por cálculo. E um... por algo que ainda não sabia dar nome.
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Atualizado até capítulo 49
Comments
Dora Silva
essa Bianca é um perigo 🐍
2025-07-14
1
Celia Aparecida
cobrar personhenta venenosa
2025-07-15
0
Dulce Gama
tadinha de Antonella só a mãe que gosta da filha as outras irmãs vão criticar ela quando ele escolher ela👍👍👍👍👍♥️♥️♥️♥️♥️🎁🎁🎁🎁🎁🌹🌹🌹🌹🌹🌟🌟🌟🌟🌟
2025-06-25
2