A comida chegou em silêncio, empurrada em um carrinho de prata por garçons bem alinhados, com luvas brancas e postura impecável.
Os pratos foram postos diante de Cleia e Nathaniel com a reverência de um ritual. O aroma da carne grelhada, envolta em molhos sofisticados e acompanhada por legumes esculpidos com precisão quase artística, invadiu o ar.
"Como é que se come isso?", murmurou para si mesma, tentando lembrar se garfos diferentes serviam para comidas diferentes ou se isso era só frescura de gente rica.
Ela pegou o talher "mais simpático', mas no segundo garfo, ele escorregou da mão e caiu com um "clang!" sonoro no chão de mármore.
Alguns clientes olharam Com horror. Cleia sorriu com sem-vergonhice e disse, com a carne brilhando diante dela:
— Ah, quer saber? - E pegou o pedaço suculento de carne com as mãos mesmo.
Os clientes nas outras mesas ofegaram em choque.
Uma mulher deixou cair a taça de vinho.
Um garçom parou no meio do passo.
O hostes, que observava de longe, levou a mão à testa como se estivesse tendo uma visão apocalíptica.
Cleia mordeu a carne com gosto, os olhos fechando brevemente enquanto o sabor rico e a textura macia tomavam sua boca. Um som quase de alívio escapou de seus lábios.
— Desculpa, Nathan. - Disse, ainda mastigando, sem a menor cerimônia: — É que não como algo bom há anos.
Anton apenas sorriu, com os olhos marejados de ternura, e assentiu com um gesto calmo.
Ele compreendia. Não havia nada a perdoar.
Mas o momento foi brutalmente interrompido quando a porta do restaurante se abriu.
Entrou um homem que parecia saído de uma propaganda de perfume: alto, de pernas longas, ombros largos, cintura fina, e um rosto que parecia esculpido à mão, olhos verdes, simétrico e preciso, como uma estátua viva.
Ao lado dele, uma mulher mais velha, mas ainda deslumbrante: Cabelos impecavelmente presos, roupas de alta-costura, e uma presença altiva.
Era claramente sua mãe — o mesmo nariz aristocrático e os olhos frios.
Nathaniel levantou a mão com entusiasmo e disse com voz clara e baixa:
— Jonas, te apresento sua noiva.
O som do garfo de Cleia caindo no prato ecoou como um sino de catástrofe.
Ela arregalou os olhos e, num reflexo puro, cuspiu a carne no prato, engasgando de imediato. Tossiu com desespero, bateu no peito, derrubou o copo de água e puxou outro para beber, tudo de maneira desastrada.
O clima mergulhou num silêncio atordoado.
Jonas a olhou como se visse um inseto raro em sua sobremesa.
— Vô, soube que o senhor quase foi atropelado... isso afetou sua cabeça?
O idoso, até então paciente, bateu com força na mesa. O som reverberou pelas paredes como um trovão.
— Sergey, feche o restaurante.
O segurança gigante, com uma simples inclinação de cabeça, começou a escoltar os clientes para fora.
Os murmúrios cessaram.
Os olhares se desviaram.
Em segundos, o luxuoso restaurante estava vazio, restando apenas os Castelier, Cleia... e o silêncio carregado de tensão.
Nathaniel falou com firmeza:
— Ela salvou minha vida. E como gratidão, ela deve se tornar sua esposa.
Cleia ainda tossia, mas conseguiu beber um gole de água e, com os olhos arregalados, disse:
— Desculpa, Nathaniel ... mas eu não tô afim de me casar, não.
O velho apenas respirou fundo, paciente:
— Você salvou minha vida. Eu jamais permitiria que caísse em desgraça morando nas ruas. Eu quero te dar mais do que um jantar.
Mas então um grito histérico cortou o ar como uma navalha:
— Pai! Quer casar meu filho com uma mendiga?! Ele já está esperando Suzan retornar do exterior.
A mãe de Jonas parecia ter perdido completamente o controle. Seu rosto bonito estava contorcido de fúria, como se tivesse visto um sacrilégio.
Cleia, com calma, nem virou o rosto para ela. Apenas falou com naturalidade:
— Com licença, senhora. Antes de falar sobre mim, entenda uma coisa: “mendiga” é quem se ajoelha, implora e se apequena. Eu não mendigo, eu sobrevivo. Moradora de rua não é um rótulo de vergonha, é um retrato de circunstância. A diferença entre mim e a senhora? É que eu sou pobre e luto. A senhora é rica, mas se me julga pelo que visto, talvez seja muito mais miserável do que eu.
Silêncio absoluto.
Nathaniel olhava para Cleia como se estivesse vendo o futuro diante dos olhos.
Com orgulho.
Então, com voz firme e imperativa, ele declarou:
— Ela será sua esposa, Jonas, ou a empresa Castelier nunca será sua. Você já tem idade para se casar. Está na hora de pensar além do espelho. E sobre aquela mulher, nem se dê ao trabalho de pensar nela.
Jonas encarou o avô com um misto de raiva e incredulidade. A mãe parecia prestes a desmaiar.
Cleia, com os olhos arregalados, virou-se lentamente para o idoso:
— Mas espera aí... se eu salvei sua vida, por que eu tenho que aceitar essa “gratidão” casando com esse cara?
Ela apontou para Jonas, depois deu de ombros.
— O certo não seria casar com o senhor?
A frase caiu como uma bomba.
Jonas ficou de boca aberta.
A mãe dele, sem palavras, engasgou no próprio ar.
E Nathan... riu.
Riu alto, uma risada profunda, alegre, escandalosa, como se aquela fosse a melhor piada que ouvira em anos.
E Cleia, ainda lambendo os dedos da carne, ergueu uma sobrancelha e disse:
— Falei alguma besteira?
— Você tem mais coragem do que toda essa família junta. - Disse o idoso ainda rindo: — É por isso que você será uma Castelier. De um jeito ou de outro.
Cleia pegou outro pedaço de carne com as mãos e comeu.
— Eu gosto dela, e será ela. Sem mais a decidir. - Declarou o idoso com a firmeza de quem não admite réplica.
A voz dele ressoou forte no salão silencioso, cortando qualquer tentativa de objeção.
Cleia arregalou os olhos e virou o rosto na direção dele, séria.
— E eu? - Perguntou com firmeza: — Não tenho direito a escolha?
O idoso sorriu para ela, não de forma arrogante, mas como um avô paciente explicando algo importante a uma neta inquieta.
— Comida todos os dias, uma casa quente e sua dignidade devolvida... o que acha?
Ela negou com a cabeça, apertando os lábios. Aquilo era uma tentativa de convencê-la com promessas que ela sabia bem o valor: conforto.
E ela conhecia o peso disso. Mas ainda assim, não era um preço leve.
Jonas, de braços cruzados e um sorriso debochado no canto da boca, falou:
— Concordo com essa mendiga. Finalmente uma coisa sensata.
Cleia imediatamente girou a cabeça e o fuzilou com os olhos.
— Eu quem concordo comigo mesma. Desde quando você acha que é digno de mim?
Jonas bufou com desdém, como se a resposta dela fosse risível.
— Uma mendiga como você devia agradecer por um homem como eu apenas direcionar-lhe o olhar.
Cleia soltou uma risada seca e cruzou os braços.
— Certo... vai sonhando. Só tá desesperado pela herança do seu avô.
Naquele instante, o olhar de Jonas escureceu. Os maxilares dele se cerraram e o sorriso desapareceu. A raiva transformou seu rosto num contorno frio e ameaçador.
A mãe dele, ofendida, deu um passo à frente.
— Pai, vai submeter nossa família a essa humilhação pública?! - Ela berrou, perdendo a compostura: — Olha pra ela!
Cleia continuou com a mesma expressão firme, e disse calmamente, olhando para Nathan:
— O círculo de ricos é sempre tão barulhento assim? Olha essa mulher. Não tem nem educação e vive gritando. Tenho pena do senhor.
— Cuidado como fala com minha mãe! - Rosnou Jonas, com a voz gelada, como se estivesse segurando um grito.
Cleia deu de ombros.
— Ela é sua mãe. Não minha. Não vou tratá-la como se fosse.
Anton ria, genuinamente entretido com a cena.
— Já estão se dando bem. Isso é ótimo! - Exclamou: — Ah, minha querida... o que acha de comer bem todos os dias?
Cleia hesitou. Seu estômago roncou levemente, como se zombasse de sua resistência. Ela se lembrou das noites frias em que dormia no papelão. Dos ratos, da chuva, da fome, da comida do lixo que ela limpava antes de engolir com culpa e alívio.
Ela baixou os olhos.
— Eu gosto de comida... - Murmurou: — Mas esse casamento é muito ruim.
— Está decidido. - Afirmou o idoso: — Você salvou minha vida, então essa é a contribuição que eu posso dar. Vamos até o cartório.
— Vô... não me faça passar essa vergonha. - Jonas tentou uma última vez: — Olha pra essa mendiga!
Cleia virou-se para ele lentamente, sem alterar a postura nem a voz.
— Já que você insiste em repetir isso, vamos deixar algo claro: Você nasceu em berço de ouro e acha que isso te torna superior. Mas quem não consegue ver a alma de alguém por trás das roupas sujas, não passa de um riquinho vazio, com o ego inflado por números herdados.
As palavras atingiram Jonas como um golpe. Seu rosto escureceu, os olhos se tornaram duros como pedra, e o sangue parecia ter subido todo para a cabeça.
Sua mãe, de canto, sussurrou em seu ouvido:
"Deixa seu avô fazer isso...", a voz dela era venenosa. "Basta colocá-la em uma casa e mantê-la lá. Trancada. Como um contrato social. Nada mais."
Jonas não respondeu, mas o olhar de concordância foi suficiente.
Então, silenciosamente, todos saíram rumo ao cartório.
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Atualizado até capítulo 68
Comments
Marilena Yuriko Nishiyama
coitada da Cleia,casar com esse escroto e pelo jeito ela irá sofrer nas mãos dele e também da mãe dele
2025-06-17
1
Celia Aparecida
acho que não hein, mais fácil eles penarem nas mãos dela do que ela nas deles
2025-06-25
1
gata
Começando a ler 07/072025
2025-07-08
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