Capítulo 2 [ Interrogatório com um Suspeito Misterioso ]
Na manhã seguinte, a cidade parecia mais pesada, o céu cinza, inchado, ameaçava desabar, e o trânsito rugia como um animal irritado. Isabel atravessou as portas da delegacia com a cabeça girando, a conversa com Dante na noite anterior não saía da sua mente, nem o estranho calor que o toque dele provocou.
Rua Silvana, à meia-noite, Isabel mal conseguia dormir, parte dela queria escrever aquele encontro como um delírio provocado pelo cansaço, mas uma parte maior dela sentia que o caminho estava só começando. Entrando na sala de interrogatório 3, onde o único suspeito detido próximo à cena do último assassinato aguardava, um homem pálido, com olheiras profundas e um leve tremor nas mãos, acorrentado à mesa de aço.
- Nome completo? — perguntou Isabel, sentando-se à frente dele.
- Danilo Reis, trinta e dois anos, faxineiro na boate Eclipse - respondeu rápido demais.
- O que fazia naquela rua às três da manhã?
- Eu, eu só tava voltando pra casa, o ônibus me deixou longe e acabei cortando caminho.
- E você viu algum corpo?
Danilo hesitou, um músculo em sua mandíbula se contraiu.
- Vi, mas não fui eu! Eu juro! Eu vi de longe, aquela coisa em cima do cara
Isabel estreitou os olhos - Que coisa?
Danilo começou a suar e suas mãos tremiam
- Era como uma sombra, só que com olhos, na verdade três olhos vermelhos, eu sei que parece loucura, mas foi isso que eu vi.
Isabel se recostou na cadeira, isso não estava no primeiro depoimento, alguém o havia instruído a esconder isso antes.
- E por que não contou isso antes?
- Porque eles disseram que se eu falasse, iam vir atrás de mim, eles escutam mesmo quando você acha que está sozinho.
- Eles quem? Seja mais claro
Danilo engoliu em seco, seus olhos estavam arregalados, e Isabel soube naquele momento que ele acreditava em cada palavra que disse, isso com certeza não era teatro, era medo verdadeiro.
- Os olhos no escuro, aqueles que servem a ela, a moça com cabelos de fumaça, a dama da fome.
Isabel congelou por um segundo, aquelas palavras tinham sido parte de um sonho que ela teve há dois dias, ou melhor de um pesadelo. Uma mulher de cabelos que se moviam como fumaça, era coincidência demais.
- Quem te contou essa história ? - ela perguntou em voz baixa.
Danilo começou a balançar a cabeça - Eles não contam apenas sussurram, quando você dorme e fecha os olhos, eu tentei não ouvir, mas ela já sabe meu nome.
- Você usava drogas, Danilo?
- Não! Eu parei faz dois anos, fiz tudo certo, mas mesmo assim ela veio
Antes que Isabel pudesse fazer outra pergunta, a porta da sala se abriu, era o delegado César, com a expressão dura.
- Moura, uma palavra - disse, já se afastando.
Ela lançou um último olhar a Danilo, depois saiu atrás do chefe.
- O que foi isso? - perguntou, irritada - O cara acabou de descrever uma porra de uma entidade sobrenatural.
- Você está indo longe demais Isabel, ele é um viciado com histórico de surtos, não vamos entrar com essa maluquice mística num relatório oficial.
- Então vamos fingir que os símbolos no corpo não existem? Que corpos surgem drenados e ninguém viu nada?
- A mídia já está farejando, e a ultima coisa que precisamos é de histeria coletiva, acaba com esse interrogatório e deixa o cara quieto, foi só um infeliz no lugar errado.
- Você acha isso mesmo?
O delegado a olhou nos olhos - Acho que você anda vendo demais além do necessário, toma cuidado Moura.
Ela voltou para a sala, mas Danilo não disse mais nenhuma palavra, ficou encarando o espelho falso, pálido como cera, quando ela o liberou, ele saiu como um rato que escapa por um buraco na parede - rápido, trêmulo, e certo de que a próxima esquina seria a última.
Naquela noite, Isabel parou diante do portão enferrujado da Rua Silvana, atrás do velho cemitério. O lugar era um pedaço esquecido da cidade, onde os gatos não miavam e os postes não acendiam.
23:58.
O ar estava parado, e ela sentia o peso da cidade nas costas, como se algo a observasse entre os túmulos, aos poucos passos ecoaram atrás dela.
Dante surgiu das sombras como um sussurro materializado, usava uma jaqueta preta e uma expressão que misturava irritação com preocupação.
- Você veio, isso é bom e também ruim.
- Você me mandou vir — respondeu ela, cruzando os braços - Só quero respostas.
- E vai ter, mas não aqui venha comigo.
- Para onde?
- Para onde os vivos não gostam de andar.
Ela hesitou, algo nele a atraía como um campo magnético - perigoso, mas impossível de ignorar.
- E se eu disser não?
Dante sorriu, um brilho dourado nos olhos.
- Você já disse sim ontem, quando me tocou, o laço foi feito Isabel e agora tudo mudou
O mundo girou por um segundo, e no fundo da mente como uma corrente quente que atravessava o peito, ela sentiu.
Ele não estava mentindo, Alguma coisa mudou...
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Atualizado até capítulo 44
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