Aisha não conseguia tirar a frase da cabeça:
"Você me tira do controle, Aisha."
Era fim de tarde. A cidade lá fora começava a ganhar as luzes alaranjadas do pôr do sol. No escritório, ela organizava a papelada da última reunião, revisando documentos com atenção. Fingindo normalidade. Tentando, com todas as forças, ignorar o calor que ainda queimava sob a pele.
Não era só desejo. Era algo mais. Uma atração feroz, que crescia rápido demais. E que começava a invadir fronteiras perigosas.
A porta da sala de Matteo se abriu.
— Aisha — chamou ele, com a voz controlada demais para ser casual. — Venha comigo.
Ela o seguiu. Estava em pé, sem o blazer, com as mangas da camisa dobradas, revelando os antebraços tatuados. As veias saltavam levemente quando ele gesticulava, e por um segundo, ela se pegou observando cada detalhe com uma atenção que beirava o devaneio.
— Temos uma reserva esta noite no "Cielo", aquele restaurante novo da Via Montenapoleone — disse ele enquanto caminhavam juntos pelo corredor. — O chef é um dos nossos novos contratados. Quero avaliar pessoalmente o serviço.
— Claro. Devo preparar uma pasta com dados da concorrência?
— Não. — Ele parou e virou-se para ela, os olhos negros penetrantes. — Hoje, você vai como minha companhia. Não como secretária.
Aisha piscou, surpresa.
— Acha apropriado?
— Não me importo com o que é ou não apropriado, Aisha. Eu sou o dono da empresa. Faço minhas próprias regras.
Ela hesitou. Por um segundo, seu lado racional tentou protestar. Mas havia algo no tom dele... uma firmeza que arrepiava. Não era um pedido. Era um convite com um subtexto que gritava.
Ela assentiu.
— Certo. Vou me trocar e te encontro lá?
— Vou mandar um carro para você às 20h. Quero você lá comigo.
Quando o relógio marcou 20h em ponto, o carro preto estacionou em frente ao prédio simples onde Aisha morava. O motorista abriu a porta para ela, e Matteo, no banco de trás, virou-se lentamente.
Aisha estava deslumbrante.
Vestia um vestido azul petróleo, justo na medida certa, com decote elegante e fenda discreta. O cabelo estava solto, em ondas suaves que emolduravam o rosto. Usava um batom nude e olhos marcados por um delineado sutil, mas fatal.
Matteo não disse nada. Apenas a observou por alguns segundos longos demais.
Ela entrou no carro e sentou-se ao lado dele.
— Espero que não esteja muito exagerado — disse ela, tentando quebrar o gelo.
— Está perfeita — murmurou ele, sem desviar o olhar. — Mais do que perfeita.
Aisha mordeu o lábio inferior, levemente sem graça. O carro seguiu pelas ruas elegantes do centro até chegar ao restaurante, um dos mais luxuosos de Milão.
Eles foram recebidos com tratamento VIP. Matteo cumprimentou o chef, funcionários e investidores presentes com um ar natural de autoridade. Aisha, ao lado dele, era observada com curiosidade. Alguns cochichavam. Outros simplesmente admiravam.
— Estão todos se perguntando quem você é — disse ele, enquanto os menus eram entregues.
— E o que você diz?
— Que é minha convidada. E que ninguém tem nada a ver com isso.
Ela sorriu.
— Então quer dizer que o CEO bilionário resolveu quebrar as próprias regras?
— Com você... estou começando a quebrar várias.
O garçom apareceu, interrompendo o momento com a pergunta sobre vinhos. Matteo escolheu um Brunello di Montalcino, e Aisha percebeu que ele fazia tudo com elegância e controle. Até mesmo beber vinho.
Enquanto o jantar era servido — pratos refinados como ossobuco com risoto de açafrão, e um prato de trufas negras — a conversa fluía com mais naturalidade. Matteo falava sobre negócios, mas aos poucos, o assunto foi migrando para coisas mais pessoais.
— Como foi crescer sem apoio dos seus pais? — perguntou ele, olhando-a com verdadeira curiosidade.
— Duro. Eles sempre disseram que eu não era boa o suficiente. Nunca quis seguir o padrão deles — respondeu ela. — Me chamavam de sonhadora... diziam que ninguém como eu teria um lugar no mundo deles.
— Eles estavam errados.
Aisha o olhou, surpresa.
— Você realmente acha isso?
— Eu sei disso. Você é inteligente, disciplinada, fala quatro idiomas e tem um brilho nos olhos que não se compra. — Ele fez uma pausa. — E, além de tudo isso... é linda.
Ela desviou os olhos, o rosto levemente corado.
— Obrigada, Matteo. Isso... significa mais do que imagina.
Houve um silêncio breve entre eles. E dessa vez, era diferente. Quase terno. Íntimo.
— E você? — perguntou ela, mudando de assunto. — Como foi seu casamento?
O olhar dele escureceu.
Matteo recostou-se na cadeira e respirou fundo antes de responder.
— Frio. Planejado. Sem amor. — Ele tomou um gole do vinho. — Era um acordo de negócios entre famílias. Minha ex-esposa era mimada, arrogante e... cruel com os outros. Eu tentei, mas nunca consegui amar aquela mulher. Depois que ela morreu, não me permiti mais me envolver com ninguém.
Aisha sentiu um aperto no peito. Ele dizia tudo com calma, mas havia dor escondida naquelas palavras.
— Você merecia mais — disse ela, em voz baixa.
Ele inclinou a cabeça, observando-a com intensidade.
— Talvez agora... eu tenha encontrado.
Aisha engoliu em seco. O jantar parecia ter desaparecido. O mundo inteiro parecia suspenso entre eles. Ela sabia que estava prestes a atravessar uma linha — uma linha que não permitia retorno.
— Matteo...
Ele estendeu a mão e tocou levemente a dela sobre a mesa.
— Eu sei que sou seu chefe. Sei que tudo isso pode parecer errado. Mas, Aisha... desde o momento em que entrou naquela sala, eu senti algo. E cada dia que passa, isso só aumenta.
Ela sentiu as palavras reverberarem dentro de si. Era como se o chão tivesse se dissolvido. O universo inteiro se resumia àquela mão quente sobre a sua.
— Eu também senti — admitiu, com a voz embargada.
Ele sorriu. Um sorriso verdadeiro, quase aliviado.
Depois do jantar, Matteo sugeriu que fossem até a cobertura de um dos hotéis do grupo, onde ele costumava relaxar às vezes. Aisha hesitou por um instante, mas acabou aceitando.
O local era deslumbrante: uma varanda com vista para Milão, luzes suaves, sofás confortáveis e uma garrafa de prosecco esperando em um balde de gelo.
Ela sentou-se no sofá, tirando os sapatos com um suspiro.
— Confesso que não esperava tudo isso — disse, olhando a cidade brilhando abaixo.
— Nem eu.
Ele sentou-se ao lado dela, mais perto agora.
— E o que você esperava?
— Esperava te esquecer. Me manter profissional. Fingir que você era só meu chefe.
— E conseguiu?
Ela olhou diretamente para ele.
— Não.
Matteo inclinou-se lentamente, como quem dá tempo para o outro recuar.
Aisha não recuou.
O beijo veio como o rompimento de uma represa. Caloroso, urgente, intenso. Os lábios se encontraram com uma fome contida por dias. As mãos dele deslizaram para a cintura dela, puxando-a para mais perto, enquanto os dedos dela subiam pelo peito firme sob a camisa ainda semiaberta.
O beijo se intensificou.
Ela sentiu o gosto do vinho em sua boca, o perfume em sua pele, a textura da barba contra seu rosto. Tudo nele a queimava. Matteo a pressionou contra o sofá, seus corpos se encaixando como se tivessem sido feitos para isso.
— Aisha... — murmurou ele entre os beijos — você me enlouquece.
Ela sorriu, com os olhos semicerrados.
— Então me deixe te enlouquecer mais.
Mas, antes que qualquer um dos dois cruzasse o limite do impulso, Matteo parou. Respirava forte, olhos escuros e dilatados, mas a mão segurou o rosto dela com delicadeza.
— Eu quero fazer isso direito — disse ele, com a voz rouca. — Você não é uma aventura. Não é uma distração.
Ela ficou em silêncio, o coração batendo tão alto que podia ser ouvido.
— Está me dizendo que...?
— Estou dizendo que não quero apenas uma noite. Quero você na minha vida, Aisha. Quero ver até onde isso pode ir.
Aisha mordeu os lábios, os olhos verdes brilhando.
— Eu também quero.
Matteo puxou-a para um último beijo, agora mais suave. Um beijo que prometia mais. Muito mais.
Mais tarde, quando o carro a deixou em casa, Aisha entrou em seu pequeno apartamento sentindo que o mundo havia mudado. Encostou-se na porta, levou a mão aos lábios e fechou os olhos, revivendo o momento.
Ela sabia que estava entrando em algo profundo. Talvez perigoso. Mas não havia como voltar atrás. Matteo tinha atravessado todas as defesas que ela tentara manter.
E o pior — ou o melhor — era que ela queria isso.
Queria cada segundo.
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Atualizado até capítulo 29
Comments
Dione Lopes
Se jogar, se entrega, e deixa ver o que vai acontecer. Vive o momento .
2025-06-13
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