Aisha desceu do elevador com o coração ainda acelerado. O salto ecoava no mármore claro do hall, cada passo mais lento que o anterior. Quando a porta se fechou atrás dela, ela parou por um instante, encostando-se à parede de vidro. Precisou respirar. Profundo. Longo.
Ela não sabia dizer o que tinha sido aquilo.
Nunca, em toda a sua vida, um olhar a atravessara daquela maneira. Matteo Bianchi não era apenas bonito — ele era avassalador. A presença dele tomava o ar, ocupava cada espaço. Mas não era só o físico que chamava atenção. Era algo nos olhos. Nos silêncios. Um homem que carregava um passado denso, que escondia dor sob camadas de autoridade e controle.
Mas também havia algo mais ali.
Algo que fez a pele dela se arrepiar.
No 34º andar, Matteo não conseguia se concentrar nos relatórios. Leu a mesma frase três vezes antes de desistir, jogando a caneta sobre a mesa. Estava incomodado. Ele, que sempre tomava decisões com frieza e estratégia, agora se via distraído pela lembrança de um sorriso.
Pegou o telefone.
— Gianna — disse à assistente —, mande preparar os papéis de contratação para Aisha Moretti.
— Tem certeza, senhor? Ainda temos outras entrevistas marcadas para...
— Cancele.
O silêncio do outro lado durou dois segundos.
— Claro. Vou providenciar imediatamente.
Desligou.
Não sabia exatamente por que tomava aquela decisão tão rápida. Apenas... sabia que precisava tê-la por perto. Mesmo que isso significasse desafiar a regra que ele mesmo impusera: nunca misture o pessoal com o profissional.
Mas alguma coisa lhe dizia que, com Aisha, não haveria escolha. Ela já estava misturada em seus pensamentos desde o primeiro olhar.
Na manhã seguinte, Aisha recebeu a ligação de Gianna enquanto tomava café com Mirella.
— Você foi contratada — anunciou gianna, sorrindo empolgada. — Sabia que ia conseguir, Aisha!
Aisha ficou em silêncio por um segundo, atônita. Depois, abriu um sorriso genuíno.
— Contratada? Mesmo?
— Sim! Começa na segunda-feira. E sabe o que mais? O próprio Matteo mandou cancelar todas as outras entrevistas. Você foi a única.
Mirella levantou a sobrancelha, suspeitando.
— Isso é estranho.
— Por quê?
— Porque o Matteo Bianchi não é conhecido por tomar decisões impulsivas. Dizem que ele leva dias analisando uma contratação. E você saiu da entrevista ontem, já foi chamada hoje, e... — ela estalou os dedos — puff, cancelaram o resto.
Aisha mordeu o lábio inferior, pensativa. Não queria admitir, mas também havia sentido algo estranho durante a entrevista. Algo que ainda latejava por dentro.
— Talvez ele tenha gostado do meu perfil profissional.
Mirella gargalhou.
— Ou talvez ele tenha gostado do seu perfil inteiro, amiga.
Aisha a empurrou de leve, rindo também, mas no fundo... sabia que não era só brincadeira.
Na segunda-feira, Aisha chegou quinze minutos mais cedo. Sempre gostou de começar bem. Estava impecável, com um conjunto nude elegante, salto médio e cabelos presos em um rabo de cavalo baixo. Queria transmitir profissionalismo. Precisava provar que era capaz. Não apenas por ela, mas pela tia que sempre acreditou nela — e pelos pais que sempre disseram que ela jamais chegaria a lugar algum.
Ao entrar no andar executivo, foi recebida por Gianna, uma mulher eficiente, de sorriso educado e olhos atentos.
— O senhor Bianchi está em reunião agora, mas pediu que você aguardasse na sala dele. Ele quer apresentar pessoalmente os próximos passos.
Aisha assentiu. Foi guiada até a sala que já conhecia da entrevista. Ao entrar, o cheiro amadeirado o atingiu de novo. Fechou os olhos por um segundo, absorvendo o ambiente.
Tudo ali era Matteo.
Sóbrio, elegante, minimalista e poderoso.
Caminhou até a mesa, sentou-se na cadeira à frente da dele e cruzou as pernas. Estava nervosa, mas respirava fundo para não demonstrar.
Dez minutos depois, a porta se abriu. Ela se levantou imediatamente.
Matteo entrou com um leve sorriso no canto dos lábios.
— Senhorita Moretti — disse, a voz tão grave quanto ela lembrava —, seja bem-vinda oficialmente ao Bianchi Group.
— Obrigada pela oportunidade, senhor Bianchi.
— Matteo — corrigiu ele, calmamente. — Aqui dentro, todos me chamam de Matteo. Não gosto de formalidades excessivas com minha equipe direta.
Aisha hesitou. Dizer o nome dele parecia íntimo demais. Mas assentiu.
— Claro, Matteo.
Ele caminhou até sua cadeira e se sentou, os olhos escuros pousando nela com mais intensidade do que um chefe normalmente faria.
— Preparei um treinamento com algumas tarefas da rotina, mas quero que você vá conhecendo tudo aos poucos. Terá acesso direto à minha agenda e compromissos. E... — ele fez uma pausa, inclinando-se ligeiramente para a frente — confio que saberá manter discrição em tudo o que envolve meu dia a dia.
— Sou extremamente discreta e profissional — respondeu ela com firmeza. — Pode confiar.
Ele sorriu de leve. Era raro. E aquilo o tornava perigosamente encantador.
— Foi isso que me fez contratá-la.
Aisha não soube o que responder. Havia um subtexto ali. Algo no tom da voz dele, na maneira como a encarava, como se cada palavra tivesse um segundo significado oculto.
Ela desviou o olhar por um instante. Precisava manter o foco. Não podia se deixar abalar por aquele homem, mesmo que ele fosse a personificação do desejo reprimido.
— Começamos hoje mesmo — disse ele. — Gianna vai te entregar os acessos e te conduzir pelas áreas. À tarde, teremos uma reunião com os diretores. Quero que participe. Quero ver como você se sai em ambientes de pressão.
— Sim, senhor — ela disse automaticamente. Depois, corrigiu: — Sim, Matteo.
Ele inclinou a cabeça levemente, satisfeito.
— Até mais tarde, Aisha.
Quando ela saiu da sala, o coração martelava no peito. Nunca fora tão afetada por uma simples troca de palavras. Nunca sentiu aquele calor no estômago, aquela eletricidade nas veias. Algo estava acontecendo. Algo maior do que ela queria admitir.
Na reunião da tarde, Matteo a apresentou de forma breve, mas o suficiente para que todos notassem o tom especial em sua voz.
— Esta é Aisha Moretti, minha nova secretária executiva. Direta, discreta, muito competente. Confio nela plenamente.
Os olhares sobre Aisha foram diversos: curiosos, surpresos, alguns julgadores. Ela manteve a postura. Anotou cada detalhe da reunião com precisão, absorvendo tudo o que podia.
Matteo observava. E gostava do que via.
Quando um dos diretores, Marco, se inclinou para conversar com Aisha durante uma pausa, Matteo franziu o cenho. Viu o sorriso dele, viu Aisha responder com educação... e sentiu uma fisgada no peito.
Ciúmes?
Ele se recostou na cadeira, os olhos escurecendo.
Isso não podia estar acontecendo.
Ele não era um homem ciumento. Não se envolvia com funcionárias. Mas alguma coisa dentro dele se acendeu quando viu outro homem tentando conquistar o sorriso que ele já sentia ser dele por direito.
A reunião terminou. Matteo não disse nada. Mas seu silêncio falava alto.
E Aisha percebeu.
No fim do expediente, ela bateu na porta da sala dele.
— Posso?
— Entre.
Ela entrou com passos cuidadosos.
— Só queria agradecer por hoje. Aprendi muito, e... — hesitou — espero não ter decepcionado.
Ele a encarou por alguns segundos longos. Depois, disse:
— Você foi excelente. Mas...
Ela franziu o cenho, esperando.
— Apenas tome cuidado com alguns homens desta empresa. Nem todos são confiáveis.
Aisha entendeu.
Sorriu de leve, os olhos fixos nos dele.
— Pode deixar. Sei me defender.
E saiu, deixando um leve perfume floral no ar e um CEO cada vez mais intrigado.
Matteo recostou-se na cadeira, passou a mão pela barba e murmurou sozinho:
— Você vai me dar trabalho, Aisha Moretti.
Mas, estranhamente... ele estava começando a gostar da ideia.
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Atualizado até capítulo 29
Comments
Hyuuga 💜
já tá começando a ficar com ciúmes, hahahahah amo muito
2025-06-13
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Guiomar Morais
Já apaixonado
2025-06-12
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