Império de Jiànlóng – Dia de Mercado Real
A manhã amanheceu quente e dourada sobre a Cidade Imperial, mas Xu Lian — ou melhor, Helena — não tinha tempo para discursos do príncipe herdeiro, muito menos para bajulações da corte.
> “Cerimônia de reconhecimento da nova favorita? Passo,” ela disse, já descendo as escadarias do palácio como um vendaval envolto em seda.
Dois criados correram atrás dela, tentando acompanhar o ritmo.
> “Ministra, seu convite—” “Engavetem. Hoje, eu tenho prioridades reais: roupas. Vida nova exige estilo à altura.”
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Mercado dos Nobres – Distrito Sul
Xu Lian caminhava entre os pavilhões cheios de tecidos raros, joias encantadas, sandálias de fênix e capas que mudavam de cor com o humor. Tudo era novo, vibrante, vivo — o oposto da cortesã desesperada que ela tinha sido nos capítulos do livro.
Helena passava os olhos nos tecidos como quem avalia armas.
> “Esse azul não me respeita. Próximo.”
“Muito princesa do clã da água. Eu quero parecer perigosa, não pura.”
“Esse sim,” ela disse, pegando um robe preto com detalhes escarlates. “Cheira a poder e má reputação.”
As atendentes sorriam com reverência. Nunca tinham visto Xu Lian tão… viva.
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Palácio Xu – Noite
Os pais a esperavam no salão. O pai, General Xu Shan, homem sério, veterano de guerras, observava a filha com olhos atentos. A mãe, Lady Mei, mulher doce e firme, sempre teve um orgulho feroz da filha — mesmo quando o império inteiro a chamava de “a vilã obcecada”.
Hoje, porém, ambos notaram algo diferente.
> “Lian?” a mãe perguntou, com cuidado. “Você... está diferente.”
Ela largou as sacolas, cheias de roupas novas, e se jogou num divã como se estivesse em casa — pela primeira vez, talvez, se sentindo exatamente ali.
> “Talvez eu tenha acordado,” ela disse. “Percebi que correr atrás de quem não me quer é o maior desperdício de poder que existe.”
O pai não falou nada, apenas tomou um gole de chá, e sorriu discretamente.
A mãe também.
Eles não sabiam exatamente o que havia mudado — só que era bom. A filha não parecia mais quebrada. Parecia afiada.
> “De qualquer forma,” Xu Lian completou, erguendo uma taça de vinho, “daqui pra frente, o império vai se acostumar com uma nova versão minha.”
No canto da sala, o irmão mais novo, Xu Ren, sempre observador, murmurou para si:
> “A vilã virou protagonista. Isso vai ser interessante.”
Palácio Imperial – Sala do Dragão Celestial
O pedido de audiência de Ministra Xu Lian causou um burburinho imediato. Era raro alguém solicitar presença direta com o imperador sem passar por três camadas de burocracia. Mais raro ainda era ela — a mulher que por anos foi sombra do príncipe herdeiro — agora sumida das cerimônias, pedir tal coisa... com urgência.
Quando o príncipe Liang soube, ele sorriu.
> “Finalmente entendeu. Vai pedir ao meu pai a benção para o casamento.”
Ele ajeitou o manto cerimonial, confiando no que sempre acreditou: que ela girava em torno dele.
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Trono Imperial – Audiência Oficial
O grande salão estava lotado. Nobres, conselheiros, generais, sacerdotes. Xu Lian entrou com um robe preto bordado com serpentes de ouro e o cabelo preso em uma coroa sutil de rubis. A postura era nobre, mas o olhar... gelado.
O príncipe estava à esquerda do trono, altivo. Quando ela entrou, ele se ajeitou, esperando um olhar, um gesto — qualquer coisa.
Ela não olhou.
Curvou-se levemente ao imperador Jiàn Han, homem velho de voz firme e olhos astutos.
> “Majestade. Venho aqui como filha da Casa Xu, não como ministra.”
O salão silenciou.
> “Quero formalmente me retirar do cargo de Ministra da Guerra Celestial.”
Murmúrios. Choque. O príncipe congelou.
> “Desejo viver como a jovem senhorita que sou. Cuidar da minha casa, dos meus estudos, das minhas terras. Viajar. Investir. Respirar. Por anos servi este trono com sangue e aço. Agora quero servir de outro modo. Com equilíbrio e liberdade.”
O imperador franziu o cenho.
> “Isso é... incomum. Esperava algo diferente dessa audiência.”
Ela sorriu, suave.
> “Muitos esperavam. Eu também esperava mais de muita gente. Mas aprendi.”
> “Você está abrindo mão de poder.”
> “Estou trocando poder por paz. Um investimento melhor.”
Liang abriu a boca, furioso:
> “Então você não vai...?”
Ela finalmente olhou pra ele — e o olhar foi como uma lâmina.
> “Não, príncipe. Não vou correr atrás de ninguém. Muito menos de alguém que sempre olhou por cima do ombro.”
> “Xu Lian—”
> “É Senhorita Xu, agora. E estou cansada de ser nota de rodapé na história de alguém. Vou escrever a minha.”
O imperador, ainda chocado, respirou fundo.
> “Se esse é seu desejo, está concedido. A corte aceitará sua renúncia.”
Ela se curvou levemente.
> “Agradeço, Majestade.”
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Atualizado até capítulo 29
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