capítulo 4

Império de Jiànlóng – Dia de Mercado Real

A manhã amanheceu quente e dourada sobre a Cidade Imperial, mas Xu Lian — ou melhor, Helena — não tinha tempo para discursos do príncipe herdeiro, muito menos para bajulações da corte.

> “Cerimônia de reconhecimento da nova favorita? Passo,” ela disse, já descendo as escadarias do palácio como um vendaval envolto em seda.

Dois criados correram atrás dela, tentando acompanhar o ritmo.

> “Ministra, seu convite—” “Engavetem. Hoje, eu tenho prioridades reais: roupas. Vida nova exige estilo à altura.”

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Mercado dos Nobres – Distrito Sul

Xu Lian caminhava entre os pavilhões cheios de tecidos raros, joias encantadas, sandálias de fênix e capas que mudavam de cor com o humor. Tudo era novo, vibrante, vivo — o oposto da cortesã desesperada que ela tinha sido nos capítulos do livro.

Helena passava os olhos nos tecidos como quem avalia armas.

> “Esse azul não me respeita. Próximo.”

“Muito princesa do clã da água. Eu quero parecer perigosa, não pura.”

“Esse sim,” ela disse, pegando um robe preto com detalhes escarlates. “Cheira a poder e má reputação.”

As atendentes sorriam com reverência. Nunca tinham visto Xu Lian tão… viva.

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Palácio Xu – Noite

Os pais a esperavam no salão. O pai, General Xu Shan, homem sério, veterano de guerras, observava a filha com olhos atentos. A mãe, Lady Mei, mulher doce e firme, sempre teve um orgulho feroz da filha — mesmo quando o império inteiro a chamava de “a vilã obcecada”.

Hoje, porém, ambos notaram algo diferente.

> “Lian?” a mãe perguntou, com cuidado. “Você... está diferente.”

Ela largou as sacolas, cheias de roupas novas, e se jogou num divã como se estivesse em casa — pela primeira vez, talvez, se sentindo exatamente ali.

> “Talvez eu tenha acordado,” ela disse. “Percebi que correr atrás de quem não me quer é o maior desperdício de poder que existe.”

O pai não falou nada, apenas tomou um gole de chá, e sorriu discretamente.

A mãe também.

Eles não sabiam exatamente o que havia mudado — só que era bom. A filha não parecia mais quebrada. Parecia afiada.

> “De qualquer forma,” Xu Lian completou, erguendo uma taça de vinho, “daqui pra frente, o império vai se acostumar com uma nova versão minha.”

No canto da sala, o irmão mais novo, Xu Ren, sempre observador, murmurou para si:

> “A vilã virou protagonista. Isso vai ser interessante.”

Palácio Imperial – Sala do Dragão Celestial

O pedido de audiência de Ministra Xu Lian causou um burburinho imediato. Era raro alguém solicitar presença direta com o imperador sem passar por três camadas de burocracia. Mais raro ainda era ela — a mulher que por anos foi sombra do príncipe herdeiro — agora sumida das cerimônias, pedir tal coisa... com urgência.

Quando o príncipe Liang soube, ele sorriu.

> “Finalmente entendeu. Vai pedir ao meu pai a benção para o casamento.”

Ele ajeitou o manto cerimonial, confiando no que sempre acreditou: que ela girava em torno dele.

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Trono Imperial – Audiência Oficial

O grande salão estava lotado. Nobres, conselheiros, generais, sacerdotes. Xu Lian entrou com um robe preto bordado com serpentes de ouro e o cabelo preso em uma coroa sutil de rubis. A postura era nobre, mas o olhar... gelado.

O príncipe estava à esquerda do trono, altivo. Quando ela entrou, ele se ajeitou, esperando um olhar, um gesto — qualquer coisa.

Ela não olhou.

Curvou-se levemente ao imperador Jiàn Han, homem velho de voz firme e olhos astutos.

> “Majestade. Venho aqui como filha da Casa Xu, não como ministra.”

O salão silenciou.

> “Quero formalmente me retirar do cargo de Ministra da Guerra Celestial.”

Murmúrios. Choque. O príncipe congelou.

> “Desejo viver como a jovem senhorita que sou. Cuidar da minha casa, dos meus estudos, das minhas terras. Viajar. Investir. Respirar. Por anos servi este trono com sangue e aço. Agora quero servir de outro modo. Com equilíbrio e liberdade.”

O imperador franziu o cenho.

> “Isso é... incomum. Esperava algo diferente dessa audiência.”

Ela sorriu, suave.

> “Muitos esperavam. Eu também esperava mais de muita gente. Mas aprendi.”

> “Você está abrindo mão de poder.”

> “Estou trocando poder por paz. Um investimento melhor.”

Liang abriu a boca, furioso:

> “Então você não vai...?”

Ela finalmente olhou pra ele — e o olhar foi como uma lâmina.

> “Não, príncipe. Não vou correr atrás de ninguém. Muito menos de alguém que sempre olhou por cima do ombro.”

> “Xu Lian—”

> “É Senhorita Xu, agora. E estou cansada de ser nota de rodapé na história de alguém. Vou escrever a minha.”

O imperador, ainda chocado, respirou fundo.

> “Se esse é seu desejo, está concedido. A corte aceitará sua renúncia.”

Ela se curvou levemente.

> “Agradeço, Majestade.”

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