capítulo 2

Hangar Militar – 04h56

Helena travou a última trava do fuzil com um clique seco. Carregadores checados, facas embainhadas, pistola no coldre. Tudo em ordem. Mas antes de fechar a mochila, ela olhou de novo pro livro em cima da mesa de metal. A capa parecia chamá-la.

Por um instante, hesitou. Suspirou.

> “Vai que sobra cinco minutos pra idiotice,” murmurou, enfiando o volume no fundo da bolsa tática, entre o kit de primeiros socorros e uma granada de fumaça.

O esquadrão já estava reunido na pista, prontos para embarcar no cargueiro. Clima tenso, mas com aquele humor forçado que soldados usam pra driblar o medo. Uns cantavam trechos de músicas velhas, outros discutiam finais de filmes como se o mundo dependesse disso.

Camila estava sentada no fundo do avião, rindo alto de uma história envolvendo um sargento bêbado, uma galinha e uma granada sem pino.

Helena, silenciosa, sentou no canto, encostada na parede da fuselagem. Tirou o livro e voltou à leitura.

> “Xu Lian, sua burra. Você literalmente cavalga um dragão de cristal, e ainda tá chorando por um homem que não sabe nem conjurar um escudo decente?”

Ela virou a página.

“E agora você quer se matar pra salvar ele? Por quê? BURRA.”

“Falando com a heroína do livro de novo?” Camila gritou do outro lado da cabine.

Helena não respondeu. Apenas ergueu o dedo do meio sem tirar os olhos da página.

O avião sacudiu levemente com o aviso do piloto.

> “Aqui é Águia Sete. Vamos pousar a 1.5 km do alvo, área montanhosa. Preparem-se para saltar em cinco.”

Camila bufou.

> “Maravilha. Pular, rastejar, escalar, atirar. E tudo isso sem nem um café decente.”

Ela cutucou o ombro de Carlos, um dos soldados mais convencidos da base. Bonito, cafajeste, e dono de um ego do tamanho de um helicóptero.

“Depois dessa, vou cobrar em carne, hein.”

Carlos deu aquele sorriso cretino:

“Só vem em mim, gata. Dou conta de você e da missão.”

Helena levantou o olhar, fria.

> “Vocês dois. Guardem a testosterona pra depois. Agora foco total.”

Ela se ergueu, já puxando o arnês, verificando o rádio no ombro, fixando os óculos noturnos. Sua voz cortou o barulho do motor como faca afiada:

> “Quero todos com atenção máxima. Isso é zona hostil. Um erro, e a gente não volta. Saltamos, avançamos rápido e silenciosos. Resgate e evacuação em menos de quarenta minutos. Entendido?”

Coros de “Sim, senhora” ecoaram.

Helena ajustou o capacete, mas não antes de lançar um último olhar pro livro guardado na mochila.

> “Pelo menos você é só um desastre fictício,” pensou, antes de caminhar em direção à rampa.

A luz vermelha acendeu.

Contagem regressiva.

5… 4… 3…

A coronel Helena Voss saltou primeiro.

---

Montanhas de Darband – Afeganistão | 06h02

O salto foi limpo. Pousaram no silêncio das pedras, como sombras. Nem os ventos frios das encostas quebravam o foco deles.

Avançaram em formação tática, cortando o terreno montanhoso como fantasmas. Pararam duas vezes — uma para hidratar, outra para dividir barras de proteína sem nem trocar palavras. O tempo era o inimigo, e o terreno não perdoava erro.

06h39 – A vegetação rareava. À frente, um barraco de concreto velho e rachado encravado entre duas elevações rochosas. Era o alvo.

Helena deitou no topo de uma crista e observou com binóculo térmico.

Dois armados no telhado, três fazendo ronda no perímetro. O prédio não parecia ativo… demais até.

> “Cadê o calor? Cadê os movimentos lá dentro?” — pensou, franzindo a testa. “Dois reféns vivos deviam gerar sinal. Isso tá errado.”

Camila rastejou até ela, arfando levemente.

> “Tudo calmo demais.”

“Calmo é ruim,” Helena disse seca. “Parece armadilha.”

Ela apontou para Ivan, o sniper, que já montava posição num afloramento rochoso.

> “Ivan, cobertura norte e telhado. Se alguém erguer arma, derruba.”

“Entendido,” ele respondeu, já mirando.

Helena ativou o comunicador.

> “Equipes Alpha e Beta, formação de pinça. Entramos silenciosos. Nada de tiroteio se der pra evitar. Os reféns são prioridade.”

As unidades se espalharam como névoa, contornando o local.

Helena liderou o avanço com Camila ao lado, ambos rastejando até a lateral do barraco. A pintura descascada, o cheiro de óleo velho e o silêncio morto criavam uma tensão espessa.

Ela encostou o ouvido na parede. Nada.

> “Barulho zero. Não é normal,” ela disse, quase num sussurro.

Camila assentiu.

> “Se for isca, vamos descobrir logo.”

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