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Isadora atravessou o salão com naturalidade. Pessoas vinham até ela — velhos amigos do pai, aliados do falecido marido, chefes e conselheiros que ela conhecia desde criança. Ela sorria com educação. Ouviu propostas veladas de alianças, recebeu convites discretos.
— Marcamos um café? Falar sobre as rotas antigas dos Bellini?
— A senhora está mais viva do que nunca, Isadora. O clã sente sua ausência.
— Se quiser companhia... posso garantir descrição. (disse um dos homens, entregando um cartão.)
Ela aceitava, recusava ou ignorava com a mesma postura inabalável. Era diplomática, mas impenetrável.
E mesmo de costas, sentia os olhos dele. O Don. O predador. Aquele que todos temiam, mas que agora a observava como se tivesse visto algo que o desarmava.
Chiara percebeu. E o veneno explodiu.
— Domenico! Vai mesmo ficar aí olhando pra essa vad—
Estacou.
A mão dele agarrou o pescoço dela com firmeza, sem levantar a voz, sem cerimônia.
O salão inteiro fingiu não ver.
Mas todo mundo ouviu o que ele disse, com os olhos semicerrados, a voz baixa e afiada:
— Cala a boca.
— Dependendo da próxima palavra que sair dessa boca suja, será a última vez que você fala nesta vida.
— Eu não repito aviso.
Chiara empalideceu. Tremeu. Engoliu o grito.
Domenico soltou devagar.
E voltou a olhar para Isadora.
Ali, no meio do baile, ele soube:
A coroa não estava no salão. Estava nela. E se algum dia fosse para haver uma rainha... ela já existia.
Mesa do Don – Baile da Máfia, Palazzo Nuccio
A mesa era longa, de madeira escura, enfeitada com arranjos de flores brancas e talheres de prata. Estava posicionada no centro do salão, lugar de prestígio reservado aos nomes mais pesados daquela noite.
Isadora Bellini Vitale caminhou até ela sem pressa, guiada por um segurança do evento. A etiqueta presa à cadeira confirmava o que ela já sabia:
"Sra. Isadora B. Vitale – Convidada de Honra"
A cadeira ao lado?
"Don Domenico Mancini"
Ela sorriu, irônica, sem surpresa. Era claro que tinham feito de propósito. Nomes como os deles juntos numa mesma mesa... alimentavam rumores. Ela se sentou com calma, postura impecável, como quem está sempre pronta para ser julgada — e vencer.
Instantes depois, Domenico apareceu e tomou seu lugar ao lado dela. Nenhuma palavra dita. Apenas um olhar breve, firme, analisando cada gesto dela como um predador curioso.
Do outro lado da mesa, Chiara quase espumava. Forçada a sentar ao lado de Domenico, mas claramente invisível a seus olhos.
— Boa noite, Don Mancini, — disse Isadora, por educação. A voz suave, mas com firmeza nos ossos.
— Boa noite, Viúva Vitale. — Ele respondeu com um leve aceno, a boca quase tocando um sorriso contido. — Ou prefere Bellini?
— Depende da ocasião. Hoje... Vitale ainda assusta mais.
Ele riu com o canto da boca. Gostava de mulheres que entendiam o jogo.
— Não achei que viria. Muito silêncio costuma se transformar em ausência definitiva nesse mundo.
— Silêncio, às vezes, é apenas uma pausa estratégica, — respondeu, pegando uma taça de champanhe. — E convenhamos… ninguém abandona completamente o que nasceu pra comandar.
Domenico girou o copo entre os dedos. Observava mais do que perguntava. Mas ela não preenchia o silêncio com ansiedade, como todas as outras. Ela o deixava existir.
— E as empresas? Ouvi que herdou mais do que joias e sobrenomes...
Isadora ergueu uma sobrancelha, interessada na pergunta.
— Transportes, imóveis, uma parte dos portos em Messina e algumas participações em construtoras em Milão. Já eram lucrativas quando Luca estava vivo, mas mal geridas. Eu reorganizei tudo. Cortei intermediários, terceirizei proteção, automatizei contabilidade. Dobrei o faturamento em três anos.
Domenico a observava. Silencioso. Impressionado, mas contido.
— E o outro lado? — perguntou ele. — O jogo? As alianças? As facas nas sombras?
— Sei exatamente onde estão as facas. — Ela deu um leve sorriso. — E mantenho todas afiadas. Mas nem todas precisam ser usadas... ainda.
Chiara, até então calada, se intrometeu.
— Ai, Isadora, como você consegue se interessar por essas coisas? É tão... masculino. Eu fico com dor de cabeça só de ouvir!
Isadora virou levemente o rosto. Nem irritada. Apenas acima.
— Talvez porque não estou aqui para desfilar vestido, Chiara. Estou aqui porque meu nome ainda move exércitos. — E voltou o rosto para Domenico, encerrando o assunto sem sequer encará-la de novo.
Domenico abafou um sorriso. A naturalidade com que Isadora reinava sobre o espaço ao redor era magnética. Ela não dava investidas. Não sorria demais. Não puxava assunto. Não cruzava as pernas de forma exagerada. Ela não fazia esforço — e ainda assim, dominava.
Isso o intrigava profundamente.
Porque todas as outras mulheres queriam o corpo dele.
Ela parecia querer manter distância da alma.
E isso, mais do que tudo, era o que fazia Domenico querer saber mais.
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Atualizado até capítulo 45
Comments
Renata
vai começar o jogo o que vai acontecer quando as portas do inferno se abrirem
2025-06-09
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