não há tempo

Bárbara sentiu um calafrio percorrer sua espinha. — Isso não faz sentido!

Isabelly ergueu um pequeno envelope, amarelado pelo tempo. — Isso pertence ao marinheiro Adalberto. E à bússola. Dentro dele, tem a verdade — disse, estendendo-o para Cléo.

Cléo pegou o envelope, mas antes que pudesse abri-lo, a porta dos fundos bateu com força. Um vento gelado entrou, apagando a vela. Na escuridão, a silhueta de um homem apareceu — Junior.

— Vocês não deviam estar aqui — rosnou ele, a voz carregada de ameaça. — Isabelly, o que você contou a elas?

Isabelly não respondeu. Ficou parada, o olhar fixo em Junior, como se fosse a única coisa que poderia segurá-lo ali, no limite.

Bárbara deu um passo para trás, a respiração curta. Cléo segurou a bússola numa mão e o envelope na outra.

— O que você quer de nós? — perguntou Cléo, a voz firme apesar do medo.

Junior deu um sorriso torto. — Eu quero que vocês entendam que certas verdades… não são para todos. E que algumas portas, quando abertas, nunca mais se fecham.

Ele avançou um passo. Isabelly ergueu a mão, como se quisesse protegê-las.

— Elas precisam saber — disse ela, sua voz baixa, mas firme.

Junior suspirou, o olhar fixo em Cléo e Bárbara. — Então que elas saibam. Mas a partir de agora… não há mais

Cléo, as mãos tremendo levemente, abriu o envelope. Dentro, havia várias fotos antigas, em preto e branco, de marinheiros com uniformes impecáveis e expressões graves. As bordas amareladas e a textura desgastada contavam histórias de muitos anos atrás.

Ela espalhou as fotos sobre a mesinha de centro. Bárbara aproximou-se, olhos arregalados.

— Esses são… os marinheiros? — perguntou, a voz carregada de tensão.

Cléo assentiu, virando cada foto para ver melhor. Em uma delas, um homem sorria, com o olhar fixo na câmera, como se estivesse posando para a eternidade. Bárbara estremeceu.

— Eu juro que já vi esse homem antes — disse ela, a respiração curta. — Mas… onde?

Isabelly os observava em silêncio, os dedos entrelaçados no colo. Junior ficou de braços cruzados, o olhar fixo nas fotos. A chama bruxuleante de uma vela que Isabelly acendeu novamente projetava sombras estranhas nas paredes.

Cléo sentiu um arrepio. — Talvez ele tenha passado pelo vilarejo… ou… — Ela engoliu em seco. — Talvez algo nele… tenha ficado aqui.

Bárbara passou o dedo pela foto. — Eu não lembro. Mas sinto que era importante.

Isabelly suspirou. — Esses homens morreram no mar. Mas a bússola… ela sempre traz de volta o que não quer ser esquecido.

O silêncio que se seguiu pareceu engolir o ar. Um estalo de madeira fez Cléo pular. Junior franziu a testa, o rosto tenso.

— Vocês não deviam ter voltado — disse ele, a voz grave e impaciente. — Agora não podem simplesmente sair.

Bárbara olhou para Cléo, assustada. — O que isso quer dizer?

Enquanto isso a Helena, a esposa de Rubens, se aproximava da casa de Cléo e Bárbara. Ela empurrou a porta da frente, que rangeu como um lamento. A casa estava vazia, um silêncio opressor pairando no ar.

— Meninas? — chamou ela, andando até a cozinha, onde o chá de ervas ainda esfriava na xícara. — Cléo? Bárbara?

Mas não havia ninguém.

Helena sentiu o coração acelerar. Olhou ao redor, como se esperasse que elas surgissem de algum canto escuro. O relógio na parede marcava quase meia-noite. Ela mordeu o lábio, preocupada.

— Isso não está certo… — murmurou.

Helena saiu correndo da casa e voltou para a rua deserta. As luzes fracas dos postes iluminavam seu caminho de volta para casa. Ela sabia que Rubens precisava saber o que estava acontecendo. Talvez ele entendesse, ou ao menos soubesse o que fazer.

Enquanto corria, uma brisa gelada parecia sussurrar nos seus ouvidos. Algo a dizia que as meninas estavam em perigo. Helena chegou à porta de casa, arfando, e a abriu com força.

— Rubens! — gritou, a voz embargada. — As meninas… elas sumiram!

Rubens, que estava sentado no sofá, levantou-se num salto. — O que você quer dizer com "sumiram"?

— Eu fui até lá, mas não tinha ninguém! E… sinto que algo está muito errado!

Rubens caminhou até ela e segurou seus ombros, tentando mantê-la calma. — Helena, escuta: onde elas estavam antes?

— Elas tinham ido até a casa da Isabelly, aquela mulher estranha que mora perto do rio. — Helena respirava com dificuldade. — Mas… eu sinto que elas não foram só por curiosidade. Algo mais forte as levou pra lá.

Rubens ficou sério. — Helena, vou pegar a lanterna e ver o que posso fazer. Mas você precisa ficar aqui, trancar as portas e não abrir pra ninguém.

Helena assentiu, mas o medo não saía de seus olhos.

Enquanto isso, na casa de Isabelly, Cléo e Bárbara continuavam olhando para as fotos. Um zunido estranho parecia preencher a sala, como se cada imagem guardasse um sussurro que ninguém conseguia ouvir. Junior se aproximou, as mãos cruzadas atrás das costas.

— Agora que vocês sabem o que há nessas fotos, vão precisar escolher — disse ele, a voz carregada de um tom quase profético. — Ou continuam procurando respostas… ou vão embora antes que seja tarde demais.

Cléo ergueu o olhar, determinada. — Eu não posso ir embora sem entender por que a bússola nos trouxe aqui. E quem é esse homem que eu juro que conheço.

Bárbara apertou o braço de Cléo, assustada, mas concordou. — Eu também não vou sair. Não agora.

Isabelly sorriu de leve, quase triste. — Então, meninas… a próxima resposta está na última foto do envelope.

Cléo virou a última foto. Era a mesma imagem que Bárbara havia apontado antes — o homem sorridente, com um olhar que parecia atravessar os anos. Mas agora, olhando melhor, ela notou algo ao fundo: a mesma casa onde estavam, mas com outra pintura, mais antiga, e uma sombra que se erguia na porta.

— É aqui… — murmurou Cléo. — Essa casa tem as respostas.

Mas o zunido ficou mais alto, como se um trovão estivesse prestes a cair. Junior olhou para a porta, os músculos tensos.

— Vocês têm pouco tempo — disse ele. — Porque essa casa tem vida própria. E o que ela quer… vai cobrar um preço.

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