O novo professor

...
Capítulo 1 — O cheiro doce do sangue
A névoa densa abraçava a cidade de Forks naquela manhã fria e úmida, como se o próprio céu quisesse ocultar os segredos que chegavam junto com os novos moradores da velha mansão nos limites da floresta. Entre eles, Yoon Wands, o mais velho — ou melhor, o mais antigo.
Seus passos silenciosos atravessaram o estacionamento da escola, seus olhos vermelhos, agora disfarçados atrás de lentes escuras, varreram o ambiente com uma frieza contida. Cada respiração era medida, cada batida de coração que ele ouvia, um convite ao caos que ele insistia em controlar.
A sede latejava em sua garganta como uma ferida aberta, mas ele a ignorou com a elegância milenar que carregava. Hoje não seria apenas mais um dia: seria o primeiro em que ele testaria sua força, caminhando entre os vivos, mascarado de humano… de professor.
A escola era um amontoado de prédios cinzentos e corredores estreitos, impregnados com o aroma agridoce da juventude. O diretor o recebeu com um sorriso protocolar, apresentando-o como “Professor Yoon Wands, substituto de Literatura”. Ele assentiu com a cabeça, a voz baixa e grave cortando o ar:
Yoon wands
-será um prazer.

...
Mas a mentira pesava mais do que a névoa.
As aulas começaram. Yoon se moveu entre as carteiras com a graça predadora de quem há séculos domina a arte da observação. Olhares curiosos, cochichos, sorrisos; adolescentes fascinados pela figura pálida e estranhamente bela do novo professor.
E então, ele sentiu.
Um aroma distinto, doce e quente, que atravessou sua defesa como uma lâmina afiada. Seu corpo inteiro enrijeceu.
Lá, na última fileira, um garoto pardo, de cabelos castanhos escuros e olhar curioso, mordia distraidamente a tampa da caneta, alheio à tormenta que havia acabado de despertar.
Lishua.
Yoon prendeu a respiração, as unhas cravando-se discretamente na borda da mesa. Não podia… não agora.
Mas era tarde demais.
Aquele cheiro doce, inocente e provocante parecia se enroscar em sua mente, puxando-o para um abismo que ele jurou nunca mais visitar.
Enquanto escrevia no quadro, as palavras de Edgar Allan Poe — o poeta que tanto admirava — surgiam involuntariamente:
"E assim, envolto em sombras, o corvo permaneceu, eterno e imóvel..."
Yoon fechou os olhos por um segundo. Ele conhecia bem demais esse tipo de eternidade.
Naquele dia, sob o céu cinza de Forks, o predador conheceu sua nova perdição.
...
Yoon abriu os olhos lentamente, deixando que a fachada fria e impassível tomasse novamente conta de sua expressão. Caminhou até a mesa de Lishua, como quem executa um ritual perigoso, os sapatos ecoando suavemente pelo piso de linóleo desgastado.
Yoon wands
— Você… — começou ele, a voz arrastada e grave, carregando um sotaque antigo, de tempos esquecidos. — Como se chama?
...
Lishua ergueu o olhar, encontrando o do professor. Por um segundo, ambos ficaram imóveis — um instante que pareceu longo demais para uma simples apresentação.
Lishua
— Lishua… — respondeu o garoto, a voz firme, mas confusa pela intensidade daquele olhar.
...
Os olhos de Yoon, mesmo ocultos pelas lentes escuras, pareciam atravessar a pele, vasculhando as veias, ouvindo o pulsar apressado do coração.
Yoon wands
— Belo nome… — murmurou, mais para si do que para o aluno.
...
Lishua sorriu de canto, sem saber muito bem como reagir, enquanto o professor se afastava lentamente, o perfume metálico de sangue ainda impregnando o ar entre eles.
Durante a aula, Yoon falava sobre tragédias românticas, recitando versos de Byron e Poe, enquanto, dentro dele, uma batalha silenciosa acontecia: o desejo de se aproximar versus o instinto de destruir.
Em um momento, Lishua levantou a mão para perguntar:
Lishua
— Professor… acredita que o amor pode ser… eterno?
...
A pergunta atingiu Yoon como uma estaca invisível. Ele encarou o garoto, sentindo os ecos de séculos vividos pesarem em seus ombros.
Yoon wands
O amor… — ele parou, a sala em completo silêncio, todos os olhares sobre ele — pode ser a mais bela das eternidades… ou a mais cruel das condenações.
...
Lishua sorriu, curioso com a resposta enigmática, sem saber que acabava de abrir uma porta que jamais poderia fechar.
Enquanto a campainha soava, encerrando a aula, Yoon permaneceu parado, observando Lishua sair pela porta, sem perceber que já estava marcado, selado pelo doce aroma de seu sangue e pela fragilidade humana que tanto o atraía… e ameaçava.
Quando ficou sozinho, Yoon se encostou na mesa, inspirando fundo, como se tentasse guardar na memória aquele cheiro e aquela sensação.
"Ele é perigoso…", pensou, e então sorriu de lado, exibindo, por um breve segundo, a ponta afiada de uma presa que não via a luz do dia há tempo demais.
esse foi o capítulo de hoje
Comments