- O carro e o olhar
O céu estava coberto de nuvens espessas naquela manhã, o tipo de dia que parecia ter nascido para esconder segredos.
Lishua ajeitou a mochila no banco do passageiro enquanto Mateus, ao volante, mantinha os olhos fixos na estrada úmida e cheia de curvas. A floresta parecia se fechar ao redor deles, como braços silenciosos e pesados.
Mateus (irmão do Lishua)
Vai querer que eu te busque? — perguntou Mateus, sem olhar.
Lishua
Não precisa...posso ir andando
Mateus assentiu, indiferente, mas Lishua percebeu o canto da boca dele se contrair levemente, como se quisesse dizer algo mais e desistisse
O carro parou no estacionamento da escola. Lishua abriu a porta, mas antes de sair, o irmão finalmente disse:
Mateus (irmão do Lishua)
Não anda tão distraído por aí… tem gente estranha nessa cidade.
Lishua arqueou uma sobrancelha, meio confuso.
Lishua
Tipo quem?
Mateus deu de ombros, ligando o rádio.
Mateus (irmão do Lishua)
Só… estranho
Lishua sorriu de lado, fechando a porta com um aceno. Não fazia ideia de que o “estranho” que o irmão pressentia já o observava dali, bem perto.
Yoon estava parado à entrada da escola, encostado numa das colunas de pedra cobertas de musgo. Trajava uma camisa escura, aberta no colarinho, e os cabelos ruivos contrastavam como fogo na manhã nublada.
Ele viu.
Viu Mateus — o rapaz alto, de olhar protetor, que acompanhava Lishua até ali, que falava com ele com uma intimidade que Yoon não podia ter… ainda.
Sentiu, sem querer, aquele incômodo quase esquecido: um aperto no peito, um resquício de posse, um ciúme silencioso e afiado como uma adaga.
Os olhos de Yoon seguiram cada passo de Lishua enquanto ele atravessava o pátio, ajeitando o capuz, distraído. O irmão ficou no carro por um instante, como se hesitasse, e depois foi embora.
Só então, Yoon respirou fundo — ou pelo menos fingiu fazê-lo, para parecer humano.
Yoon wands
(Quem é esse?) pensou, os olhos fixos no carro se afastando.
Mas não perguntou. Não se moveu.
Apenas esperou, como um predador paciente.
E quando Lishua entrou no prédio, ele também se virou, ajeitando a pasta de professor e caminhando lentamente pelos corredores frios, sabendo que em breve…
se encontrariam novamente.
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