Caio estava no seu quarto, jogado na cama, o celular na mão e os fones de ouvido tocando aquela playlist que só ele entendia. Do lado de fora, o som da televisão e vozes abafadas indicavam que, como sempre, Ryan e Lucas estavam no auge da “brincadeira de casal”.
Ele revirou os olhos.
— Se eles gritarem ‘meu amor’ mais uma vez, juro que grito “SEU VERME” — resmungou para si mesmo.
No meio do rolê do TikTok, o celular vibrou com uma notificação inesperada. Era uma mensagem do tal "Mateus" da escola, o garoto que Caio vinha observando secretamente nas últimas semanas.
Mateus: “E aí, vai mesmo na festa sábado?”
Caio sentiu o coração acelerar, mas não muito. Afinal, ele tinha decorado o manual da paquera com um misto de sarcasmo e memes. Respondeu com um “Claro, só se o Ryan não assustar todo mundo com os gritos dele.”
Não que fosse exagero. Ontem, o pai dele tinha sido interrompido no meio do “romance” por um grito da mãe: “Lucas, para de provocar na frente do Caio! Vai acabar com a sanidade do seu filho!”
Caio riu baixinho.
Mas não era só isso. O adolescente também lidava com uma missão quase impossível: tentar entender as coisas bizarras que seus pais faziam no meio do dia e ainda sair vivo das “conversas constrangedoras” sobre sexo, amor e tudo o que ele ainda estava tentando decifrar.
No café da manhã, Lucas deu um beijo estalado em Ryan, bem na frente do filho.
— Bom dia, meu amor! — disse Lucas, piscando.
— Bom dia, seus pestinhas. — Caio respondeu, com um sorriso torto.
Ryan riu e falou:
— Não fala assim, filho, que a gente fica tímido.
Caio pegou a torrada e deu uma mordida, pensando: “Mal sabem eles que eu já tô quase com um crush e que tenho mais jogo de cintura que esses dois juntos.”
Na escola, ele pensava no Mateus, tentando bolar um jeito de se aproximar, sem parecer um adolescente completamente perdido.
Mas uma coisa Caio sabia muito bem: no meio do caos que eram seus pais, ele era a calma (ou pelo menos tentava).
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