CAPÍTULO III – GRAVIDADE

Cheguei cedo. Não apenas porque era meu trabalho garantir que tudo estivesse pronto antes de qualquer um colocar os pés na sala de reuniões, mas porque recebi uma mensagem do próprio sr. Seo Joon uma hora antes do previsto. Objetiva, como todas as suas comunicações:

"Estarei no escritório às 8h. Prepare tudo para a reunião. Espero pontualidade e organização."

“Pontualidade e organização”. Respirei fundo e revisei mentalmente a lista de afazeres, enquanto meus dedos já trabalhavam automaticamente. A sala de reuniões ficava no final do corredor executivo, uma parede de vidro fosco a separava do resto da empresa, impessoal por fora, silenciosamente imponente por dentro.

Comecei ligando o painel de controle do sistema integrado. A iluminação se ajustou sozinha, criando um ambiente claro, mas sem agressividade visual. Gosto de pensar que até a luz respeitava a hierarquia ali dentro.

A mesa longa de carvalho escuro refletia o brilho limpo da superfície envernizada. Coloquei os copos de água nos apoios apropriados, alinhei os blocos de anotação e testei o projetor. Na ponta da mesa, deixei os documentos impressos, cada cópia cuidadosamente grampeada e separada por nome. Um reforço, caso algum dos presentes esquecesse o bom senso e chegasse sem acesso aos arquivos que enviei mais cedo por e-mail.

Ajustei a tela principal e abri os arquivos por ordem de apresentação. Tudo precisava funcionar com fluidez. Nada podia travar. Especialmente não hoje. Recepcionei os primeiros executivos com a polidez habitual, mantendo a postura enquanto minha mente percorria novamente os tópicos da pauta. A sala foi se enchendo de vozes abafadas e perfumes caros.

E então, ele entrou. O sr. Seo Joon. Por um segundo, só um segundo, tudo desacelerou. O som, as vozes, o movimento. Meu cérebro perdeu a conexão com o corpo, e só consegui olhar.

Ele vestia um terno azul-marinho perfeitamente alinhado ao corpo alto e esguio. Por baixo, uma camisa preta, contrastando com a pele alva de seu pescoço. A gravata, grafite com um brilho discreto, parecia acentuar sua presença como se orbitasse ao redor dele. Mas não foi isso que me derrubou.

Foi o cabelo. Solto. Nunca o vi assim. O sr. Seo Joon usava os fios longos sempre presos em um coque preciso ou em um rabo de cavalo milimetricamente contido. Hoje, eles caíam sobre seus ombros com suavidade, como se alguém tivesse desenhado aquela moldura para provocar.

E funcionou. Uma onda quente me percorreu, e o sonho da noite anterior me invadiu de forma quase brutal. A imagem dele ajoelhado ao meu lado, a camisa preta aberta… Meus dedos apertaram os documentos que segurava. Respirei fundo. Me obriguei a erguer o olhar, encontrando o dele apenas por uma fração de segundo. Precisava parar com isso.

Seo Joon – Comece, por favor.

A voz dele me arrancou de volta à realidade como uma âncora jogada no meio do mar. Assenti com a cabeça, limpei a garganta e fiz a abertura da reunião. Expliquei a pauta, mencionei os anexos enviados e garanti que a ata seria redigida e compartilhada em breve. Minha voz saiu firme, talvez mais do que eu esperava, mas por dentro eu tremia como uma folha.

Enquanto falava, podia sentir o olhar dele sobre mim. A análise silenciosa de cada escolha que fiz, da ordem dos tópicos, ao modo como organizei as cadeiras. Era a primeira vez que eu conduzia tudo sozinho. Até então, ele mesmo ajustava os detalhes, interferia nos e-mails, redesenhava o cronograma. Hoje, ele confiou. Não elogiou, claro. Mas também não corrigiu nada.

Isso, vindo dele, era quase uma declaração. Quando terminei minha parte, me sentei e comecei a tomar nota. Também ativei o gravador, não confiava só na minha memória, e sabia que ele notaria se algo escapasse.

A reunião transcorreu como sempre: números, estratégias, metas ousadas ditas com frieza cirúrgica. Mas, vez ou outra, o olhar dele recaía sobre mim, como uma carícia não consentida. Cada vez que acontecia, um arrepio lento subia pela minha coluna. E os pensamentos... “Malditos pensamentos!” voltavam, insistentes, em forma de imagens que ardiam sob minha pele.

Tentei focar. Organizei as palavras no papel. Pisquei mais do que o necessário. Respirei fundo algumas vezes, torcendo para que ninguém percebesse o rubor em minha face.

No final, Seo Joon se levantou antes do encerramento e apenas disse: – Finalize e me envie os dados.

Desapareceu pela porta com a mesma elegância silenciosa com que chegou. Me despedi dos outros participantes, agradeci, sorri com a educação de sempre. Assim que fiquei sozinho, deixei meu corpo cair em uma das cadeiras laterais. Afundei nela como quem foge do próprio corpo.

A sala estava silenciosa novamente. Mas dentro de mim… tudo gritava. Sr. Seo Joon. Seu olhar. O sonho. A realidade. A camisa preta. Os cabelos soltos. “Merda! Como é que eu vou sobreviver a isso?”

***

Depois de arrumar a sala, voltei à minha mesa, meus passos contidos, tentando recuperar alguma compostura depois do furacão interno que aquela reunião provocou. Eu segurava a prancheta contra o peito como se ela pudesse me proteger de mim mesmo, ou do que eu sentia.

E então passei pela porta aberta do escritório dele. O sr. Seo Joon estava ali. De pé. De frente. Me esperando? Não. Claro que não! Mas estava.

A gravata pendia de lado, desalinhada como se tivesse sido arrancada por mãos impacientes. A camisa preta, parcialmente desabotoada, revelava a linha marcada de seu peitoral e parte do esterno. A luz suave do teto fazia o tecido parecer ainda mais escuro, contrastando com a pele clara, com aquele pedaço de clavícula exposto… exatamente como no meu sonho. Exatamente.

Minha garganta apertou. E antes que pudesse conter, soltei um suspiro alto demais. Um som entre desejo e desespero. Me amaldiçoei em silêncio. Ele não pareceu ouvir. Ou fingiu muito bem.

Apertei o passo, atravessei o corredor e me joguei na cadeira como quem foge de um crime. Peguei a primeira pasta da pilha com pressa, como se aquilo fosse a coisa mais urgente do mundo. Mas minhas mãos tremiam levemente.

Então escutei. Não precisei olhar. Senti. Os passos. O leve som do tecido sendo ajustado. Quando ergui os olhos, ele estava parado à frente da minha mesa. Impecável. Como se o desalinho de antes nunca tivesse existido, exceto que eu vira. E agora, nada no mundo poderia desver.

O sr. Seo Joon ajustava o último botão da camisa e ajeitava a gravata com um gesto suave, quase íntimo. Não disse nada de imediato. Apenas me olhou. E o olhar dele… Me atravessou como um raio. Senti o corpo inteiro responder. Como se cada célula minha gritasse: “É ele”. Uma fisgada no estômago. Um calor subindo pela nuca. A garganta seca. Tentei fingir que estava concentrado nos papéis. Falhei.

Eu – Posso ajudar em algo, senhor? Minha voz saiu firme demais para quem estava prestes a desmaiar.

Ele ajeitou as mangas do blazer e respondeu, sem pressa: – Tenho uma reunião externa. Retorno após o almoço.

Assenti, mantendo o olhar nos documentos. Mas então ele acrescentou:

Seo Joon – Prepare também a reunião da tarde. Com o mesmo cuidado que teve esta manhã.

Ergui os olhos. Devagar. Aquilo… aquilo vindo dele… era um elogio. Em linguagem do sr. Seo Joon, era praticamente um troféu.

Eu – Sim, senhor.

Juro que vi. Um curvar sutil nos cantos dos lábios dele. Quase imperceptível. Mas eu vi. Ou quis ver. Tanto faz.

Ele virou-se e saiu, e eu fiquei ali tentando convencer meu coração a voltar ao ritmo normal. Continuei o dia como devia, cumprindo as funções, preparando os documentos, finalizando as atas e enviando aos envolvidos. Trabalhar me ajudava a silenciar pensamentos, nem sempre dava certo, mas eu tentava.

A reunião da tarde transcorreu sem incidentes. Eu estava mais controlado, focado no profissionalismo que ainda precisava provar. Terminei o expediente pontualmente, mas fiquei mais alguns minutos ajustando relatórios.

Então ouvi passos no carpete. O sr. Seo Joon, pronto para sair. Carregava a pasta de couro em uma de suas mãos, o blazer impecável, já abotoado. Me deu um breve aceno e seguiu em direção ao elevador, pressionando o botão. Quando as portas se abriram, ele entrou sem dizer palavra.

Mas então… Virou-se. E me olhou. Não por longos segundos. Apenas um instante. Um breve, maldito instante em que nossos olhares se encontraram... e algo em mim pareceu queimar. A pele do meu pescoço ardeu. O estômago afundou.

Ele não disse nada. Apenas… olhou. As portas se fecharam. E eu fiquei ali, sozinho no andar silencioso, encarando as portas do elevador, com o coração acelerado e o corpo latejando de um desejo que já não fazia mais sentido negar. Sr. Seo Joon. O sonho. A gravata. A pele. O olhar.

Se isso era um jogo… ele começou antes que eu soubesse as regras. E eu já estava perdido.

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