Decifrar o desconhecido

Eron olhava para ela como se quisesse memorizar cada traço do seu rosto.

Maya sustentou o olhar por um momento, desconfiada, mas curiosa. Havia algo estranho nele. Não o tipo de estranho que dá medo — mas o tipo que faz você querer entender.

— Você e seus irmãos são daqui? — perguntou, tomando um gole de sua bebida.

— Mais ou menos — respondeu ele. — A gente nasceu aqui perto, mas passamos um tempo longe. Agora estamos... de volta.

— De volta? Por quê?

— Questões de família. — Ele deu de ombros, mas havia um peso escondido ali. — Esse lugar tem uma forma... hmmm... particular de chamar a gente de volta pra casa.

Maya arqueou uma sobrancelha.

— Poético.

— Verdadeiro — disse ele, ainda sorrindo, mas com os olhos levemente sérios. — Tem coisas que você só entende quando vive. Tipo... o instinto de pertencimento. Às vezes ele te arrasta de volta, mesmo quando você acha que superou.

Maya desviou o olhar, meio incomodada. Aquilo mexeu com ela mais do que gostaria de admitir.

— Você fala como se tivesse séculos de vida.

— Talvez tenha — respondeu ele com naturalidade, o tom brincalhão mascarando algo mais fundo.

Ela sorriu de lado, sem saber se ele estava brincando ou testando.

— E você, Maya, é daqui?

— Mais ou menos. Meu pai cresceu aqui, minha mãe detestava o lugar. Mas... cá estou. Temporariamente.

— Temporário às vezes vira destino — murmurou Eron, e os olhos dele brilharam de novo, dessa vez com uma intensidade que fez Maya sentir um arrepio nas costas.

Um silêncio breve caiu entre eles. Não desconfortável, mas denso. Ela sentiu como se estivessem sendo observados — ou como se o próprio universo estivesse prendendo a respiração.

— Quer sair um pouco? Lá fora tá mais fresco. — Ele apontou com o queixo para a varanda dos fundos.

Maya hesitou.

— Sair com um estranho pra um lugar isolado? Quebraria umas três das minhas regras de sobrevivência.

— E ainda assim, você tá tentada — disse ele, divertido.

Ela cruzou os braços de novo, dessa vez tentando esconder o sorriso.

— Talvez eu só esteja curiosa.

— Curiosidade é o primeiro passo pro desconhecido.

— E você é o quê? Um guia turístico do desconhecido?

— Algo assim.

O jeito como ele disse aquilo fez a pele de Maya arrepiar outra vez. Ela respirou fundo, decidindo se seguia o instinto ou se mantinha o controle.

Antes que pudesse responder, um grito distante cortou a música. Vinha do lado de fora.

Ambos viraram o rosto ao mesmo tempo.

— Aquilo foi...?

— Não sei — disse Maya, já começando a andar em direção à porta.

Eron segurou seu braço com delicadeza, mas firmeza.

— Espera. Talvez seja melhor você ficar aqui.

— Você tá brincando? — retrucou, se soltando. — Meu amigo pode estar lá fora!

O olhar dele ficou mais sério, mais... instintivo. Por um instante, Maya achou que viu algo mudar nos olhos dele. Seria apenas reflexo da luz? Não teve certeza.

— Tudo bem — disse ele, por fim, com a voz baixa. — Mas fica perto de mim.

Os dois atravessaram a casa em direção ao som estranho que vinha da escuridão lá fora. O ar estava mais frio agora. A floresta ao redor da casa parecia mais viva. E Maya não sabia se o que sentia era medo, ansiedade... ou algo mais primitivo despertando dentro dela.

Algo que ainda não tinha nome.

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Comments

Paulo St

Paulo St

eu estava esperando por esse momento há muito tempo.

2025-06-17

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