A música tinha mudado, as luzes estavam mais suaves e as conversas começavam a virar sussurros em cantos escuros da casa. Havia algo no ar — uma eletricidade leve, como a tensão antes de uma tempestade. Ela virou-se para procurar Airon, mas antes que pudesse chamá-lo, sentiu aquele olhar de novo.
O estranho ainda estava lá, encostado na parede de madeira, como se o tempo ao redor dele corresse mais devagar. Olhava direto para ela, sem vergonha, sem dúvidas. Como se a conhecesse de algum lugar... ou estivesse esperando por ela. Era estranho; disso ela tinha certeza
Para não continuar aquela cena de olhares trocados, Maya olhou para o outro lado. Foi então que Airon se aproximou e disse:
— Ele tá vindo pra cá — avisou Airon, com um sorriso maroto. — Comporte-se... ou não.
— Onde você vai? — perguntou Maya, franzindo a testa.
Mas Airon já se afastava, sumindo na multidão como se tivesse cumprido sua missão.
O estranho se aproximou com passos calmos, como se o ambiente inteiro não passasse de um detalhe sem importância para ele. Parou diante de Maya, os olhos ainda fixos nos dela.
— Oi — disse ele, com a voz firme e surpreendentemente suave.
— Olá — respondeu Maya, sem jeito, ajeitando uma mecha do cabelo por puro reflexo.
A música mudou. A batida acelerada deu lugar a uma melodia mais lenta, quase íntima. Casais começaram a se formar ao redor. O estranho estendeu a mão para ela, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.
— Dança comigo?
Ela hesitou por um segundo, mas algo na presença dele — talvez a confiança tranquila, talvez aquele olhar impossível de decifrar — a fez aceitar. Tomou a mão dele e o deixou guiá-la até o centro da sala.
A dança foi estranhamente confortável. Ele não era exagerado nos movimentos, nem invasivo. A mão em sua cintura era firme, mas respeitosa. Maya se sentiu... vista. E estranhamente segura.
Quando a música acabou, ele se inclinou levemente, ainda segurando sua mão.
— Um drink? — sugeriu.
Maya sorriu, mas recuou.
— Uma das minhas regras de sobrevivência é: jamais beber com estranhos.
Ele riu, divertido.
— Achei que já fôssemos bons amigos.
Ela não respondeu. Seus olhos varreram o ambiente, inquietos, buscando algo. Ou melhor, alguém.
— Algum problema? — perguntou ele, inclinando a cabeça.
— Só estou procurando o meu amigo...
— Acho que vi ele saindo com um dos meus irmãos.
— Oi? — Maya virou o rosto para ele, surpresa.
— Tá vendo aqueles caras lá no canto? — apontou com um gesto sutil da cabeça. — São meus irmãos. Aqueles três ali. Mas tem mais um. Ele deve ter ido com o teu amigo. Costuma sumir assim... quando encontra companhia.
— Que filho da p...
O rapaz gargalhou, genuinamente.
— O que foi? — perguntou ela, semicerrando os olhos.
— Cara de princesa, palavreado de ogro.
— Vou matar ele. Me arrastou pra cá e me abandonou.
— E eu? Sou uma companhia tão ruim assim? Posso te dar uma carona de volta.
Maya riu, balançando a cabeça.
— Outra regra: jamais aceitar carona de desconhecidos. Ainda mais depois de uma festa.
— Magoou de novo — disse ele, colocando a mão no peito em falso drama. — Eu não mordo. Palavra de escoteiro — levantou a mão como se estivesse jurando.
— Eu nem sei teu nome.
— Verdade. Me chamo Eron.
— Prazer, Eron. Maya.
— O prazer é todo meu, Maya.
Os olhos dele brilharam brevemente sob a luz fraca da sala, e por um instante, Maya teve aquela mesma sensação estranha da estrada: como se algo dentro dela estivesse em alerta... como se tivesse acabado de cruzar um limite invisível.
Eron, com seu jeito tranquilo e sorriso contido, parecia mais do que um simples estranho simpático.
Muito mais.
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Atualizado até capítulo 33
Comments
Paulo St
muito bom e misterioso.
2025-05-30
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