Capítulo 3

Precisava arrumar um namorado. A ideia martelava na minha cabeça enquanto eu me arrumava para o encontro que Marian tinha marcado. Se eu tivesse alguém fixo, seria mais fácil. Não precisaria passar por situações constrangedoras como beijar Vicente no meio do ensaio ou implorar por um selinho em festas aleatórias. Só tinha um problema: eu não gostava de ninguém. Olhei no espelho do banheiro da faculdade, ajustando o batom. Marian apareceu atrás de mim, toda sorridente.

— Ele é super legal, Ana! É amigo do Miguel, super tranquilo, gosta das mesmas coisas que você.

— Se for tão "super" assim, por que você não ficou com ele? — cutuquei, nervosa.

— Porque eu já tenho o Miguel, sua ingrata! — ela riu, dando um tapa na minha mão. — E você precisa de alguém para conseguir lidar com a sua condição.

Fiz careta. “Condição.” Parecia que eu tinha uma doença contagiosa. O plano era simples: cinema e depois jantar. Miguel e Marian formariam o casal "descontraído", e eu e o tal amigo, cujo nome eu já tinha esquecido, completaríamos o quarteto. Só que ninguém me avisou que o cara era a versão humana de uma porta.

— Então... você gosta de filmes de terror? — perguntei, tentando puxar assunto no cinema.

— Não.

— Ah... e de comédia?

— Mais ou menos.

Marian, sentada ao lado dele, fez cara de "DESENROLA, ANA" enquanto Miguel segurava o riso. O filme foi a parte mais fácil da noite. Pelo menos ali, ninguém esperava que eu conversasse. No jantar, porém, foi pior.

— Você estuda o quê? — perguntei, espetando meu macarrão sem vontade.

— Engenharia.

— Qual tipo?

— Civil.

— Legal... — sorri, desesperada.

Silêncio. Marian tentou salvar:

— O Adam também gosta de música, Ana! Vocês dois têm isso em comum.

— Que tipo de música? — perguntei, animada.

— Rock.

— Qual banda?

— Todas.

TODAS?! Até o Miguel, que até então estava se divertindo com meu sofrimento, deu uma olhada pro Adam como se ele fosse um alienígena. Na volta pra casa, Marian já estava se arrastando de vergonha.

— Ana, eu juro que ele não era assim quando eu conversei com ele! O Miguel disse que ele era legal!

— Legal pra quem? Pra uma parede? — gritei, rindo de desespero.

— Eu vou achar alguém melhor, prometo!

— Não, obrigada. — sacudia a cabeça. — Prefiro beijar o Vicente de novo.

Marian fez cara de nojo.

— Ele lambia os lábios o tempo todo, Ana.

Em casa, meus pais estavam jantando juntos, raro, considerando que meu pai quase sempre trabalhava até tarde.

— E aí, Ana, quando você vai apresentar um namoradinho pra gente? — meu pai perguntou, como se estivesse falando do tempo. Engasguei com o arroz.

— Tô focada nos estudos, pai.

— Estudar é importante, mas a vida também é feita de outras coisas...  — minha mãe completou, sorrindo.

— Tipo beijar na boca? — soltei, sem pensar.

Meu pai tossiu. Minha mãe congelou.

— Ana!

— Brincadeira! — levantei as mãos, rindo nervosa.

Mas por dentro, só pensava: Como explicar que eu preciso de beijos pra funcionar? No meu quarto, peguei um caderno e fiz uma lista de potenciais pretendentes amorosos:

Ninguém da faculdade — Todos ou já tinham namorada ou eram estranhos demais.

Ex-namorados — Havia só um, e ele tinha mudado de cidade.

Amigos de amigos — Já vimos no que deu.

Parei. E por um minuto me veio na mente alguém improvável, o Leo. Mas, ele era o oposto do que eu buscava. Então, se alguém era bom para me namorar, esse alguém devia ser completamente diferente dele. Com isso, coloquei Leo como exemplo de quem não deveria ser minha escolha. Alguém bem diferente dele seria perfeito. Leo me mostrava como alguém podia se focar tanto em si mesmo, que me causava repulsa. Ele era como um robô programado para perfeição. Por fim, desisti.

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