Vivian
Terminamos o cigarro, e eu a observo — nua, à vontade, passeando pelo meu loft como se fosse dona do lugar. Sabrina mexe nos meus vinis, examina minhas garrafas de bebida e me lança um sorriso provocante, como se tudo ali fosse dela por direito.
— Eu gosto da música You Don’t Own Me, da Joan Jett — comento, ainda sentada, tragando lentamente outro cigarro.
Ela ri, debochada e encantadora ao mesmo tempo.
— Isso é ótimo… Você conhece música de verdade.
Só balanço a cabeça, meio encantada, meio cansada. Ela pega a roupa espalhada pelo chão e vai se vestindo apressadamente.
— Não vou dormir aqui com você — diz enquanto veste a blusa. — Transar tudo bem… duas vezes ainda por cima. Mas dormir… aí já é demais.
Fico apenas olhando, sem responder. Quando ela termina, me levanto e me visto também.
— Tá tarde, deixa eu te levar.
A cidade dorme quando saímos. As ruas estão vazias, silenciosas, com o céu começando a clarear. Paro a moto em frente à casa modesta onde ela mora. Sabrina entra sem dizer “tchau”. Nem um olhar. Nem uma promessa de voltar. Só vai.
Sigo sem rumo. Acabo estacionando perto da praia. Me sento na areia fria, esperando o sol nascer, tentando entender esse vazio que cresce dentro de mim, mesmo depois de uma noite cheia de prazer.
O céu se tinge de laranja e rosa devagar. O mar murmura como se sussurrasse segredos que eu não sei decifrar. Fico em silêncio, só observando o espetáculo do mundo acordando enquanto eu continuo aqui, meio adormecida por dentro.
Quando o sol já está alto o suficiente pra me lembrar que a vida segue, levanto e volto pra casa. Me jogo na cama sem tirar a roupa e durmo o dia inteiro, até o alarme da rotina me puxar de volta.
Acordo, visto meu uniforme, e sigo para o bar. Entre um drink e outro, sorrio como se estivesse tudo certo.
Mas amanhã é segunda. E eu estou de folga.
Talvez eu precise disso: um dia inteiro comigo, sem ninguém por perto. Só eu, minhas músicas… e a lembrança do gosto dela ainda na minha boca.
Passo o dia em casa, meio à toa, meio inquieta. Quando o sol começa a cair, decido sair. Me arrumo devagar, visto uma jaqueta, pego a moto e vou andar sem destino, só para sentir o vento no rosto e o barulho da cidade ocupando o silêncio que me incomoda.
As ruas estão cheias. O céu está pintado com tons dourados e alaranjados. Sigo em direção às áreas universitárias — gosto da movimentação, do contraste entre o cansaço e a vitalidade que se misturam por ali.
E então, eu a vejo.
Sabrina está sentada em uma parada de ônibus, com fones nos ouvidos e uma mochila encostada nos pés. Tem um ar cansado, mas ainda assim... algo nela me chama. Não penso duas vezes. Paro a moto, buzino e chamo:
— Sabrina? Quer uma carona?
Ela tira um dos fones e sorri. Aquele sorriso debochado e leve que só ela tem.
— Oi, Vivian. Tá perdida?
Dou uma risada.
— Só aproveitando minha folga. E aí, aceita uma carona?
Ela hesita, me observa, como se estivesse decidindo se vale a pena ceder ou manter o controle.
— Eu tô indo pra casa. Não sei se é caminho pra você.
— Eu não tô indo pra lugar nenhum, só vagando por aí. Vai ser bom ter companhia.
Ela morde o lábio, e depois sorri.
— Sendo assim... aceito. Já tô esperando esse maldito ônibus há uma hora.
Estendo o capacete e ela sobe, encaixando-se atrás de mim. Quando seus braços envolvem minha cintura com força, eu dou uma risadinha — não esperava o toque ser tão... firme.
— O que você estuda? — pergunto, acelerando pela avenida.
Ela grita sobre o vento:
— Educação Física. Tô no último ano!
— Massa! Vai fazer alguma coisa agora?
— Não. Por quê?
— Porque eu vou te levar num lugar legal.
Ela não responde, apenas aperta um pouco mais o abraço e encosta o rosto nas minhas costas. Sinto seu calor mesmo através da jaqueta.
A noite está apenas começando, e eu tenho uma sensação boa — como se alguma coisa estivesse prestes a acontecer. Algo diferente. Algo... perigoso, talvez. Mas bom.
Sigo em direção ao boliche. Assim que estaciono a moto, Sabrina desce com aquele jeito meio desajeitado e encantador, tirando o capacete e soltando os cabelos. Ela olha em volta e sorri com surpresa.
— Boliche? Eu nunca vim… — ela diz, ajeitando a mochila no ombro. — Sendo assim, não sei jogar.
— É fácil — respondo, piscando. — O importante é a gente se divertir. E dar risada de você errando tudo, claro.
Ela revira os olhos, mas sorri. Entramos no lugar e o ar fresco com cheiro de pizza, fritura e cera de pista nos recebe. As luzes coloridas piscam como em um fliperama antigo, e o som de bolas derrubando pinos preenche o ambiente com vida.
Pegamos os sapatos e vamos até uma pista no canto, mais afastada. Sabrina senta, observa as pessoas jogando, meio curiosa, meio desconfiada.
— Vai, escolhe uma bola — digo. — Sente o peso, vê qual encaixa melhor nos seus dedos. Igual gente grande.
— Isso soa bem sexual, sabia? — ela diz, me olhando por baixo dos cílios.
Dou uma gargalhada.
— É, talvez eu tenha um problema com metáforas.
Ela escolhe uma bola verde, tenta imitar meu jeito de arremessar. A bola vai girando, meio torta, e acerta só dois pinos.
— Dois! — ela comemora, como se fosse uma vitória olímpica.
— Tá contratada pro time, hein — brinco.
Aos poucos ela vai se soltando. Começa a rir de si mesma, me provoca a cada jogada, e eu sinto o clima mudar de novo. É como uma dança — essa coisa de flerte constante, toque acidental, olhar prolongado.
No meio de uma música animada, ela se senta ao meu lado no banco e tira o cabelo do rosto.
— Obrigada por me trazer — diz, com a voz mais baixa, como se estivesse confessando algo.
— Por que o obrigada?
— Porque eu precisava disso. Rir um pouco. Sentir que o mundo ainda pode ser leve… às vezes.
Nossos rostos estão perto demais agora. Os sons do boliche parecem distantes por um segundo. Os olhos dela encontram os meus, e tem algo ali… vulnerável, intenso.
— Você é divertida e linda — digo, sem pensar.
Ela sorri, e dessa vez, é um sorriso diferente. Mais suave. Mais verdadeiro.
Ela segura minha mão, devagar, e aperta de leve.
— E você é linda e ... perigosa.
A tensão entre nós cresce como uma corda esticando, pronta pra arrebentar. Mas em vez de um beijo, ela se levanta e diz:
— Última rodada. Se eu fizer mais de cinco, você paga a pizza.
— E se não fizer?
— Você me leva para casa.
Sorrio para ela enquanto acerto os pinos com um strike perfeito. Sabrina me olha surpresa, fingindo indignação, e diz:
— Você venceu. Eu pago a pizza.
Caminhamos juntas até uma mesa mais afastada, rindo como se o tempo tivesse desacelerado só pra nós. Pedimos uma pizza e, enquanto esperamos, ela me encara com aquele olhar de desafio disfarçado de charme.
— Na próxima eu ganho. — Ela diz, colocando um pedaço de pizza na boca, os olhos brilhando.
— E quando vai ser a próxima vez? — pergunto com a voz baixa, provocando.
Ela sorri, mastigando devagar, e responde:
— Logo. Pode apostar.
Ficamos ali por horas, conversando sobre tudo e nada, mergulhadas naquele clima leve e envolvente, como se o mundo do lado de fora tivesse deixado de existir.
Depois da pizza, a levo até em casa. A moto desliza tranquila pelas ruas já mais silenciosas. O vento brinca nos cabelos dela e, por um instante, me pego desejando que o caminho não tivesse fim.
Paramos em frente à casa dela. Sabrina tira o capacete devagar, desce da moto e se aproxima.
Ela segura meus dedos por um segundo, como se não quisesse soltar, e sussurra:
— Tchau.
Depois, beija meu rosto com delicadeza, quase com carinho demais para algo que deveria ser casual... e entra sem olhar para trás.
Fico ali parada por alguns segundos, sentindo o calor do toque dela ainda na minha pele.
Só então dou partida na moto e sigo para casa, com um sorriso torto no rosto e o peito apertado, como se alguma coisa tivesse mudado — mesmo que eu ainda não saiba o quê.
...Gostou do capítulo?...
...Então me ajuda aí, vai!...
...Clica no coração, comenta o que achou (eu amo ler!)...
...E se quiser me deixar ainda mais feliz, clica em "Presentear" ou assiste um vídeozinho — isso me ajuda muuuito a continuar escrevendo essas cenas quentes, intensas e cheias de emoção!...
...Até o próximo capítulo... ou próximo beijo roubado!...
...— Gabs Oliver...
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Atualizado até capítulo 34
Comments
Cleice Silva
Estou amando a história de Sabrina e Vivian/Heart//Heart//Heart/
2025-06-06
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