A notícia

Ainda estou aqui, encolhida no canto frio do calabouço, quando o som de passos ecoa pela escuridão.

Meu corpo inteiro se enrijece.

Sinto o cheiro de tochas queimando, o ranger de metal contra pedra. Alguém está vindo. Alguém está vindo para mim.

O medo é como um nó sufocante na minha garganta.

Quando a porta se abre, a luz me cega por um instante. Pestanejo e me encolho ainda mais, como um animal acuado. Dois soldados entram, armados até os dentes, rostos inexpressivos.

- Levante-se. Um deles ordena com brutalidade.

Minhas pernas protestam, dormentes de tanto tempo na mesma posição. Me apoio na parede e me esforço para ficar de pé. Cada músculo do meu corpo dói, mas o medo me impulsiona.

O que vão fazer comigo?

Não dizem uma palavra enquanto me puxam para fora da cela, arrastando-me pelos corredores úmidos e sombrios do calabouço. Meus pés descalços deslizam na pedra fria. Tremo, não sei se de frio ou de puro pavor.

Subimos escadas estreitas, corredores iluminados apenas por tochas.

E então, portas enormes se abrem diante de nós.

O salão do trono.

Embora já o conhecesse, me lembro de algumas histórias que ouvi sobre esse lugar. Nenhuma dela é como a que estou vivenciando.

Esse lugar é grande e ameaçador.

As paredes são altas, cobertas de tapeçarias vermelhas e douradas. O teto abobadado parece se perder na escuridão. No centro, elevado em degraus de mármore, está o trono. E sobre ele, como uma sombra viva, está o Rei Raphael Valmont.

Meu coração martela no peito com tanta força que sinto como se fosse rasgar minha carne.

Ele está vestido de azul turquesa e ouro hoje. Sua capa longa desce como uma cascata pelas costas do trono. A coroa pesada brilha sob a luz difusa das tochas, lançando reflexos de poder e morte.

Seus olhos me encontram.

E eu sou esmagada por aquele olhar.

Sinto meu corpo inteiro querer recuar, fugir, desaparecer. Mas estou presa. Sem para onde correr. Sem para quem gritar.

Sou forçada a avançar até o centro do salão. O soldado me força a ajoelhar mas me recuso.

- Ajoelhe - se. Ele grita, mas permaneço imóvel.

Ele tenta me forçar mas me recuso a me dobrar.

- Reverencie o Rei! Ele grita.

Minhas palavras saem baixa mas com com firmeza.

- Ele não é digno de honra.

O soldado bate na parte de trás do meu joelho com uma vara de ferro me fazendo cair ajoelhada no chão. E sou deixada de joelhos sobre o mármore frio.

- Saia. O Rei Raphael ordena aos soldados com um aceno de mão.

Ficamos apenas nós dois.

O Rei e a prisioneira.

O predador e a presa.

Tento respirar, mas o ar parece grosso, denso demais para passar pela minha garganta.

Ele desce os degraus lentamente, cada passo um aviso, cada movimento calculado para dominar, para intimidar.

Quando para diante de mim, estou tremendo.

Mas ergo o queixo. Não vou deixá-lo ver o quanto estou quebrada por dentro.

Ele observa meu rosto como quem examina um artefato raro. Seus olhos descem pelo meu corpo, agora sujo, os cabelos desgrenhados, o vestido de noiva rasgado e imundo.

- Você ainda é bonita... mesmo assim. Sua voz é baixa, quase gentil. Mas eu sei que é apenas uma ilusão. Ele é como uma serpente, bela e letal.

Não respondo.

Não me permito.

Se ele espera que eu suplique, vai esperar para sempre.

O silêncio entre nós é cortante.

Então, com um sorriso que não alcança seus olhos, ele diz:

- Você será minha esposa, Aurora Moreau.

As palavras são lâminas, cravando-se fundo no meu peito.

Eu o encaro, sem acreditar.

Talvez eu tenha ouvido errado. Talvez seja apenas mais um jogo cruel.

- Nunca. Sussurro com a voz rouca.

O sorriso dele se alarga, satisfeito como um caçador vendo a presa lutar.

- Você não tem escolha. Eu já decidi.

Sinto as lágrimas queimarem meus olhos, mas me recuso a deixá-las cair. Não diante dele.

- Por quê? Pergunto, minha voz saindo mais forte do que sinto por dentro. - Por que fazer isso?

Seus olhos escurecem, algo feroz cintilando ali.

- Porque você ousou me desafiar. Sua mão se fecha em torno do meu queixo, me forçando a olhar para ele.

- Porque há algo em você que ainda não sei se quero destruir... ou possuir.

Minhas mãos se fecham em punhos. Meu estômago se revira de raiva e desespero.

Quero gritar. Quero bater nele. Quero acordar e descobrir que tudo isso é um pesadelo.

Mas não é.

É real.

Tão real quanto o sangue que ainda seca sob as minhas unhas.

Tão real quanto o corpo sem vida de Thomas, atrás das minhas pálpebras fechadas.

- Você matou o homem que eu amo... Sussurro, sentindo minha voz falhar.

- Você destruiu a minha vida.

Ele se inclina, seu rosto tão perto do meu que posso sentir o calor de sua respiração.

- Não. Isso não é nem o começo do que pretendo fazer com você. Diz com suavidade aterradora.

- Eu vou te recriar. Você será muito mais do que a esposa de um pobre ferreiro. Você será rainha.

Solto uma risada amarga, trêmula.

Rainha?

Que tipo de rainha seria eu, acorrentada, arrancada de tudo que amava, forçada a se casar com o monstro que arruinou minha vida?

- Prefiro morrer. Cuspo as palavras.

Ele apenas sorri de novo, lento, perigoso.

- Não, Aurora. Você vai viver. Vai aprender a ser minha. E, um dia, quem sabe... poderá até me agradecer.

Meus olhos queimam de ódio.

Eu nunca, nunca vou me render a ele.

- Não vou aceitar. Vou protestar esse maldito casamento não vai acontecer, não vou me render. Digo com raiva.

- Se ousar me desrespeitar, se me afrontar na frente das pessoas. Eu te amarro nua, na frente dos seus amigos, dos seus familiares e ordeno que TODOS os meus soldados estuprem você...por dias. Sem qualquer pena ou arrependimento. Ele diz de maneira fria que meus olhos enchem de lágrimas, ao ponto deu não conseguir conte - las.

Ele é louco, é doente, é cruel e é capaz de fazer isso e ainda pior.

Mas, enquanto ele se vira e ordena a entrada das damas que irão me preparar, uma terrível verdade se infiltra na minha mente:

Eu estou perdida.

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Comments

Renata Boaro

Renata Boaro

será que ele teria coragem de fazer isso com ela.

2025-05-20

0

Anonyamor

Anonyamor

Um doente psicopata totalmente cruel

2025-05-20

0

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