Raphael Valmont
Hoje é o dia mais feliz da minha vida. E esse cheiro de flores frescas que se mistura ao perfume adocicado dos bolos simples que preparamos com tanto esforço.
As vozes dos vizinhos e familiares enchem o ar com risos, música e esperança. Meu coração parece que vai explodir de tanta felicidade, e a cada passo que dou pela pequena capela, antiga no centro do povoado, sinto que meus pés quase não tocam o chão.
- Você está linda querida. Minha mãe diz enquanto ajeita meu vestido com as mãos calejadas. Ela mesma o costurou, noite após noite, sob a luz fraca da lamparina.
É simples, claro, feito de um linho cru que compramos a duras penas, mas para mim é mais lindo do que qualquer seda de princesa ou de rainha. A saia desce solta até meus pés descalços, e uma fita azul amarra a cintura, destacando minhas silhuetas. No cabelo, flores brancas que colhemos ao amanhecer brilham sob a luz dourada do sol da tarde.
- Você é a noiva mais linda que eu já vi. Meu pai sussurra, com os olhos marejados.
Sorrio, sentindo uma lágrima ameaçar cair também. Hoje, todos os sonhos que cultivei em segredo (ter minha casinha, me casar e quem sabe um dia ensinar as crianças a ler, construir um futuro de amor) começam a se tornar realidade.
Olho para a frente, e lá está Thomas. Meu Thomas.
Ele sorri para mim, aquele sorriso tímido e sincero que sempre me fez sentir esperança. Seu traje é tão simples quanto o meu, uma camisa branca de algodão e calças escuras gastas, mas nos olhos dele vejo todo o amor que poderia encher reinos inteiros.
A cerimônia acontece ao som de violinos desafinados e cantos alegres. O velho padre, com sua barba branca e seus olhos bondosos, começa a proferir as bênçãos. As palavras são simples, mas cada sílaba é carregada de significado. Thomas segura minhas mãos com força, e eu sinto a segurança que sempre encontrei nele. É como se nada no mundo pudesse nos separar.
- Thomas, você aceita Aurora como sua esposa, prometendo amá-la, honrá-la e protegê-la, em todos os dias de sua vida? Ele pergunta.
- Sim! Thomas diz, a voz firme, os olhos fixos nos meus.
Meu coração dança no peito.
- Aurora, você aceita Thomas como seu esposo, prometendo amá-lo, honrá-lo e caminhar ao lado dele, na alegria e na dor?
- Sim. Respondo, quase sem fôlego.
Thomas retira do bolso uma simples aliança de ferro. Não é ouro, não é prata, mas para mim brilha como o mais precioso dos tesouros. Ainda mais que foram forjadas por ele. Thomas pega minha mão, e desliza o anel em meu dedo.
Um estrondo faz as portas da velha capela voarem contra as paredes. A música e os risos morrem instantaneamente. Um vento frio atravessa a sala, trazendo consigo um cheiro amargo de ferro e medo.
Soldados de armaduras negras invadem o lugar como uma sombra viva, empurrando e derrubando todos em seu caminho. Gritos ecoam. Crianças começam a chorar.
E então ele entra...
O Rei!
O temível Raphael Valmont.
Ele caminha no centro dos soldados, vestido em um manto de veludo vermelho-escuro, a cor do sangue coagulado. Seus olhos são duas fendas gélidas, frias como a morte, e mesmo sem dizer uma palavra, sua presença enche o lugar de terror.
Meu corpo se enrijece. Um calafrio percorre minha espinha.
- Por ordem de sua majestade, esta mulher agora pertence à coroa. O chefe dos soldados anuncia, a voz rouca, apontando diretamente para mim.
Meu coração para de bater.
- Não! Thomas grita, colocando-se entre mim e os soldados.
- Ela é minha! Nós estamos nos casando, ela é minha esposa! Vocês não têm esse direito!
O rei sorri. Um sorriso cruel, desprovido de qualquer traço de humanidade.
- Casando? Ele diz, como se cuspisse a palavra.
- Tudo nesse reino me pertence...inclusive esse medilcre plebéia. E ela agora é minha!
Antes que eu possa reagir, Raphael Valmont saca sua espada longa, uma lâmina tão negra quanto a noite e, com um único movimento rápido e preciso, ele arranca a cabeça de Thomas como se estivesse ceifando uma flor.
- Aaaaaaaaaa!!!! Eu grito assim que a cabeça dele rola tocando meus pés e manchando meu vestido com sangue.
O lugar explode em desespero. Mulheres choram, o velho padre desmaia, homens tentam resistir, mas são facilmente subjugados pelos soldados, que impedem todos de sairem.
Eu estou em choque, olhando para Thomas. Não consigo me mover, não consigo respirar. Tudo que vejo é o corpo de Thomas caído no chão, o sangue se espalhando como uma mancha viva no chão e em mim.
Raphael caminha até mim, seus olhos predadores cravados nos meus.
- Você será minha. Ele diz, a voz baixa e ameaçadora, como um trovão distante.
- E aprenderá a obedecer.
Tento me afastar, mas ao primeiro movimento mãos de ferro me seguram pelos braços. Luto, grito, imploro, mas é inútil.
Ele se aproxima, olha nos meus olhos, um olhar frio que me faz sentir um arrepio que percorre a espinha.
- Se resistir, todos nesse maldito lugar vão terminar como esse verme. Ele diz e aponta a espada para o corpo de Thomas.
Eu olho para minha mãe que chora inconsolada, e apavorada. Ela balança a cabeça dizendo "não". E eu então aceito a minha pena.
Sou arrastada para fora da capela, deixando para trás o corpo de Thomas, meu grande amor.
Meus olhos encontram os de meu pai uma última vez. Ele chora, caindo de joelhos, gritando meu nome.
- Aurora... minha filha... Aurora... Mas os soldados começam a agredi - lo.
O mundo à minha volta desmorona.
Sou empurrada para dentro de uma carruagem escura, com as janelas lacradas. O cheiro de couro velho e ferro enche minhas narinas. Atrás de mim, a porta se fecha com um estrondo que ecoa como uma sentença.
Sinto o chão sob mim sumir.
Sinto minha alma despedaçar.
Hoje era para ser o dia mais feliz da minha vida.
Hoje, tudo foi tomado de mim.
E eu sou prisioneira do rei.
Do homem que tirou o amor da minha vida, o matando com as próprias mãos.
O monstro que agora diz que eu lhe pertenço.
Meus sonhos, minha liberdade, minha felicidade... tudo foi destruído.
Só me resta a esperança fraca de morrer e quem sabe reencontrar o meu amor. Mas resistirei até a morte pela memória de Thomas.
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Atualizado até capítulo 36
Comments
Dayane Medella
dia 19/05/2025
primeiro capítulo já é chocante imagine o resto
2025-05-20
0
Erika Kinha
Amo ler romance de época! Parabéns querida autora!!/Drool/
2025-05-16
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Marcia 🌻
comecei hoje dia 17/05 e vamos que vamos 😊😊
2025-05-18
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