Uma decisão

REI RAPHAEL VALMONT

A noite se arrasta do lado de fora das janelas pesadas da minha suíte real, mas dentro deste quarto dourado e silencioso, o tempo parece congelado.

Meus cotovelos repousam sobre a borda da varanda de pedra. Deixo que o vento frio da noite açoite meu rosto, tentando, em vão, afastar o tumulto dentro de mim.

Aurora Moreau.

Seu nome queima em minha mente como fogo.

Fecho os olhos, mas ainda a vejo, como no dia que a conheci. Agora coberta de sujeira, mesmo com o vestido rasgado e o olhar cheio de ódio, mas ainda assim, ela é bela. Tão bela que irrita, que fere.

Ela deveria ter se ajoelhado diante de mim. Ter baixado a cabeça e agradecido a honra que é ser notada por seu Rei.

Mas não.

Ela ousou me desafiar.

Ela ousou me olhar nos olhos.

Ela ousou me rejeitar.

Sinto os músculos da mandíbula tensionarem, meu punho se fecha sobre a pedra fria. Nenhuma mulher jamais fez isso. Nenhuma mulher jamais ousou.

E por isso ela é diferente.

Por isso ela se infiltra nos meus pensamentos.

Por isso não consigo apagá-la da mente.

A porta do quarto range ao ser aberta, rompendo meu turbilhão interno. Não preciso me virar para saber quem é. Apenas um homem teria a ousadia, ou a permissão de entrar sem ser anunciado.

- Majestade. A voz firme de Cedric Beaumont enche o aposento.

Me viro devagar.

Cedric está impecável como sempre, suas vestes brancas decoradas apenas com bordados em fio de ouro. Seus olhos são frios, calculistas, tão afiados quanto sua mente. É meu braço direito desde os tempos de guerra, e se há um homem neste mundo cuja opinião considero, é ele.

- O que quer? Pergunto, minha voz rouca de tantos pensamentos não ditos.

Ele se aproxima a passos medidos, as mãos cruzadas nas costas.

- Vim saber o que pretende fazer com a prisioneira. Sua expressão não muda, mas seu tom carrega um leve peso de advertência.

- O povo murmura, Majestade. Eles falam sobre a garota... sobre o seu noivo Thomas. Alguns até dizem que foi brutalidade desnecessária.

Sorrio de canto, frio como gelo.

- Brutalidade é a linguagem que eles entendem.

Cedric me encara por longos segundos. Sei que ele mede suas próximas palavras com cuidado.

- E ainda assim, pergunto: o que fará com ela?

Viro-me completamente, caminhando até a imensa cama real coberta de veludo vermelho e dourado. Meus dedos deslizam pelo tecido enquanto penso.

O que farei com ela?

Mantê-la em uma cela até definhar? Não. Aurora é feita de luz e fúria. Ela morreria, mas não se dobraria.

Vendê-la como escrava?

Ridículo.

Não. Há apenas uma maneira de possuir algo como ela...de verdade.

- Vou me casar com ela. Anuncio, a voz soando com a firmeza de uma sentença de morte.

Cedric arqueia uma sobrancelha, controlando mal sua surpresa.

- Majestade... Ele respira fundo, escolhendo cada palavra como se pisasse em terreno minado.

- Ela é insolente, rebelde, sem qualquer etiqueta ou...ele respira fundo...ela não é dá nobreza. Não serve para rainha. Seu povo jamais a aceitará.

Dou uma risada seca.

- Quando o povo me aceitou? Pergunto, me aproximando dele, deixando que minhas palavras sejam uma lâmina.

- Eu não preciso da aprovação deles. Preciso apenas da obediência deles.

Cedric não recua, mas sua boca se comprime numa linha dura.

- Você matou a última rainha por muito menos do que esta já lhe deu de afronta. Diz ele, a voz baixa, quase como um lembrete.

A imagem de Alina passa como um fantasma pelo fundo da minha mente. Tão bela. Tão traiçoeira.

Não me permito fraquejar. Alina era uma cobra disfarçada de flor. Aurora é fogo puro.

- Eu gosto de desafios. Respondo, encostando o ombro contra a parede, cruzando os braços.

- Ela ainda não entende o poder que um Rei pode ter sobre uma mulher.

- E quando acha que ela vai entender? Cedric pergunta.

- Quando ela tentar envenená-lo, apunhalá-lo? Quando ela cuspir em sua coroa?

Sorrio, devagar.

- Então será ainda mais interessante quebrá-la.

Cedric suspira, exasperado.

- Há coisas que nem mesmo um Rei pode domar, Majestade.

- Então vamos descobrir se Aurora Moreau é uma dessas coisas.

Por um instante, apenas o som do vento preenche o aposento.

Depois de anos de batalhas, traições e jogos políticos, eu conheço bem meu próprio coração: um terreno árido, sem espaço para o amor ou para ilusões românticas. O que sinto agora não é amor. É posse. É necessidade. É uma fome crua que não sei de onde vem, apenas que ela existe e se alimenta toda vez que penso nela.

- Mande preparar as proclamações. Ordeno, com a autoridade que não admite réplica.

- O rei escolheu sua rainha.

Cedric hesita apenas um segundo antes de se curvar.

- Como desejar, Majestade.

Ele se retira tão silenciosamente quanto entrou.

Fico ali, olhando para a noite escura, sentindo um sorriso se formar em meus lábios. Um sorriso que sei ser mais próximo de uma ameaça do que de qualquer felicidade real.

Aurora ainda acredita que pode me odiar.

Que pode me desafiar.

Que pode me vencer.

Mas logo, muito em breve, ela aprenderá.

Um Rei não pede.

Um Rei toma.

E eu tomarei tudo o que ela é.

Até que ela não tenha outra escolha senão pertencer a mim.

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Comments

Anonyamor

Anonyamor

Dulce Gama acredito que há alguns séculos atrás os Reis que não temiam a Deus, não respeitavam o povo que ele mantinha sob seus pés, fazia isso e muito mais!
Espero que até o fim da estória ele esteja de quatro por ela e rastejando pelo seu amor atenção carinho.....

2025-05-20

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Dulce Gama

Dulce Gama

será que na a vida real os Reis príncipes são assim bruto /Rose//Rose//Rose//Rose//Rose//Rose//Gift//Gift//Gift//Gift//Gift//Gift//Heart//Heart//Heart//Heart//Heart//Heart//Good//Good//Good//Good//Good//Good/

2025-05-16

0

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