...Mikaela Alencar ...
A festa já está animada quando chego, atrasada como sempre, perdi a cerimônia, mas foi melhor assim, assistir uma cerimônia de casamento não é bem o que eu preciso nesse momento. Estou usando um vestido cor de vinho, elegante e discreto, meus cabelos estão presos com alguns fios soltos que suavizam minha expressão, que é normalmente séria. Não espero muita coisa do dia de hoje, só quero marcar presença, sorrir para os noivos, e ir embora antes que alguém tente puxar assunto demais.
Mas assim que entro e avisto o noivo no altar, sinto um leve frio na barriga. Ele é filho do primo da minha mãe. Gente distante, mas suficiente para me obrigar a aparecer.
Cumprimento os noivos que estão lindos e radiantes, muito felizes, e espero do fundo do meu coração que essa felicidade dure, pois um dia estive no lugar deles e também pensei que seria feliz para sempre, grande engano.
— Olha só se não é a sobrinha mais linda desse mundo. — meu tio Leonardo vem até mim e me abraça e deixa um beijo na minha testa em seguida.
— Deixa minha irmã e minhas primas ouvirem isso. — ele sorri.
— Eu sou sincero.
— Obrigada tio. Como estão os meninos? — pergunto me referindo aos meus quatro primos, filhos dele com minha tia Rafa, a ruiva mais linda desse mundo.
— Bem, estão todos aí com com os agregados, Davi quis convidar todos, já que diferente do chato do pai dele gosta de uma bagunça. — meu tio sorri e eu também
Caio Alencar é um advogado super renomado, casado com outra advogada também super renomada e juntos têm doze filhos, não sei como conseguiriam, mas conseguiram e os sete mais velhos já estão adultos e seguindo suas vidas. Inclusive um deles está casando hoje, com a loirinha Adams, irmã do moleque.
— Mas pelo o que eu sei Caio gosta de uma bagunça, quem tem doze filhos e muitos netos tem que gostar.
— Mas a bagunça dele é só com a família dele e da Raquel, isso não inclui os terceiros, no caso nós, nem sei como ele me convidou para o casamento dele, por isso meu preferido é o Fafá, Fafá tem meu coração. — sorrio.
— Você é uma graça, tio.
— Por isso sou seu tio preferido.
— Você é o único. — digo e ele sorri.
Minha mãe tem somente ele e minha outra tia de irmãos e meu pai só tem irmãs, então ele de fato, é meu único tio.
— Vou indo ficar com sua tia, não posso deixá-la sozinha por muito tempo, tinha um novinho secando ela, esses novinhos são um perigo.
— São. — digo sorrindo e ele deixa um beijo na minha testa e vai para perto da minha tia.
Observo ele falando algo para minha tia que nega com a cabeça e sorri, eu sorrio também por ver o quão lindo eles são juntos e mesmo depois de muitos anos ainda se amam. A verdade é que eu também queria algo assim, queria que meu casamento tivesse dado certo, queria passar minha vida com ele. Nos casamos aos 20 anos e muito apaixonados, ele não foi meu único homem, mas foi o único que amei, não é a toa que escolhi me casar com ele.
Esse é o primeiro casamento que venho depois que me separei dele e no fundo é um pouco difícil esse ambiente.
Respiro fundo e meus olhos cruzam com os de alguém do outro lado da pista de dança, um certo novinho.
Miguel.
Ele veste um terno escuro, gravata frouxa, e o cabelo penteado com esforço visível. Quando me vê abre um sorriso lento, quase cínico, como se soubesse que aquele reencontro ia acontecer mais cedo ou mais tarde.
Desviou o olhar, mas já é tarde.
Minutos depois, enquanto conversava com Laura, uma das trigêmeas do Caio, Miguel se aproxima de nós.
— Oi Laura. — ele diz e eu olho incrédula para ele, não faço ideia como ele sabe quem é quem.
— Oi Miguelito. — ela diz e ele sorri.
— Como sabe quem é quem? — pergunto para ele que sorri e ela também.
— Crescemos juntos, aliás, elas me viram crescer, nossas famílias são amigas faz muitos anos. — ele diz e Laura assente.
— Miguelito foi o bebê mais gordinho que eu já vi. — Laura diz e ele fica envergonhado.
— Não precisa de tantos detalhes, Lalá. — ele diz e ela aperta a bochecha dele.
— Continua fofinho… bom, vou indo, preciso ver onde estão minhas crias e o pai delas também. — ela pisca para mim e sai.
— Engraçado o mundo, né? — Miguel diz. — Minha irmã casa com o parente da delegada mais linda que eu conheço. — reviro os olhos e nego com a cabeça.
— Delegada mais linda? — respondo, virando-me lentamente para encará-lo.
— Tô sendo bem específico.
Dou uma risada curta, nervosa. Ele não devia mexer tanto comigo, principalmente em um lugar cheio de parentes e expectativas. Mas droga, ele mexe sim.
— E aí, veio só causar ou vai se comportar? — pergunto.
— Vim me comportar. Só que... ninguém disse que não posso me divertir um pouco no processo.
Ele estende a mão, num gesto educado, mas com aquele brilho provocador nos olhos.
— Me concede uma dança? — ele pergunta.
Hesito. Olho para os lados, como se procurasse uma desculpa. Mas não acho nenhuma convincente. E a mão dele está aqui, firme, segura, esperando.
— Só uma. — digo, colocando os dedos suavemente sobre os dele.
— Uma é tudo que eu preciso.
Nós vamos para a pista de dança, ao som de uma música lenta, envolvente. Miguel mantém uma distância respeitosa, mas seus olhos não me deixam escapar. Sinto os olhares curiosos ao redor, mas pela primeira vez, não me importo.
Aqui entre as luzes suaves do jardim e o cheiro de flores e vinho, percebo que essa história, por mais errada que pareça, está ganhando vida própria.
E Miguel... Miguel dança como se tivesse esperado esse momento desde o primeiro dia em que me viu.
A música terminou devagar, e eu recuo um passo, soltando a mão dele com calma, mas os olhos ainda presos nos dele. Há algo estranho aqui, não desconfortável, mas perigoso. Como se cada segundo que passássemos juntos fosse um convite a atravessar uma linha que não tenho certeza se quero cruzar.
— Obrigada pela dança. — disse, tentando manter o tom neutro.
— Foi um prazer. — respondo, ainda com o sorriso contido.
Viro-me para sair, mas ele me segue sem pressa com as mãos nos bolsos do paletó.
— Vai fugir de novo? — ele pergunta.
— Não tô fugindo, só… tentando manter o bom senso.
— O mesmo bom senso que te fez aceitar dançar comigo?
Paro, respiro fundo, e o encaro.
— Miguel, você é dez anos mais novo. Isso não é só uma diferença de idade, é uma diferença de fases. Eu tenho carreira, responsabilidades. Você está começando a viver.
— E você acha que por isso eu não sei o que quero?
— Eu acho que você ainda vai querer muitas coisas antes de ter certeza do que realmente quer.
Ele fica em silêncio por um momento. Depois, abaixa os olhos, pensativo, e sorri de lado.
— Talvez. Mas hoje, aqui, agora… eu sei.
Me sinto desarmada. O jeito como ele fala não é mais só provocação. Tem peso. Tem intenção.
Olho ao redor, os convidados rindo, brindando, os noivos abraçados no centro da pista. Um clima de celebração. E, ao meu lado, Miguel. Ainda um garoto, talvez. Mas com uma insistência que me faz repensar certezas.
— Tá bom, Miguel. — digo, mais suave desta vez. — Vai pegar uma água pra mim? — ele arqueou uma sobrancelha.
— Isso é um “fica por perto”?
— É um “ainda tô aqui”. — respondo, quase sorrindo.
Miguel deu um passo para trás, sem tirar os olhos de mim.
— Já volto. — ele diz.
Enquanto o vejo se afastar em direção ao bar, sinto um frio estranho no peito. Um misto de medo e excitação. Não sei onde isso vai dar. Mas, pela primeira vez, não tenho tanta certeza se quero parar.
Talvez, só talvez, valha a pena descobrir.
— Sua água. — ele diz me entregando a taça.
— Muito obrigada. — digo e ele sorri.
...****************...
Já passa das duas da manhã quando saio discretamente da festa. Estou cansada, mas não daquele tipo de cansaço físico, é um cansaço emocional, como se tivesse segurado minhas reações por horas. Entro no carro, tiro os sapatos e encosto a cabeça no banco por alguns segundos, respirando fundo.
Não demora muito para o celular vibrar no console. Mensagem de um número salvo recentemente: Miguel Adams.
Ele praticamente me implorou pelo meu número de celular e depois de muita insistência eu dei meu número para ele e ele salvou o dele no meu celular.
Miguel: Chegou bem? Não vi você sair. Tava esperando a segunda dança.
Sorrio, com meu rosto iluminado pelas luzes do painel do carro. Não respondo a mensagem de imediato. Sei que se responder agora, abrirei espaço. Mas a verdade é que, mesmo querendo resistir, quero responder.
Depois de alguns minutos, digito:
Eu: Cheguei bem. E só te dei uma porque você dançou direitinho.
Respondo que cheguei, embora não tenha nem saído do estacionamento ainda.
Ele responde quase no mesmo instante.
Miguel: Então ainda tenho chance de mais uma. Ou duas.
Não respondo. Guardo o celular e dou partida. O silêncio da madrugada ajuda a organizar os pensamentos, mas mesmo assim, Miguel continua aqui, no gesto seguro de quando estendeu a mão, na firmeza do olhar, na forma como me olhou enquanto dançávamos. Ele não é mais o adolescente preso por imaturidade e más escolhas. Está mudando. E isso me deixa mais desconcertada do que quero admitir.
...****************...
Nos dias seguintes, ele mandou outras mensagens. Sempre leves, com um toque de humor. Por algum tempo, ignorei algumas. Mas outras, respondi. Uma troca silenciosa foi se formando: ele insistia, mas nunca forçava. E eu, aos poucos, deixei as barreiras caírem.
Até que, numa sexta-feira à noite, ele mandou:
Miguel: Uns amigos abriram uma hamburgueria. Nada demais, mas é o primeiro negócio deles. Vai lá conhecer, se quiser. A primeira batata frita é por minha conta.
Demoro a responder.
Eu: Se a batata for boa, talvez eu até fique pro milkshake.
Miguel: Se você aparecer, faço pessoalmente o melhor milkshake da cidade.
Eu sorrio balançando a cabeça.
Talvez, ele não seja mais só um “moleque”.
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Atualizado até capítulo 29
Comments
Charlotte Peson
Eu estou amando o bororo dos dois !!! Miguelito está só cercado com paciência e calma ☺️!!
2025-05-11
6
Michele Bonfim
E tem.fase melhor do que essa, o.flerte, as msgs, o clima,.ansiedade.crewcendo pra saber no que vai dar, descobrir os sentimentos kkkk tão bom
2025-05-11
3
Ana Karol Campos
pelas minhas contas, ela deve ter uns 30 anos!
2025-05-12
2