A Porta Velada
Carolina desceu os degraus com o coração disparado. A conversa com o homem de terno branco ainda ecoava em sua mente, como se cada palavra tivesse sido escrita diretamente em sua pele. Não havia mais volta. Havia feito uma escolha e, com ela, o véu que separava o comum do extraordinário fora finalmente rasgado.
À sua frente, o salão havia mudado sutilmente. As luzes estavam mais baixas, as sombras mais densas, os sorrisos mascarados mais largos — quase famintos. Ela se sentia diferente, mais consciente de cada passo, cada olhar, cada sensação. O perfume do ambiente estava mais forte, como um néctar proibido: âmbar, desejo e risco.
No centro do salão, um homem alto com cabelos prateados e luvas negras esperava por ela. Seus olhos tinham uma tonalidade difícil de definir — entre cinza e violeta — e sua postura era a de alguém que conhecia todos os segredos que os outros temiam descobrir.
— Você viu. Agora deve atravessar. — disse ele, a voz suave, mas com um comando invisível por trás.
— Atravessar o quê?
Ele ergueu o braço e apontou para o fundo do corredor principal. Lá, entre duas tapeçarias antigas, havia uma porta cinza, quase imperceptível, como se o próprio ambiente tentasse escondê-la. Não tinha maçaneta, apenas um símbolo talhado: dois triângulos entrelaçados dentro de um círculo.
— Ali está o que você procura. Mas não entrará sozinha.
Foi então que Damian surgiu ao seu lado. Ela não o tinha ouvido se aproximar, mas sentiu sua presença antes mesmo de vê-lo. Seu olhar estava mais intenso que antes, como se algo nele também tivesse mudado.
— Você está pronta? — ele perguntou, e dessa vez não havia sedução em sua voz, apenas sinceridade.
— Não. Mas mesmo assim, vou entrar.
Damian sorriu de lado, como se esperasse exatamente essa resposta. Ele tocou o símbolo na porta e um feixe de luz escapou pelas bordas. A madeira rangeu suavemente e a entrada se abriu, revelando um corredor estreito iluminado por lanternas azuis.
Carolina entrou primeiro. As paredes pareciam pulsar, como se respirassem. Quadros antigos decoravam os corredores, mas não retratavam pessoas — e sim emoções. Pinturas que pareciam vivas, mostrando momentos de dor, êxtase, medo e êxtase outra vez. Ela não sabia se eram arte ou espelhos da alma.
— Este é o Corredor dos Véus, explicou Damian, andando atrás dela. — Cada porta que passar aqui revelará não apenas os segredos deste lugar, mas os seus também. E alguns deles... podem não ser fáceis de suportar.
Ela parou diante de uma das portas. Era feita de vidro escuro, e seu reflexo tremia como água. No vidro, viu a si mesma beijando alguém — não Damian, não ninguém que reconhecesse. Um homem de traços sombreados, com quem parecia estar ligada de forma visceral. O toque entre eles era de uma intimidade feroz.
— Quem é ele?
— Ainda não sabe. Mas vai descobrir. E isso mudará tudo.
Carolina respirou fundo, sentindo o peso da noite cair sobre seus ombros como um manto pesado e sedutor. Ela não era mais apenas uma escritora em busca de inspiração.
Agora, era personagem. E a história estava apenas começando.
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Atualizado até capítulo 52
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