SOMBRAS DA ILUSÃO
O Convite
A noite estava particularmente fria em São Paulo. A chuva caía fina, constante, como se lavasse as memórias que teimam em assombrar os pensamentos de Carolina Ravena. Sentada em frente à enorme janela de seu apartamento na cobertura, ela observava as luzes da cidade dançarem no asfalto molhado. Seus dedos tocavam a taça de vinho tinto com suavidade, mas seus pensamentos estavam distantes.
Faz semanas que não escrevia. A mente, antes fértil e criativa, parecia bloqueada por um muro invisível. Tudo o que conseguia fazer era pensar. Pensar demais. Na solidão, na fama que não preenchia, nos relacionamentos que fracassaram. Ela, que escrevia romances tão intensos e desejados, não conseguia viver um amor verdadeiro fora das páginas.
Foi então que viu o e-mail.
Assunto: Jantar para Mentes Brilhantes
Remetente: Desconhecido.
Mensagem:
> "Carolina Ravena,
Você foi cuidadosamente selecionada para um encontro exclusivo com nomes de destaque em suas áreas.
Um motorista irá buscá-la às 20h.
Use algo marcante.
Sem confirmações. Apenas esteja pronta."
Ela releu a mensagem cinco vezes. Não havia logotipo, não havia assinatura, não havia instruções adicionais. Poderia ser uma jogada publicitária, uma brincadeira ou até mesmo um risco. Mas algo em seu interior, aquela centelha que ainda queimava, se acendeu.
Às 19h30, Carolina se levantou do sofá e caminhou até seu closet. Vestiu um vestido preto de cetim com um decote profundo nas costas, marcando com elegância cada curva. Prendeu os cabelos em um coque baixo, deixando algumas mechas soltas caírem suavemente sobre a nuca. Colocou brincos de ônix e salto fino. Era ousada, mas sutil — como gostava de ser.
Às 19h58, o interfone tocou.
— Senhora Ravena? O carro está aguardando.
O sedã preto tinha vidros escuros e um motorista de expressão neutra. O trajeto foi silencioso. Carolina tentava adivinhar para onde estava sendo levada, mas tudo parecia cuidadosamente planejado para o mistério.
Depois de quarenta minutos, o carro parou diante de um casarão antigo, isolado e imponente, com colunas clássicas e um portão de ferro fundido. A fachada era iluminada apenas por tochas modernas, que imitavam a chama de velas antigas. Um homem elegante a esperava na entrada.
— Carolina Ravena. Que prazer finalmente conhecê-la.
Ele a olhava com intensidade.
— E você é...? — ela perguntou.
— Damian. Damian Lacerda.
Ela conhecia o nome. Um empresário de investimentos, figura misteriosa no mundo das altas finanças, raramente visto em público. Muitos o chamavam de “o fantasma da Bolsa”.
Ele ofereceu o braço. Ela hesitou por meio segundo, depois aceitou. Seus passos ecoaram no mármore negro do saguão. O interior do casarão era magnífico: quadros de épocas passadas, móveis barrocos, luzes suaves. Tudo impecavelmente silencioso.
— O que exatamente é este lugar, Damian? — ela perguntou, sua voz firme apesar da curiosidade.
— É onde as máscaras caem. Ou são colocadas com mais elegância. Vai depender do que você está buscando.
Carolina sentiu um arrepio subir pela espinha. Era como se tivesse atravessado um portal para uma realidade paralela — sedutora, mas perigosamente imprevisível.
Naquele momento, ela soube: a noite estava apenas começando.
E ela já não era a mesma mulher que fechara a porta de casa.
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Atualizado até capítulo 52
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