No dia seguinte, Agatha mal teve tempo de respirar.
A Luna foi até seu quarto, carregando uma mala grande e elegante.
— Estes são os vestidos e as joias que você vai usar no baile — disse, com aquele tom superior de sempre. — Não quero você envergonhando a família.
Agatha nem respondeu. Apenas assentiu, olhando a mala como se fosse uma armadilha brilhante.
Assim que a Luna saiu, ela trancou a porta, puxou uma mochila velha debaixo da cama e começou a montar sua verdadeira bagagem.
Calça legging, shorts jeans, camisetas confortáveis, tênis. Tudo que ela era de verdade. Tudo que ela confiava.
Ela sabia que se dependesse daquela mala cheia de brilho e máscara, acabaria parecendo o que nunca foi: uma filha perfeita, criada no luxo, digna do título que nunca teve.
E Agatha não era isso. Nunca seria.
Quando terminou, escondeu a mochila no fundo do armário.
Deixaria a mala da Luna à vista, para eles pensarem que ela estava obedecendo.
Mas no fundo, ela sabia: a única pessoa em quem podia confiar era ela mesma.
E seja lá o que a esperasse no castelo do Rei Alfa, ela enfrentaria do seu jeito
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No castelo, o Rei Alfa estava de pé, olhando pela janela as carruagens e carros chegando.
O humor dele já tinha azedado antes mesmo do festival começar.
Atrás dele, seu Beta — sempre animado — falava sem parar:
— Tantas lobas lindas e dispostas, Majestade! Vai ser uma festa e tanto! — riu, como se o festival fosse uma caçada fácil.
O rei não respondeu. Nem virou o rosto.
Ele sabia que para a maioria ali, era só mais um jogo. Mais uma noite de corpos e promessas vazias.
Mas para ele... aquilo era uma perda de tempo.
Seu lobo rugia dentro do peito, inquieto, impaciente. Ele queria o que era dele. A ligação verdadeira, o vínculo que anos atrás ele quase desistiu de encontrar.
O rei cerrou os punhos.
Esse festival era uma obrigação, nada mais.
A esperança já tinha morrido há muito tempo.
E ele já sabia: no final daquela noite, tudo que restaria seria mais uma pilha de decepções.
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Agatha foi jogada no banco de trás da SUV junto com seus irmãos.
Como sempre, a ignoraram. Como se ela nem existisse.
Sem paciência para o silêncio tenso, ela colocou os fones de ouvido e deixou a música preencher o vazio.
O som abafava tudo: as conversas, as risadas que não a incluíam, o mundo que não a queria.
O balanço suave da estrada, junto com a música, acabou vencendo.
Ela dormiu.
Só acordou com o sol batendo forte no rosto e o carro desacelerando.
Bocejando, olhou pela janela e viu um grande portão de ferro.
Soldados armados faziam a contagem dos passageiros, checando nomes numa lista grossa.
O motorista baixou o vidro e entregou os documentos. Um dos soldados conferiu, acenou com a cabeça, e liberou a passagem.
A SUV seguiu, rangendo pelos caminhos de pedra.
Quando Agatha ergueu os olhos, prendeu a respiração.
A propriedade era imensa, como algo saído de um livro antigo: campos verdes se espalhavam até onde a vista alcançava, jardins que pareciam ter sido desenhados à mão, fontes de mármore, estátuas de lobos em posições de guarda.
E no centro de tudo, o castelo.
Alto, imponente, com torres que pareciam tocar o céu, feito de pedra negra que brilhava sob o sol.
Era lindo. Selvagem. Imponente.
Por um segundo, Agatha esqueceu de onde vinha.
Esqueceu quem era.
Só conseguia pensar em como aquele lugar parecia tão... diferente de tudo que ela conhecia.
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Atualizado até capítulo 33
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