A respiração das duas garotas estava acelerada.
Luna queria aprofundar o beijo, mas esperava um sinal claro de Aurora.
Aurora, por sua vez, estava em êxtase — paralisada, sem saber o que fazer.
Por um instante, ela voltou a si e se afastou rapidamente de Luna. Quase como se fosse um roteiro, nesse mesmo momento, a luz voltou.
— Me desculpa... foi sem querer. — disse Luna, sem graça, com o coração apertado. Ela acreditava que Aurora não tinha gostado.
— Tudo bem... eu vou descer. — respondeu Aurora, também sem jeito, ainda sem ar.
As duas estavam com as bochechas intensamente coradas.
Aurora desceu as escadas num salto, passando direto pela sala e indo até a cozinha.
Luna permaneceu ali, escorada na porta do quarto, com a mão no peito, tentando controlar a avalanche dentro de si.
— Nossa... foi tão bom. — murmurou para si mesma. Agora tinha certeza: seus sentimentos por Aurora eram reais.
Enquanto isso, na cozinha, Aurora bebia água em grandes goles, tentando acalmar o coração descompassado.
Se apoiou na porta da geladeira, olhando para o nada.
— Eu não posso... — sussurrou para si mesma, e uma lágrima escorreu dos seus olhos silenciosamente.
Mas seu momento de reflexão foi interrompido quando as outras meninas chegaram na cozinha, rindo e falando alto, sem perceber o turbilhão dentro dela.
Por que tá olhando pro nada, doida? Aconteceu alguma coisa lá no quarto? —
Annie perguntou com um sorrisinho malicioso no rosto.
— Não, uai! Não aconteceu nada, ôxente. —
Aurora respondeu rapidamente, guardando a garrafa na geladeira.
— Então por que tá tão estranha? —
Dessa vez foi Lisa quem perguntou, desconfiada.
— Eu tô normal, ué! Eu, hein... —
Aurora tentava disfarçar, mas a tensão era visível.
— Não parece não... suas bochechas tão vermelhonas. Isso não é nada normal. —
Alice completou, cruzando os braços.
Aurora já não sabia mais o que responder, cercada pelas perguntas das três.
— Vamos voltar a assistir o filme, né? —
A voz de Luna ecoou na cozinha, e Aurora agradeceu mentalmente por ela ter aparecido na hora certa.
Mas aí foi a vez das meninas notarem: Luna também estava com as bochechas coradas.
Elas se entreolharam e riram — sabiam que tinha rolado alguma coisa, mas preferiram não pressionar.
— É... bem melhor. —
Disse Aurora, passando direto pro sofá, sem nem conseguir encarar Luna.
Luna a seguiu e sentou-se ao seu lado. Não queria que ficasse aquele clima estranho...
Mas a tensão entre as duas era quase palpável.
Ela precisava quebrar aquele gelo.
— Ainda não escolheram o filme? —
Annie perguntou, impaciente como sempre.
— Ai... e se faltar luz de novo? —
Aurora falou, olhando desconfiada pra Annie.
— E o que o cu tem a ver com as calças? —
— Tudo a ver, Annie. —
Respondeu Luna, entrando na brincadeira.
— Cala a boca, eu nem falei com você! —
Disse Annie, revirando os olhos.
Luna levantou o dedo do meio com a maior tranquilidade, sem perder a pose.
Aurora, que não curtiu o jeito que Annie falou com Luna, tacou o controle bem na cabeça da garota.
Alice, Lisa e até Luna caíram na gargalhada enquanto Annie reclamava que estava doendo.
— Isso é pra você aprender a tratar as pessoas com educação. —
Aurora falou séria, mas com um sorriso de canto nos lábios.
Luna se perdeu ali — naquele sorriso.
A lembrança do beijo voltou, como um flash.
E com seus pensamentos intrusivos, veio a vontade irresistível de tocar aqueles lábios de novo...
Sem pensar muito, Luna levou a mão até a boca de Aurora, puxando-a delicadamente com os dedos.
— Mó vontade de morder... —
Disse rindo, e só depois se deu conta do que tinha feito.
Aurora começou a tossir descontroladamente, e as meninas caíram na risada.
Luna, desesperada, começou a bater nas costas dela pra ajudar:
— Respira, respira, menina! —
Mas era difícil manter a seriedade com o que veio em seguida.
— Sinto cheiro de couro, viu. —
Disparou Annie, se contorcendo de rir.
— Eu também, Annie! —
Lisa respondeu, rindo alto.
Alice completou, quase chorando de rir:
— Sapatonas!—
As três riam igual umas retardadas, enquanto Aurora tossia como se estivesse indo de arrasta pra cima.
Luna já tava quase tendo um treco de nervoso.
A coitada da Aurora, traumatizada, parecia que ia colocar as tripas pra fora de tanto tossir.
Quando finalmente conseguiu respirar, se virou e começou a dar uns tapas leves no braço da Luna.
— Por que diabos você fez isso, Luna?! Meu Deus, viu! Nunca mais faz isso! —
Falou ainda ofegante, olhando indignada.
— Desculpa! Foram meus pensamentos intrusivos! Juro que foi sem querer! —
Luna tentava se defender dos tapas, fazendo uma cara de arrependida.
— Então promete de dedinho que nunca mais vai fazer isso! —
Aurora disse, levantando o mindinho com cara de brava.
As meninas assistiam a cena, achando tudo um verdadeiro show de comédia.
— Tá bom, eu prometo que nunca mais vou fazer isso! —
Luna respondeu, e entrelaçou o dedinho com o de Aurora.
Só então Aurora parou de bater.
— Bom eu vou ir dormi,isso sim.—
— Bom, eu vou é dormir, isso sim. —
Falou Aurora, subindo pro quarto da Alice como se fosse a dona da casa.
Luna, claro, não perdeu tempo e foi atrás feito uma cachorrinha:
— Como assim, uai? Não tô sabendo que vocês duas vão dormir aqui! —
Alice disse, indignada, com as mãos na cintura.
— Eu não sei o resto das garotas, mas eu vou com certeza. —
Aurora respondeu com firmeza, já sumindo no corredor.
— Se a Aurora vai, eu também vou… né, Aurora? —
Luna perguntou, meio esperançosa, esperando um aceno, um sorriso… qualquer coisa.
Mas Aurora não falou nada. Simplesmente subiu, deixando Luna ali plantada, confusa.
— Resumindo… hoje a Luninha vai dormir sem a querida irmã, com certeza! Hihihi. —
Annie não perdeu a chance de provocar. E ainda completou, rindo alto:
— Se fudeu!
Ela também subiu pro quarto da Alice, saltitante.
— Até amanhã… e cuidado com o capeta. —
Lisa soltou, rindo e sumindo escada acima.
— Mas, Alice? Dá pra dormir cinco pessoas no seu quarto! Por que eu não posso? —
Luna perguntou com cara de choro.
— Porque você é muito corajosa… foi a única que subiu quando acabou a luz, lembra? —
Alice respondeu sarcástica, antes de subir também e deixar Luna pra trás.
Sozinha, ela voltou pro sofá. Pegou o controle, tentando achar algo na TV… mas nada prestava.
— Que merda… eu devia era ter ido pra casa. Ninguém me ama de verdade…
— Tá chovendo ainda… pareço um cachorro de rua… nem coberta me dão… —
Resmungava baixinho, abraçada às próprias pernas.
Lá de cima, as três garotas espiavam o drama de Luna lá embaixo — e, claro, riam da desgraça alheia como boas amigas caóticas que são.
Voltaram pro quarto só pra ver a reação da Aurora, mas antes que qualquer uma dissesse algo, ela já foi logo perguntando:
— Cadê a Luna? Ela vai dormir lá mesmo? —
Aurora ajeitava o colchão no chão com um olhar sério.
— A gente falou que ela ia dormir lá. —
Disse Annie, se jogando no colchão com preguiça.
— Como assim? Não tô entendendo… —
Aurora cruzou os braços, o cenho franzido. O tom dela mudou.
— Dissemos que ela ia dormir na sala, porque aqui não dava. —
Alice respondeu casualmente, mas parou assim que percebeu o olhar de morte que Aurora lançou.
Lisa nem se meteu — o olhar matador de Aurora já dizia tudo.
— Mas relaxa… a gente tava só zoando. —
Annie tentou se explicar, rindo.
— Como você pode fazer isso com a Luna, Annie? Você sabe que ela é sensível! —
Aurora já estava irritada.
— Realmente… ela até fez cara de choro… —
Alice comentou, e riu.
Aurora ficou em silêncio por um segundo. Quando ouviu isso, pegou o travesseiro mais próximo e POW! jogou na cara da Annie.
— Ela tava até encolhida… disse que ninguém amava ela. —
Lisa completou, meio arrependida, e Alice só fez que sim com a cabeça.
Aurora bufou e revirou os olhos.
— Eu vou descer… suas idiotas sem sentimento. Coitada da Luna. —
Falou pegando dois travesseiros e uma coberta.
Desceu com pressa, enquanto as três ficaram no quarto rindo alto.
O plano de dormir juntas deu certo. —
Disse Annie, ainda gargalhando com as outras duas.
Enquanto isso, Aurora já estava na sala. As luzes estavam apagadas, apenas a TV piscava no fundo, mas… nada de Luna.
Deve estar na cozinha, pensou ela.
Aurora deixou os travesseiros e a coberta no sofá e foi andando na ponta dos pés até a cozinha.
Chegando lá, encontrou Luna sentada à mesa, devorando uma fatia de pizza como se a vida dependesse daquilo — enfiando com tudo, sem cerimônia.
Ela ainda não tinha percebido a presença de Aurora.
Aurora viu a chance perfeita.
Chegou por trás devagar, segurou firme na cintura dela e gritou:
— Perdeu, perdeu! —
Luna deu um pulo da cadeira, quase jogando a pizza longe.
A boca ainda cheia, os olhos arregalados e a mão no coração.
— Nossa, Aurora! Eu quase tive um treco! —
Disse tentando engolir, meio desesperada, meio ofendida.
Aurora caiu na risada, se apoiando no balcão.
— Não tenho culpa! Você se assusta com tudo! Até com a própria sombra se bobear!
Luna fez bico, limpando a boca com o dorso da mão.
— Cê vai ver só, vou me vingar disso ainda hoje.
— Vem tentar então. —
Aurora provocou com um sorriso de canto, e Luna quase esqueceu da pizza de novo.
— Ah é? —
Disse Luna, rindo, tentando manter o controle.
— É, tô no aguarde, Luninha. —
Aurora respondeu com aquele tom provocativo, mas o olhar… ah, o olhar entregava tudo.
Ela se aproximou, encurtando a distância entre elas, e com delicadeza passou o dedo pelos lábios de Luna.
— Tá sujinho… — sussurrou, quase como uma desculpa pra tocá-la.
As duas sorriram. Era impossível não sorrir naquele momento.
Luna, sem nem perceber, levou a mão até a cintura de Aurora, como se quisesse segurá-la ali, manter aquele instante por mais tempo.
Aurora sentiu o coração acelerar, e pela primeira vez, não soube onde colocar as mãos.
Luna respirou fundo. A coragem vinha aos poucos, mas finalmente escapou pelos lábios:
— Eu… preciso falar com você, Aurora.
A voz trêmula, o olhar fugindo. Aurora arregalou os olhos, sentindo o nervosismo de Luna invadir seu próprio peito.
— Falar o quê? —
Sua voz saiu mais baixa do que pretendia.
Luna hesitou por um segundo. Mas já era tarde demais pra voltar atrás.
— Faz muito tempo... e eu não aguento mais guardar isso só pra mim.
Aurora sentiu a garganta secar. Ela sabia que vinha algo grande.
— Luna… —
Eu gosto de você… e não é como irmã, nem como amiga. Eu gosto de você como mulher, Aurora. —
Falou de uma vez só, para que a coragem não fosse embora.
Aurora ficou em silêncio, sem tempo para raciocinar. Estava surpresa demais. Luna tirou as mãos da cintura dela e se sentou à mesa, esperando, pelo menos, alguma resposta.
— Luna… é que eu… —
Antes que Aurora terminasse, Luna a interrompeu:
— Desculpa te interromper, Aurora. Tá tudo bem. Não precisa falar nada agora. —
— É que você me pegou desprevenida,Luna.—
Aurora estava em êxtase. Ela sentia o mesmo por Luna, mas o medo de destruir uma amizade tão linda, construída ao longo de anos, a fazia hesitar.
—Tudo bem, Aurora. É que eu não aguentava mais guardar isso só pra mim. —
— Eu sinto o mesmo por você, Luna... Mas eu não quero que a nossa amizade acabe. Eu tenho medo... —
Luna estava magoada, mas ao ouvir que Aurora sentia o mesmo, seu coração se acalmou um pouco.
Ela se levantou lentamente, segurou a mão de Aurora com delicadeza e ergueu os olhos até encontrar os dela. Era um olhar doce, mas ao mesmo tempo intenso, cheio de sentimento.
— Tudo bem... Eu vou esperar esse medo ir embora. —
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Atualizado até capítulo 35
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