Capítulo 4

...┋ 𝐀𝐍𝐆𝐄𝐋𝐈𝐂𝐄 ┋...

...Permaneeci ali sentada, com o olhar perdido tentando encontrar alguma resposta que não consegue chegar à minha própria mente. Aquelas palavras ainda ecoavam na minha cabeça, como se me dilacerassem lentamente, tentando destruir a segurança que construí durante estes anos....

...“Uma galinha que não põe ovos não serve para nada”....

...Fechei os olhos por um momento, como se ao fazê-lo pudesse eliminar a dureza dessa frase. Mas era-me sumamente impossível, não se dissipava, negando-se a desaparecer. Continuava ali, agarrando-se ao meu corpo como uma escuridão que não se desvanece....

...— E se de verdade... ela tinha razão?...

...✧───𝐍𝐀𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎𝐑𝐀 ───✧...

...O peso da frase agarrava-se ao seu peito, como se apertasse cada parte do seu ser. Seria verdade? Era inútil para conceber um filho? Realmente estava atrasando Joseph?...

...Leora sempre tinha sido uma mulher dura e exigente, mas jamais tinha sido tão franca em absoluto. Angelice sentia as mãos tremerem levemente, e vagamente levou as mãos ao seu ventre, acariciando-o com suavidade. Perguntando-se se acaso o seu corpo era o verdadeiro problema. Foi ao médico, realizou vários exames, mas em cada um deles saía que estava bem. E, no entanto, em todo este tempo não houve nem um só indício de ficar grávida. Que tal se no fundo Leora tinha razão?...

...— Não... — falou para si mesma, enquanto fechava os olhos com força como se pudesse silenciar esses pensamentos na sua cabeça. Joseph nunca a pressionou, jamais lhe tinha dito ou insinuado que o seu amor e o seu matrimónio dependiam de um filho. Mas até quando seguirá assim?...

...Perguntava-se se ele também pensava nisso, se em algum momento se sentiu decepcionado pelo fato de que o seu matrimónio seguia sem descendência. Talvez se sentisse, e não o dizia por não querer magoá-la....

...Já era tarde, a noite tinha chegado cobrindo tudo com um manto silencioso, envolvendo a todos com uma calma enganosa. Angelice encontrava-se na sala segurando nas suas mãos o seu telemóvel, esperando a hora... mas Joseph ainda não chegava. Suspirou e levantou-se com lentidão; repetindo para si mesma que talvez tivesse ficado na empresa ocupando-se de qualquer pendência, e com esse pensamento decidiu subir para o quarto. Ao entrar, despiu-se da sua roupa como se cada uma dessas peças que tirava pudessem aliviar e tirar a pressão nos seus ombros. Depois tomou um duche deixando que a água deslizasse pelo seu corpo aliviando o seu estresse antes de ir para a cama, no entanto, no último momento antes de fechar os olhos desbloqueou o seu telemóvel e mandou uma mensagem a Joseph, esperou uns segundos mas a tela não mudou. Continuava sem obter resposta....

...Novamente suspirou e deixou o telefone sobre a mesinha de cabeceira, e fechou os olhos tentando entregar-se completamente ao sono. As horas passavam de maneira imprecisa até que um som cortou a quietude do quarto, o seu telefone começou a soar vibrando sobre a pequena mesa de madeira despertando-a de golpe. Embora o seu corpo reagisse de imediato, os seus olhos ainda seguiam fechados por um momento antes de alcançar o telemóvel. A luz que transmitia a tela iluminou completamente o seu rosto revelando o nome da pessoa que ligava....

...— Angelice, fala Jonathan. Desculpa-me por ligar-te a estas horas da noite, mas... poderias vir ao clube buscar Joseph? Está muito bêbado. Levaria-o eu, mas tenho que encarregar-me dos demais....

...Com cuidado incorporou-se na cama, apartando os lençóis que a cobriam. —De acordo, manda-me a localização....

...Assim que desligou a chamada, pôs-se de pé e vestiu a primeira coisa que encontrou sem pensar demasiado na sua eleição. Depois pegou nas chaves do seu carro e desceu sem pressa as escadas. Ao sair foi diretamente para a garagem, tirou o seu carro colocando o seu telemóvel à frente, para ver a localização que Jonathan lhe tinha enviado antes de ligar o motor e dirigir-se ao lugar indicado....

...Ao chegar ao clube perguntou a um dos empregados onde ficava a sala que Jonathan lhe tinha dito, o rapaz que a atendeu guiou-a até ao segundo andar. Os seus passos foram seguros enquanto o seguia até que a porta se abriu frente a ela, ao ingressar no lugar encontrou todos os amigos de Joseph reunidos como se festejassem algo de suma importância. Mas algo fez com que os seus olhos pousassem na figura do seu marido, que estava rodeado dos seus amigos. Sim, mas algo mais captou a sua atenção, ele encontrava-se inclinado em direção a uma mulher, com a sua cabeça apoiada sobre os seus ombros enquanto ela o rodeava com ambos os braços....

...Não soube como reagir. Por uns minutos permaneceu firme no seu lugar, mas depois decidiu avançar, Jonathan ao vê-la levantou-se rapidamente e aproximou-se dela....

...—...Que bom que chegaste —disse Jonathan, com alívio na sua voz antes de voltar à mesa onde estavam os demais, e pegar num copo para aproximá-lo da boca de Joseph —vamos bebe isto. Ajudará a clarear......

...A rapariga ao seu lado ergueu a vista, observando-a com um leve sorriso antes de falar....

...— Tu deves ser Angelice, certo? — perguntou com amabilidade —É um prazer conhecer-te, o meu nome é Judith. A melhor amiga de infância de Joseph — acrescentou com naturalidade....

...Angelice não apartava o olhar de Joseph, antes de voltar a sua atenção à mulher, e com uma expressão serena estendeu-lhe a mão, mostrando um sorriso ténue....

...— Um prazer... Sou a sua esposa...

...Judith manteve a sua expressão amigável, embora os seus olhos se desviassem para Joseph antes de voltar a olhar para Angelice ....

...—..... É um prazer — respondeu....

...Angelice manteve a compostura deixando que a situação se desenrolasse frente a ela sem reagir de imediato, o desconforto no ambiente fez-se notar e os amigos de Joseph pareciam sabê-lo. Embora nenhum dissesse nada....

...Jonathan insistiu, dando palmadas a Joseph nas costas....

...— Vamos, acorda....

...Pouco a pouco, parecia que os efeitos do álcool diminuíam, Joseph começou a despertar abrindo os olhos e olhando para ambos os lados; até que o seu olhar pousou na figura da sua esposa frente a ele....

...—...Querida... — murmurou com torpeza —Porque estás aqui?...

...Ela respondeu sem titubear, a sua resposta foi firme e sem nenhum rastro de adorno....

...— Vim buscar-te. Devemos ir para casa....

...Joseph pôs-se de pé endireitando o seu fato. Tirou o seu telemóvel e desbloqueou-o dando uma olhada à hora, para depois anunciar aos seus amigos que já tinha que ir embora. Mas antes disso, um dos rapazes com um sorriso enviesado interveio....

...— Espera antes de que te vás, deves cumprir a tua parte do desafio. Queremos saber, a quem tens como contato fixo....

...A rapariga ao seu lado pôs-se de pé e interveio com ar divertido —Que pergunta tão óbvia. Claramente é Angelice, afinal é a sua esposa....

...Mas antes de que Joseph pudesse evitá-lo, o jovem aproximou-se dele e arrebatou-lhe o telefone com rapidez começando a remexer no seu chat, os demais imediatamente aproximaram-se dele para observar...

...— Quê?... Como é possível? — murmurou a rapariga ao ver a tela —Judith é o seu contato fixo — acrescentou com assombro...

...O desconforto tornou-se maior, Joseph aproximou-se dele para recuperar o telefone arrebatando-o com um movimento brusco. Mas o dano já estava feito, a expressão de Angelice não mudou, ele tentou falar mas ela deu a volta antes de ouvi-lo....

...— Deixa-me explicar-te.... — Pediu...

...— Devemos regressar a casa, é muito tarde — disse, e sem mais saiu daquele lugar....

...Ele rapidamente a seguiu, e quando estiveram fora alcançou-a detendo-a com suavidade. —Estás zangada? — perguntou, como se não tivesse feito nada de mal. Mas ela simplesmente ofereceu-lhe um sorriso calmo; embora qualquer um pudesse notar o quão vazio estava....

...— Não... Por que deveria estar?...

...No entanto, antes de que pudessem continuar, Judith apareceu alcançando-os com passos ligeiros....

...— Joseph. Foi um prazer voltar a ver-te — expressou com naturalidade —Espero que continuemos em contato...

...Com isso girou ligeiramente em direção a Angelice mantendo uma exposição inocente —Espero que não te tenhas incomodado. Joseph e eu sempre nos tratamos assim, não interpretes mal a nossa relação....

...Angelice não mudou para nada a sua face simplesmente observou-a limitando-se a assentir sem responder. E Joseph, falou olhando para Judith com preocupação....

...— Está a fazer muito frio, o melhor será que voltes para dentro. Poderias adoecer — disse ele, mostrando evidente preocupação pela castanha....

...Angelice olhou-o mas não disse nada, somente pensou ⦅“Preocupava-se por ela, mas... e por mim? ”⦆...

...A pergunta chegou à sua mente como um eco que não podia calar. Sentiu o frio aderir-se à sua pele, mas em si não era a brisa noturna, não era o frio da noite. Não, era algo mais profundo. Algo que não tinha nome; mas sim uma forma definida... A sensação de estar em segundo plano. Ele nem sequer tinha tomado a molestia de lhe perguntar se tinha passado frio, se o tinha estado esperando demasiado em casa, se sentiu algo ao vê-lo apoiado naquela mulher rodeado de um calor e um corpo que não era seu; não lhe tinha oferecido nem uma mínima desculpa, nem um olhar de entendimento, somente preocupação pela sua “amiga”. Mas por que sentia que era algo mais que uma simples amizade?...

...⦅Eu também saí no meio da noite, também vim buscar-te, por que não notas? ⦆...

...Mas somente eram pensamentos internos, os seus lábios não pronunciaram essas palavras. Somente as guardou no seu peito naquele lugar onde se acumulavam todas as dúvidas que nunca dizia em voz alta; o desconforto e a humilhação que tinha sentido dentro daquele clube agarravam-se à sua mente. Mas o que mais lhe pesava, não era o instante em si, senão o que insinuava. Não se tratava de um gesto isolado senão de um padrão. Quantas vezes mais passaria isto? Quantas vezes teria que fingir que não lhe afetava em absoluto, e mostrar sempre que tudo estava bem?...

...Talvez ele não o fizesse de propósito, quiçá nem sequer se dava conta, mas isso não mudava o fato de que pela primeira vez em muito tempo; ela começava a sentir que o seu lugar na sua própria relação cambaleava....

...O problema não era Judith....

...O verdadeiro problema era a forma em que ele a olhava, e em como reagia quando estava frente a ela, talvez estivesse sendo paranoica, afinal eles sempre foram amigos Mas... Não pôde evitar pensar assim....

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