Regina mal pôde esperar para mandar as empregadas arrumarem as coisas de isadora, a mala mal fechava. Entre as roupas dobradas com pressa e alguns livros preferidos, ela levava também um coração pesado e confuso. Renato a abraçou com um sorriso tenso.
— Vai ser bom para você, minha pequena. Um tempo longe, para pensar, respirar...
Isadora nada respondeu. Seu silêncio era uma mistura de tristeza e decepção. O pai, que antes era seu porto seguro, agora a mandava embora, convencido pelas mentiras de quem mal a conhecia.
O carro seguiu estrada afora, deixando para trás a cidade grande e a vida que Isadora conhecia. Após algumas longas horas, o asfalto deu lugar a estradas de terra, ladeadas por plantações e campos abertos. O ar era mais limpo, mas o cenário parecia tão distante quanto um planeta desconhecido.
- A Chegada ao Fim do Mundo
A poeira da estrada de terra subia atrás do carro preto, ofuscando brevemente a visão do céu vasto e limpo que se estendia por quilômetros. As árvores, altas e antigas, balançavam suavemente com o vento, e o som distante de galinhas e mugidos anunciava que a cidade havia realmente ficado para trás.
Quando o carro parou em frente à antiga casa de fazenda, Isadora bufou, cruzando os braços. A paisagem à sua volta era uma pintura rústica: cercas de madeira, gramado irregular, galinheiro aos fundos e um galpão com o telhado coberto de musgo. Era tudo... antigo. Simples. Real demais.
Vestia um conjunto de linho bege com detalhes dourados, salto alto e óculos escuros caros. Seu cabelo, perfeitamente arrumado, contrastava com a poeira que já começava a grudar nas solas dos sapatos. A cada passo, sua expressão deixava claro que aquela não era a chegada dos seus sonhos.
O motorista retirou suas malas , quatro, todas de grife ,e as colocou ao lado do portão. Isadora desceu com elegância forçada, torcendo o nariz ao pisar na terra.
— Isso aqui é algum tipo de piada — murmurou.
Antes que pudesse dizer mais, uma voz firme e carinhosa a surpreendeu:
— Isadora?
Ela se virou e viu uma mulher forte, de expressão acolhedora e mãos marcadas pelo tempo. Tia Carmem estava de vestido florido, botinas gastas e um avental manchado de farinha. Os cabelos grisalhos estavam presos num coque frouxo e o sorriso parecia largo o suficiente para abraçá-la de longe.
— Menina do céu, como você cresceu! — exclamou Carmem, abrindo os braços com entusiasmo.
Isadora hesitou por um instante, mas foi envolvida num abraço apertado, o perfume de lavanda e café invadindo seus sentidos. Era algo diferente. Familiar, mas distante no tempo.
— Que bom que chegou bem. Deve estar cansada da viagem, né? Vem, vou te mostrar o quarto. Não repare a bagunça — disse Carmen, pegando uma das malas com naturalidade.
— Não precisa, eu mesma... — Isadora começou, mas parou ao ver a tia levando a mala com uma facilidade surpreendente.
Olhou ao redor mais uma vez. O campo, os sons, o cheiro de terra, e então percebeu: estava longe de tudo o que conhecia. Sozinha com uma mulher que mal lembrava. Em um lugar onde luxo não significava nada.
— Respira fundo, Isadora — sussurrou para si mesma, enquanto seguia a tia rumo à casa.
E com cada passo, deixava para trás não apenas a cidade, mas também a versão de si que acreditava imbatível.
A voz carmen a tira de seu quase depressivo pensamento.
— Aqui a gente levanta cedo, trabalha com a terra, e não tem tempo pra tristeza. Espero que esteja pronta, menina.
Isadora assentiu com um aceno contido. Naquela primeira noite, sentiu falta do quarto arrumado, do cheiro do perfume do pai, do abajur com luz suave. A cama era dura, e os sons noturnos da natureza pareciam assustadores.
Na manhã seguinte, o galo cantou antes do sol nascer. Isadora foi acordada com batidas secas na porta:
— Acorda, menina. A lida começa cedo.
Isadora abre sua mala tentando encontrar algo mais apropriado ao seu novo ambiente para se vestir, mas sem grande sucesso, decidiu vestir um conjunto caro de academia , tomou um cafe rapido ja que nada te apetecia e foi ao encontro dos gritos da tia carmen que estava em um galpão proximo onde separava ferramentas e dava ordens. Isadora não sabia por onde começar, tropeçava, reclamava do calor, sujava os dedos e quase chorava com os arranhões nas mãos.
Ao final do dia, caiu na cama sem energia. Mas pela primeira vez em muito tempo, dormiu profundamente. Havia algo diferente naquela exaustão: era real, concreta. Algo que o luxo de sua antiga vida nunca lhe dera.
E na varanda da casa, observando a menina adormecida, tia carmen comentou com o filho de seu vizinho que havia vindo ajudar na colheita:
— Ela é frágil por fora, mas tem raiz forte. Só precisa de tempo pra florescer.
O rapaz, de rosto marcado pelo sol e olhar firme, respondeu:
— Veremos. A vida aqui é dura. Mas às vezes, é dela que nasce a verdade.
Seu nome era Caio. E ele ainda nem imaginava o quanto aquela menina da cidade que ele achava fresca e superficial mudaria sua própria história.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
Marta Augusto da Silva
Ela vai dar a volta por cima, esse pai vai pagar pela maldade q fez com a filha.
2025-05-01
4
Andreia Cristina
quero muito ver esse pai arrependido por ter acreditado nas duas cobras e mandado a filha pra longe dele
2025-05-03
2
Mclaudia Oliveira
Rapadura é doce,mas né mole não 👀
2025-05-03
1