treze anos se passaram desde a morte de Helena. Isadora agora tinha 20 anos e, embora ainda guardasse os vestígios da menina frágil de antes, começava a florescer em uma linda mulher, curiosa e sensível. Renato, por sua vez, parecia ter reencontrado algum sentido na vida ao conhecer uma mulher chamada Regina, uma mulher que ele conheceu em uma das reuniões da alta sociedade.
Regina era bonita, elegante e extremamente articulada. Aparentava empatia e delicadeza nas primeiras conversas com Isadora, mas havia algo no olhar dela que a menina não conseguia explicar. Parecia estudar cada gesto, cada palavra que ela pronunciava.
Renato estava encantado. Depois de tantos anos fechado para o amor, ver-se cativado por Regina foi como respirar depois de muito tempo debaixo d'água. Rapidamente, o relacionamento evoluiu, e em poucos meses, anunciaram o casamento.
— Você vai ter uma nova mãe, Isa. Não para substituir a sua, mas para somar. — disse Renato, com um sorriso emocionado mas cauteloso sabendo dos caprichos de sua filha.
Isadora forçou um aceno de cabeça. Por dentro, algo doía. Não sabia se era ciúmes, medo ou apenas a sensação de que aquele castelo seguro que ela e o pai haviam construído estava prestes a ruir.
No dia em que Regina e sua filha Melissa se mudaram para a casa, Isadora sentiu que seu lugar foi empurrado para um canto.
Melissa tinha a mesma idade que ela, mas não havia traço algum de ingenuidade em seu rosto. Era fria, calculista e, desde o primeiro momento, deixou claro que não estava ali para ser amiga de Isadora.
— Você tem sorte... tem tudo do bom e do melhor, — disse Melissa, no primeiro encontro, com um sorrisinho sarcástico. — Mas isso pode mudar.
E mudaria.
Regina, com sua voz doce e modos delicados, começou a se infiltrar nos espaços da casa como uma sombra. Ela se oferecia para ajudar, fazia pequenos agrados a Isadora, mas cada gesto tinha intenções escondidas.
Com o tempo, Renato começou a ouvir mais a nova esposa. Pequenas sugestões surgiam:
— Isadora parece um pouco mimada, talvez fosse bom impor mais limites...
— Eu sei que ela sente falta da mãe, mas não seria bom incentivá-la a ser mais independente?
Aos poucos, o que era sutil se tornaria evidente. E Isadora não demoraria a perceber que a sua vida não era mais a mesma.
- Entre Duas Mulheres
O relógio da sala marcava quase meia-noite. A casa estava silenciosa, exceto pelo som abafado da chuva batendo contra as grandes janelas. Isadora desceu as escadas descalça, envolta num robe de cetim. Estava com fome e foi até a cozinha, mas parou ao ouvir uma voz conhecida vindo do escritório do pai a voz doce e calculada de Regina, sua madrasta.
— Ela precisa entender que não é mais uma criança — dizia, com um tom baixo, porém firme. — Você não pode continuar protegendo a Isadora de tudo.
Curiosa, Isadora se aproximou discretamente e encostou-se à parede próxima à porta entreaberta.
— Ela perdeu a mãe muito cedo, Regina— respondeu o pai, cansado. — Eu só quero o melhor pra ela.
— Eu entendo, querido. Mas tem uma diferença entre querer o melhor e impedi-la de crescer — insistiu Regina, cruzando as pernas com elegância. — Ela tem vinte anos. Ainda mora aqui, ainda depende de você para tudo. E, sinceramente, parece que ela vive num mundo que você criou só pra ela, onde nada é responsabilidade dela.
O pai suspirou, massageando as têmporas. Regina se levantou e se aproximou devagar e colocou a mão sobre o ombro dele.
— Você está se desgastando. Ela precisa aprender a lidar com limites. Com a vida real. Se continuar assim, vai acabar te arrastando com ela.
Antes que ele respondesse, a porta se abriu com um leve rangido.
— Que interessante ouvir isso de quem chegou nessa casa com um sorriso falso e um plano pronto — disse Isadora, fria, parada no batente com os braços cruzados.
Regina virou-se com um leve sobressalto, mas recompôs o rosto num segundo, como quem coloca uma máscara.
— Isadora... querida. Não era minha intenção!
— Poupe o teatro. Já ouvi o suficiente.
O pai levantou-se imediatamente, apreensivo.
— Filha, não é o que parece. Regina só está preocupada...
— Preocupada em me tirar do caminho — cortou ela, olhando direto para Regina. — Mas eu não sou tão ingênua quanto você pensa. E se acha que vai me tirar da vida do meu pai assim, com sorrisos e veneno, vai precisar de mais do que isso.
Regina manteve a pose, mas havia um brilho nos olhos que não disfarçava o incômodo. sentou-se devagar.
— Não quero te tirar da vida dele, Isadora. Só quero que você cresça. Que entenda que o mundo não gira ao seu redor.
— E você quer ser o Sol? — retrucou ela, com ironia. — Boa sorte com isso.
O silêncio pairou denso entre as três figuras. Era o início de uma guerra silenciosa, com sorrisos cortantes e palavras afiadas. E embora o pai tentasse manter a paz, sabia que, a partir daquela noite, algo havia mudado.
E que, talvez, fosse tarde demais para evitar a tempestade que se aproximava.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
Cristiane F silva
O seja um pai covarde que deixa a filha a própria sorte pra vive com uma mulher e uma filha que nem dele é que fala a mal Dá filha dele trocando o seu pelos os do outro vai se da mal com certeza
2025-05-01
3
Andreia Cristina
agora cm toda certeza ele vai ficar do lado da mulher e vai esquecer a filha q um dia ele tanto protegeu
2025-05-03
1
Mclaudia Oliveira
Regina não está totalmente errada,ela precisa saber que a vida não é um conto de fadas.
2025-05-03
1