Arthur sentiu o impacto da descida como um choque rasgando seus braços. A corda escorregava entre seus dedos, queimando sua pele, enquanto seus pés tentavam encontrar apoio contra a parede irregular do hospital. O desconhecido, que descera antes dele, já se movia com rapidez, suas mãos experientes ajustando o ritmo para evitar uma queda fatal.
O terraço acima explodiu em caos.
Gritos e rosnados se misturavam ao som de metal retorcido—os rastreadores estavam lá, olhando para baixo, acompanhando sua fuga com olhos vazios e predatórios.
Arthur se concentrou na descida, ignorando a dor e o medo que tentava paralisá-lo. O chão se aproximava rápido demais. Ao ver que o estranho já havia alcançado o solo, Arthur fez o último salto, aterrissando com um impacto forte que fez seus joelhos cederem.
Mas não havia tempo para sentir a dor.
— Corre! — o desconhecido ordenou, puxando Arthur pelo braço e o forçando a se mover.
O hospital era apenas um dos cadáveres daquela cidade destruída. As ruas estavam mergulhadas na sombra do entardecer, os postes quebrados lançando reflexos distorcidos sobre o asfalto rachado. Carros queimados e lojas saqueadas criavam um labirinto de destroços, um cenário perfeito para emboscadas.
Arthur se apoiou em um carro capotado, respirando fundo.
— Quem diabos é você? — perguntou, seu tom entre o desespero e o cansaço.
O estranho olhou para ele rapidamente, avaliando se valia a pena responder naquele momento.
— Alguém que quer sobreviver. E você acabou de arrastar rastreadores para o meu território.
Arthur cerrou os dentes.
— Achei que a cidade não tivesse dono.
O desconhecido ignorou o comentário e continuou caminhando, mantendo-se próximo às sombras dos prédios abandonados.
O rádio de Arthur chiou.
— Arthur, onde você está? — a voz de Helena veio cortada, repleta de preocupação.
Ele puxou o aparelho e respondeu, ofegante:
— Saí do hospital. Mas não estou sozinho.
Silêncio por um momento.
Depois, Helena falou:
— O terceiro andar do hospital era um ponto de vigilância. Se encontrou alguém lá, pode ser um dos antigos sobreviventes.
Arthur olhou para o homem ao lado dele. Ele não parecia perdido. Não parecia desesperado como outros que ele havia encontrado. Seus olhos tinham a dureza de alguém que já vira o pior da humanidade.
— Você tem um nome? — Arthur perguntou.
O estranho respirou fundo, como se ponderasse a resposta.
— Daniel.
Arthur assentiu lentamente.
O rádio chiou de novo, mas dessa vez o som não vinha de Helena.
Um chiado seco, sussurros quase imperceptíveis.
— Arthur...
A voz não era humana.
Arthur congelou.
Daniel o olhou com um misto de alerta e preocupação.
— Desliga isso. Agora.
O rádio continuava chiando.
Arthur sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
— Eles estão ouvindo. — Daniel murmurou.
Arthur nunca se sentira tão próximo da morte.
Arthur apertou o rádio em sua mão, sentindo o suor frio escorrer pela palma. O chiado continuava, intercalado por um sussurro rouco e distorcido.
— Arthur...
Era impossível dizer de onde vinha a voz. Não era Helena. Não era ninguém que ele conhecia.
E o pior de tudo: não parecia humano.
Daniel se aproximou e baixou o rádio com um movimento rápido e preciso, desligando-o antes que a voz pudesse continuar.
— Eles estão ouvindo. — A expressão de Daniel era grave, seu olhar fixo em Arthur.
Arthur hesitou. “Eles”? Os rastreadores? Zumbis não falavam. Pelo menos, nunca tinham falado antes.
Mas alguma coisa nele dizia que Daniel sabia mais do que estava contando.
O vento soprou forte sobre os prédios destruídos de Parauapebas, carregando o cheiro de fumaça e podridão. Daniel se virou, os olhos varrendo o cenário ao redor.
— Precisamos sair daqui. Se eles estão na frequência do rádio, significa que estão rastreando nossas vozes.
Arthur não gostava daquilo. Ele já havia enfrentado os rastreadores, sabia do que eram capazes. Mas ouvir uma voz—sussurrando seu nome através de uma transmissão? Isso era novo. Isso era errado.
Ele respirou fundo e ajustou sua postura, tentando controlar a tensão nos músculos.
— Para onde vamos?
Daniel apontou para uma rua lateral, onde um antigo supermercado saqueado ainda mantinha sua estrutura de pé.
— Meu grupo se esconde lá. Se quiser sobreviver, é melhor vir comigo.
Arthur franziu o cenho.
— Seu grupo?
Daniel não respondeu de imediato. Seus olhos percorreram as sombras dos prédios ao redor, como se buscasse algo no escuro. Como se soubesse que não estavam sozinhos.
Então ele murmurou:
— Se você acha que os rastreadores são seu único problema, precisa entender que há coisas muito piores por aí.
Arthur sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
E quando o rádio chiou novamente—mesmo desligado—ele soube que Daniel estava certo.
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Atualizado até capítulo 27
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