Areum completou oito meses de gestação num sábado abafado, quando a cidade parecia pegar fogo mesmo debaixo das nuvens cinzentas.
Ela acordou com uma dor surda na lombar, ignorou. Depois veio outra — mais forte, mais funda. Quando tentou levantar, sentiu algo escorrer por entre as pernas.
— Taehwan… — ela chamou, quase sem voz.
Ele estava jogado no sofá, com a televisão ligada em um volume que ele nunca diminuía. Quando ouviu o tom na voz dela, levantou no susto.
— O que foi? Tá tudo bem?
— Eu… acho que tá nascendo.
Silêncio.
Mais silêncio.
E então:
— Ah, merda.
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Não tinham carro. Nem habilitação. Pegaram um Uber apressado, onde o motorista entrou em pânico junto com eles quando Areum gritou de dor no banco de trás. Taehwan suava como se fosse ele quem estivesse parindo, segurando a mão dela com força demais, tentando acalmá-la com frases sem sentido:
— Vai dar tudo certo, amor, respira… como nos vídeos! Lembra do vídeo da moça com a bola de pilates?
— TAEHWAN EU VOU MATAR VOCÊ!
— Isso, grita! Gritar é bom! Bota pra fora!
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Chegaram ao hospital público mais próximo — o Hospital Geral de Mapo-gu, um prédio antigo de paredes meio descascadas e recepção fria como chão de banheiro. Enfermeiras corriam de um lado pro outro, pacientes esperavam em cadeiras de plástico, e o cheiro de antisséptico era quase sufocante.
Areum foi colocada em uma cadeira de rodas, levada rapidamente para uma sala de triagem. Taehwan ficou pra trás, sendo barrado por uma enfermeira:
— Só acompanhantes com identificação, senhor.
— Mas eu sou o pai! EU TENHO DIREITO DE ENTRAR!
— O senhor tem RG?
— … esqueci em casa.
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Horas se passaram. Muitas.
A dilatação demorou.
As dores aumentaram.
Areum se contorcia na maca, chorava e ria de nervoso, gritava e depois pedia desculpas pra todo mundo na sala.
Lá fora, Taehwan andava em círculos com uma garrafa d’água na mão e o crachá de “VISITANTE” torto no peito. Não sabia o que fazer. Não podia fazer nada. Até que, depois de um tempo que pareceu uma vida inteira, alguém o chamou.
— Jang Taehwan?
— Sim! Sim, sou eu!
— É um menino. A mãe está bem. Quer ver o bebê?
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Quando entrou na sala, Areum estava com olheiras profundas, os cabelos colados na testa de suor, mas sorria como se tivesse vencido o mundo.
Nos braços dela, embrulhado num pano branco, estava o caos em forma de recém-nascido.
O bebê não chorava. BERRAVA.
Se contorcia, esticava os braços, chutava o ar, como se o espaço ali fosse pequeno demais pra ele.
— Ele é… — Taehwan começou.
— Uma usina de energia — completou Areum, rindo fraco.
Tinha pele clara como porcelana, contrastando com os cabelos negros que já estavam ali, finos mas intensos. Os olhos — ainda meio inchados — traziam um tom âmbar quase impossível de ignorar. E a boca, pequena mas bem delineada, era de um vermelho suave, como se tivesse sido pintada à mão.
— Ele tem a sua boca — disse Areum, olhando pra Taehwan.
— E seu nariz — respondeu ele, engolindo seco.
Depois, encarou o filho. — Caramba, moleque. Você já chegou querendo dominar o mundo, hein?
O bebê respondeu com um berro e um chute no ar.
— Isso é coisa de alfa, né? — Taehwan murmurou.
Areum assentiu. — Um alfa... e cheio de personalidade desde o primeiro minuto.
Taehwan passou a mão nos cabelos bagunçados e, pela primeira vez em muito tempo, teve vontade de fazer as coisas direito.
Ali, naquele quarto abafado e barulhento, com um filho gritando como se fosse protesto, e a mãe dele sorrindo mesmo exausta, Taehwan soube:
Não era o fim do mundo.
Era só o começo.
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Atualizado até capítulo 32
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