Balada e Encontros

A música estava boa, e por um momento me permiti esquecer tudo. Mas então, enquanto girava no ritmo da batida, um olhar diferente encontrou o meu.

Dessa vez, não era Vicent.

Era outro homem.

Loiro, alto, vestindo uma camisa polo branca e calça preta bem alinhada. Diferente dos outros caras na pista, ele parecia tranquilo, confiante, sem precisar exagerar nos gestos para chamar atenção.

Ele apenas me olhava com um sorriso discreto, e foi o suficiente para prender minha atenção.

– Quem é esse? – murmurei para Joyce, inclinando a cabeça na direção dele.

Ela deu uma olhada rápida e abriu um sorriso malicioso.

– Maks William. Dono de uma empresa de carros de luxo. Rico, charmoso e solteiro.

– Você conhece ele?

– Conhecer é uma palavra forte. – Ela riu. – Mas já ouvi falar. Ele é daquele tipo que nunca aparece muito na mídia, mas quando aparece…

Antes que eu pudesse perguntar mais, Maks começou a andar em minha direção.

Meu coração acelerou.

Ele parou a poucos passos de mim, segurando um copo de whisky na mão.

– Você dança bem. – A voz dele era firme, mas com um tom suave que fazia parecer que ele falava apenas comigo, mesmo com a música alta.

– Obrigada. – Sorri.

Ele estendeu a mão.

– Maks William.

Toquei sua mão firme e quente.

– Evellin Johnson.

O sorriso dele aumentou.

– Nome bonito.

– É o que dizem. – Cruzei os braços, encarando-o. – Mas me diz, Maks… você sempre observa as pessoas antes de se apresentar?

Ele riu de leve, tomando um gole do whisky.

– Só quando alguém realmente chama minha atenção.

Senti um calor inesperado no rosto.

Antes que pudesse responder, Joyce e Sendy trocaram olhares e me empurraram levemente na direção dele.

– Conversem, nós vamos buscar mais drinks! – Joyce piscou antes de arrastar Sendy para longe.

Traidoras.

Olhei de volta para Maks, que apenas sorriu como se tivesse todo o tempo do mundo.

Talvez aquela noite fosse mais interessante do que eu imaginava.

A música vibrava ao nosso redor, mas minha atenção estava completamente em Maks. Ele tinha uma presença tranquila, mas intensa, o tipo de homem que parecia saber exatamente o que queria.

– Então, Evellin… – Ele apoiou um cotovelo no balcão, observando-me com interesse. – O que uma arquiteta talentosa faz em uma balada como essa?

Sorri de canto, brincando com o canudo do meu drink.

– E o que um empresário faz aqui? Achei que vocês só frequentassem eventos luxuosos e jantares de negócios.

Ele riu.

– De vez em quando, é bom sair da rotina. Mas acho que a verdadeira pergunta é: por que você parece surpresa por estar aqui?

– Talvez porque não fosse exatamente meu plano para hoje. – Suspirei. – Minhas amigas meio que me arrastaram.

Ele assentiu com um meio sorriso.

– Então, devo agradecer a elas por isso.

Senti um leve calor subir ao rosto, mas mantive a compostura. Maks era carismático e sabia exatamente como manter uma conversa interessante.

– Mas e você? – Perguntei, virando um pouco no banco para encará-lo melhor. – Maks William… o nome não me é estranho.

Ele tomou um gole do seu whisky antes de responder.

– Talvez porque minha empresa tenha certa visibilidade.

– Ah, então estamos falando de um homem importante.

– Não diria importante… apenas ocupado.

Sorri.

– E mesmo assim arrumou tempo para vir aqui?

Ele inclinou a cabeça levemente.

– Digamos que hoje eu queria conhecer alguém interessante.

Nossos olhares se encontraram por alguns segundos, e a intensidade daquele momento me fez desviar primeiro. Peguei meu copo e tomei um gole, sentindo a música pulsar ao fundo.

– E então? – Ele perguntou, estendendo a mão. – Me concede uma dança?

Olhei para a pista de dança e depois para sua mão estendida.

Talvez essa noite pudesse ser mais interessante do que eu imaginava.

Peguei sua mão e deixei que ele me conduzisse.

Dançamos até não querer mais. Maks era um homem charmoso e sabia exatamente como envolver uma mulher. Entre risadas e drinks, a noite parecia perfeita, até que o álcool começou a pesar.

– Você já está bem bêbada… – Maks murmurou, segurando minha cintura para me manter em pé.

– Você também não está muito diferente. – Respondi, rindo.

Ele passou a mão pelos cabelos e olhou ao redor.

– Melhor irmos embora. Eu te levo pra casa.

– Você mal consegue ficar em pé, Maks! – Brinquei, apontando para sua postura desequilibrada.

Rimos juntos, até que ele decidiu chamar um carro. Quando o veículo parou na frente da balada, entramos sem pensar duas vezes, ainda rindo sem parar.

– Moço, pode me levar… – Murmurei entre gargalhadas, me jogando contra o banco.

Maks apenas riu, apoiando a cabeça no encosto.

Mas assim que olhei para o retrovisor, meu corpo congelou. O riso morreu na minha garganta.

Era ele.

O homem do metrô.

Meu coração disparou, e num impulso tentei abrir a porta, mas ela não se movia.

– Maks… – Minha voz saiu trêmula, mas ele apenas continuava rindo, sem notar minha tensão.

– O que foi, Evellin? – Ele perguntou, ainda rindo.

Engoli em seco, sentindo um arrepio subir pela minha espinha. Vicent desceu do carro. O álcool ainda fazia minha cabeça girar, mas um pressentimento ruim crescia dentro de mim.

– O que ele tá fazendo? – Maks perguntou, agora um pouco mais lúcido.

Vicent se afastou alguns passos, mantendo-se perto do carro enquanto falava no telefone.

– Maks, eu não tô gostando disso… – Murmurei.

Foi então que ouvi um barulho atrás de mim.

– Evellin?!

Virei rapidamente e vi Joyce e Sendy paradas na entrada da balada. Elas deviam ter saído para tomar um ar e nos encontraram ali por acaso. Mas o que me assustou foi a reação delas ao ver Vicent.

– Meu Deus… – Sendy sussurrou, levando a mão à boca.

– Não pode ser… – Joyce arregalou os olhos.

Minha cabeça girava.

– O que foi? Vocês conhecem ele?

As duas se entreolharam, claramente impactadas. Sendy foi a primeira a falar:

– Evellin… esse é Vicent Han.

Minha mente demorou a processar.

– O quê?

– Vicent Han. – Joyce repetiu, ainda em choque. – O dono de uma rede de hotéis de luxo. Um dos homens mais ricos do mundo.

Meu estômago revirou.

Olhei para Vicent, que ainda falava ao telefone, impassível.

O que ele queria comigo?

A tensão no ar era palpável. Mesmo com a música vindo da balada ao fundo, a cena diante de mim parecia completamente fora de lugar. Enquanto Joyce e Sendy observavam com uma mistura de surpresa e apreensão, Vicent permanecia em silêncio, seu olhar frio e distante, sem dar a mínima para minha presença. O telefone já estava desligado, mas a maneira como ele ainda estava ignorando tudo ao nosso redor parecia mais cruel do que qualquer palavra.

– Evellin, o que está acontecendo? – Joyce perguntou, aproximando-se de mim, ainda atônita.

Eu tentava processar tudo, mas a sensação de estar perdendo o controle de mais uma situação me fazia querer desaparecer naquele instante. O homem do metrô, o mesmo que me pediu em casamento de forma completamente insana, agora estava ali, no meio da rua, em silêncio absoluto, ignorando-me.

Vicent parecia estar completamente focado em algo dentro de sua própria mente. A raiva começou a crescer dentro de mim. Como ele podia me tratar assim depois de tudo o que aconteceu? Depois de eu ter corrido e tentado me afastar dele? Agora ele estava ali, ignorando-me completamente, como se eu fosse uma estranha. Como se eu não tivesse significado algum para ele.

Maks, por outro lado, estava claramente irritado com a situação. Ele observava Vicent com um olhar desafiador.

– O que foi, Vicent? Você não vai falar comigo? – Maks disse, desafiador, levantando uma sobrancelha. – Me trata como se eu fosse invisível? Ou só trata assim as mulheres?

Mas Vicent, como se nada tivesse acontecido, não olhou para ninguém. Ele simplesmente ignorou Maks, virou-se de costas e começou a caminhar em direção à rua, com passos firmes e despreocupados, como se nada ao seu redor fosse importante o suficiente para ele desviar sua atenção.

– Ei, você não vai falar nada? – Maks insistiu, sua voz agora mais agressiva. – Você acha que é melhor que todos nós só porque tem dinheiro? O que você quer de verdade?

Vicent não respondeu. Ele continuou seu caminho sem pressa, como se estivesse acima de tudo e de todos. Seu comportamento era quase arrogante, como se o que acontecia ali não tivesse a menor importância para ele. Ele não parecia se importar com o fato de eu estar ali, nem com o que Maks dizia. Era como se ele estivesse isolado em sua própria bolha, completamente alheio à situação.

– Que tipo de homem é esse? – Joyce sussurrou para Sendy, que parecia igualmente surpresa.

Sendy estava em silêncio, mas seus olhos estavam fixos em Vicent, claramente avaliando a situação. Eu sabia o que elas pensavam, mas eu não estava em condições de lidar com isso naquele momento.

– Isso não faz sentido. – disse Sendy, ainda atônita. – Eu já ouvi falar desse Vicent, mas nunca imaginei que ele fosse esse tipo de pessoa.

Eu sentia meu corpo tremer de raiva e frustração, mas a última coisa que eu queria era me humilhar ainda mais, correndo atrás dele e implorando por uma explicação. Ele não merecia isso.

– Vamos embora. – Falei, tentando manter a calma, embora minha voz tremesse. – Não vale a pena. Ele não vale a pena.

Maks olhou para mim, ainda irritado com a postura de Vicent.

– Então é isso? Ele é desse jeito com todas as mulheres? Sem um pingo de respeito?

A raiva de Maks era visível. Ele estava tentando entender por que Vicent se comportava daquela maneira, mas eu já sabia que isso não importava mais. O que mais me irritava era o fato de que Vicent estava completamente indiferente. Ele não estava nem aí para o que eu ou qualquer outra pessoa sentia. Ele não olhou para mim uma única vez, nem ao menos quando Maks tentou desafiá-lo.

– Ele não vai falar nada, não vai pedir desculpas… nada. – Eu disse, mais para mim mesma do que para qualquer um. – Eu não vou mais me importar com ele.

E assim, com o coração cheio de sentimentos conflitantes, decidi que estava na hora de seguir em frente. O silêncio de Vicent era a resposta que eu precisava. Ele não se importava. E eu não deveria me importar com ele.

O que quer que ele tenha feito naquela noite, ele não tinha mais espaço na minha vida. Eu só não sabia o quanto seria difícil aceitar essa realidade.

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