Aquela manhã no metrô foi o começo de tudo. Eu sabia disso antes mesmo de sair correndo.
O ar estava denso, quente, e algo na vibração da cidade me fez sentir que estava prestes a ser engolida. Era o verão, e as pessoas iam e vinham, mas eu mal conseguia me concentrar na multidão ao meu redor. Eu estava... esperando. Esperando por algo que ainda não sabia o que era.
E então ele apareceu.
Ele estava em pé, no meio do vagão, com um terno azul-marinho perfeitamente alinhado e cabelos negros penteados com precisão. Aquele homem parecia ter saído de um filme, só que mais real, mais perto, e com uma aura de mistério que não me deixava parar de olhá-lo. Ele não olhava para mais ninguém. Só para mim.
O que ele queria? Por que só me observava?
A cada segundo que passava, o olhar dele ficava mais intenso, como se me sondasse, como se soubesse algo que eu mesma não sabia. Eu queria desviar os olhos, mas algo dentro de mim me dizia para não fazer isso. Era um jogo, e eu estava sendo desafiada.
Foi então que ele falou. As palavras saíram como um golpe, direto no meio do meu peito.
– Casa comigo.
Eu gelei. O vagão inteiro parecia ter parado. Não era uma proposta. Era uma ordem. E tudo o que consegui fazer foi rir, uma risada nervosa, tentando esconder o pânico que começava a crescer dentro de mim.
Chamei-o de louco. E antes que ele pudesse dar qualquer explicação, o portão do metrô se abriu. Eu não pensei, não hesitei, só corri. Corri sem saber se estava fugindo de um homem ou de algo muito maior que eu não conseguia entender.
Agora, sentada em um banco de parque, esperando por um cliente, ainda sentia o peso daquela proposta, e o mundo ao meu redor parecia mais distante. Eu sabia que, de alguma forma, minha vida nunca mais seria a mesma.
Meu nome é Evellin Johnson. Tenho 28 anos, sou arquiteta, e o que aconteceu no metrô foi só o começo de uma história que estava prestes a virar minha realidade.
Agora, sentada em um banco de parque, esperando por um cliente, ainda sentia o peso daquela proposta, e o mundo ao meu redor parecia mais distante. Eu sabia que, de alguma forma, minha vida nunca mais seria a mesma.
Meu celular tocou, interrompendo meus pensamentos. Era Joyce.
– Evellin? – a voz dela soou preocupada do outro lado da linha. – Amiga, como você está?
– Oi amiga, estou bem. E você?
Aquela pergunta parecia simples, mas eu sabia que Joyce sentia que algo estava errado. Ela tinha esse jeito de perceber quando as coisas não estavam normais, mesmo à distância.
– Eu estava só pensando em você. Estava te esperando para sair hoje à noite, mas, se precisar de tempo, tudo bem – ela disse com um tom mais suave.
– Não, não. Eu só... precisei de um tempo sozinha. Aconteceu uma coisa estranha hoje.
Joyce foi uma das primeiras pessoas com quem fiz amizade quando me mudei para os Estados Unidos. Ela era exatamente o tipo de amiga que todos desejam ter. Bem-sucedida, determinada e com um coração imenso. Trabalhava com marketing digital e, por mais que sua vida fosse agitada, sempre arranjava tempo para estar presente quando eu mais precisava. Ela sabia quando algo estava errado, mesmo sem eu precisar dizer.
Quando ela disse que estava esperando para sair, me senti um pouco melhor. Sabia que, com Joicy, o mundo parecia ser um lugar mais seguro.
Ela e Sendy formavam uma dupla imbatível. Sendy, a nossa amiga aeromoça japonesa, sempre com aquela energia contagiante e histórias de viagens que pareciam impossíveis. Embora fosse um pouco mais distante, por conta das viagens constantes, Sendy sempre estava disposta a ajudar quando era necessário, com uma visão da vida mais pragmática e leve. As duas eram completamente diferentes, mas se complementavam de uma forma única.
– Uma coisa estranha sempre acontece com você, Evellin. O que foi dessa vez?
Eu suspirei antes de começar, tentando organizar as palavras, porque até agora eu ainda não conseguia acreditar no que tinha acontecido.
– Você não vai acreditar, Joyce... Um homem me pediu em casamento hoje. No metrô.
Ela ficou em silêncio por um segundo, até que soltou uma gargalhada, sem nem acreditar.
– O quê? Quem? – ela perguntou, ainda rindo.
Eu dei uma risada nervosa, tentando processar a situação.
– Um louco, psicopata... Sei lá, do nada ele virou para mim e pediu para me casar com ele.
Joyce, ainda rindo, perguntou sem perder o tom brincalhão:
– Amiga, era mendigo?
– Não! – respondi rapidamente, um pouco irritada com a ideia. – Ele estava bem vestido, com um terno impecável, cabelo arrumado, parecia bem de vida. Só que a proposta... foi tão, sei lá... estranha, sabe? Como se ele me conhecesse, como se soubesse de alguma coisa sobre mim.
Joyce parou de rir e ficou mais séria, agora realmente preocupada.
– Ok, isso já está começando a ficar estranho. Mas, sério, você devia ter aceitado, né? Imagina, ele bem de vida... não custa nada arriscar.
– Você está louca, Joyce! – Eu ri, mas era mais nervoso do que qualquer outra coisa. – Ele parecia um lunático! Quem pede casamento a uma pessoa que mal conhece?
Ela deu uma risada e depois fez um silêncio pensando um pouco antes de responder.
– Brincadeira, amiga. Mas, olha, toma cuidado. Do jeito que o mundo está, pode ser um louco de verdade. Não é todo mundo que faz uma proposta assim sem um motivo por trás.
Eu me encolhi um pouco no banco, lembrando o quanto ele tinha me olhado, como se estivesse me estudando. Algo nele me dava arrepios.
– Eu sei, Joyce... Eu sei. Algo estava errado. Não foi só o pedido. Ele me olhou de um jeito tão... perturbador, como se soubesse de algo que eu nem sabia. Como se tivesse me encontrado de propósito, entende?
Joyce pareceu perceber a seriedade na minha voz. Ela ficou quieta por um momento e depois falou com mais calma:
– Evellin, você não pode deixar esse tipo de coisa te afetar. Sei que é assustador, mas é só mais um maluco na cidade. Vamos focar no que realmente importa, amiga. Não deixa essa experiência te tirar o foco.
Eu dei um suspiro fundo. Joyce sempre sabia o que dizer para me acalmar.
– É... você tem razão. Não vou ficar pensando nisso o tempo todo. Mas que foi estranho, foi. Eu ainda não sei o que pensar sobre ele.
Joyce sorriu do outro lado da linha, tentando dar aquele toque de leveza, como só ela sabia fazer.
– Isso mesmo, amiga. Agora, vamos pensar em algo mais divertido. Que tal aquela balada que você queria ir? Esquece o louco do metrô e vamos curtir!
Eu sorri, um pouco mais tranquila, e comecei a me sentir mais leve. Joyce sempre sabia como me colocar de volta nos trilhos, mesmo quando as coisas pareciam um pouco confusas.
- Tem uma nova balada aqui, não fica muito longe do seu apartamento. Podemos ir curtir! – Joyce disse animada do outro lado da linha.
– Parece uma ótima ideia. – Respondi, cruzando as pernas no banco da praça. Olhei o relógio e suspirei. – Meu cliente está atrasado.
– Onde você está?
– Em uma praça…
O dia estava quente, o sol castigava, e eu já havia terminado meu café gelado enquanto esperava. As árvores balançavam com o vento leve, crianças corriam pelo gramado, e um grupo de idosos jogava xadrez em uma mesa de concreto próxima. Tudo parecia normal.
Até que eu olhei para frente.
Meu coração congelou.
Ele estava lá.
O homem do metrô.
O mesmo terno azul impecável, os cabelos penteados para trás, e aquele olhar intenso que parecia atravessar minha alma. Ele caminhava direto na minha direção, sem desviar o olhar.
O pânico me atingiu como um soco no estômago.
Meus instintos gritaram antes que minha razão tivesse tempo de agir. Levantei num pulo e saí correndo.
– O que foi?! – Joyce perguntou, alarmada.
– ELE TÁ AQUI! O HOMEM DO METRÔ! TÁ VINDO NA MINHA DIREÇÃO!
– MEU DEUS! CORRE, AMIGA!
E eu corri.
O problema? Ele também começou a correr atrás de mim.
– EI, SENHORITA, ESPERA!
Eu gritei. As pessoas na praça começaram a olhar. Alguns pararam o que estavam fazendo, crianças interromperam suas brincadeiras, um senhor de idade baixou os óculos para ver melhor.
– ELE TÁ CORRENDO ATRÁS DE MIM!!! – gritei no celular, sentindo o coração martelar no peito.
– SOCORRO! VOCÊ VAI SER SEQUESTRADA! – Joyce entrou em desespero do outro lado da linha.
Eu já imaginava as manchetes: "Arquiteta sequestrada por homem misterioso em praça pública".
Meus pulmões ardiam, meus pés batiam forte no chão de pedra da praça. Eu já estava começando a pensar em um plano de fuga, talvez jogar minha bolsa na cara dele e correr para a delegacia mais próxima...
Foi quando tudo deu errado.
Tropecei no próprio pé e fui direto para o chão. Meu celular voou longe, minha bolsa caiu ao meu lado, e senti o impacto direto nos joelhos.
Antes que eu pudesse reagir, uma mão segurou meu braço.
– Me solta! – gritei, debatendo-me.
– Eu sou Vicent Han! Seu cliente!
Meu cérebro bugou.
Levantei a cabeça devagar. Vicent Han?
Ele me soltou imediatamente, ergueu as mãos como se eu fosse uma bomba prestes a explodir e respirou fundo, tentando recuperar o fôlego.
– Eu sou Vicent Han. O cliente que marcou com você para discutir o projeto de arquitetura.
O mundo parou por um segundo.
O celular vibrou a alguns metros de distância, ainda na ligação.
– AMIGA? VOCÊ TÁ BEM? FAZ ALGUMA COISA SE ELE TE PEGOU! – Joyce gritava desesperada.
Ele caminhou até o celular caído no chão e o pegou.
Meu coração gelou.
Minha mente entrou em alerta máximo. Será que ele ia apagar alguma coisa? Ligar para alguém? Me sequestrar?
Mas, sem dizer uma palavra, ele apenas estendeu o aparelho na minha direção.
Hesitei por um segundo, mas rapidamente o peguei de suas mãos. E então, sem olhar para trás, fiz a única coisa sensata: saí correndo.
Eu precisava me afastar daquele lunático.
Horas depois, minhas amigas chegaram ao meu apartamento para nos prepararmos para a balada. Meu espaço era pequeno, mas aconchegante, decorado com tons neutros e algumas plantas estrategicamente posicionadas para dar vida ao ambiente. O cheiro de baunilha do difusor de aromas tomava conta do ar, misturado com os perfumes que testávamos antes de sair.
Estávamos no meio da troca de roupa, cada uma mexendo em algo diferente. Joyce, sentada no pequeno pufe ao lado da penteadeira, fazia sua maquiagem com a precisão de uma artista. Sendy experimentava diferentes brincos no espelho, enquanto eu ajeitava meu cabelo, ainda pensativa sobre os eventos do dia.
– Sendy, eu fiquei desesperada. – Joyce comentou, passando o batom. – Você precisava ver! Ela gritou, saiu correndo, e eu achei que ela ia ser sequestrada ao vivo!
– Imagino a situação. – Sendy sorriu de canto, pegando uma sombra dourada. – Mas e aí, Evellin, ele era mesmo seu cliente?
Revirei os olhos, cruzando os braços.
– Se ele fosse, teria me esperado na praça. Mas sumiu. Então, claramente, ele não queria meu trabalho.
Joyce arqueou a sobrancelha, me olhando pelo reflexo do espelho.
– Mas ele disse que era seu cliente, né, amiga?
Bufei.
– Aquele cara é um lunático, isso sim!
– Ou um lunático muito rico. – Joyce brincou, piscando.
– Ou só um cara excêntrico que você julgou errado. – Sendy acrescentou, ajeitando o vestido. – Mas, sinceramente? Se ele te perseguiu pela praça, eu também teria corrido.
– Obrigada! – Levantei as mãos, como se finalmente tivesse encontrado alguém sensato.
– Só tem um problema nisso tudo… – Joyce fechou o estojo de maquiagem e virou para mim com um olhar malicioso.
– O quê?
Ela sorriu.
– Ele ainda sabe onde te encontrar.
Arrepios subiram pela minha espinha.
Ótimo. Era só o que me faltava.
O pensamento de que aquele homem sabia onde me encontrar ficou martelando na minha cabeça. Eu tentava ignorar, mas, no fundo, sentia um arrepio incômodo.
– Tá vendo, Joyce? Agora a Evellin ficou paranoica. – Sendy riu, terminando de prender os cabelos.
– Se eu sumir, vocês já sabem quem foi! – resmunguei, colocando os brincos.
– Relaxa, amiga. – Joyce piscou. – Vamos para a balada, dançar até esquecer qualquer homem maluco de terno azul.
– Ótima ideia. – Peguei minha bolsa e respirei fundo.
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Atualizado até capítulo 28
Comments
Juh Machado
eu também correria com certeza 🤭
2025-04-17
1
Uilia Amorim Siqueira
/Facepalm//Facepalm/
2025-04-20
1