Capítulo 4

Uma semana depois…

Tudo já estava pronto.

Roger havia tirado Clara da escola, se demitido do trabalho e vendido a casa com todos os móveis inclusos. Não havia mais nada que os prendesse ali.

O trailer já estava carregado com mantimentos, roupas, ferramentas e tudo o que Roger acreditava que seria essencial para começar uma nova vida longe de tudo. Clara, Lauren e o pequeno Austin já estavam acomodados no interior do trailer quando o novo dono da casa chegou.

Roger desceu, firme, com a papelada em mãos. Apertou a mão do comprador, entregou as chaves e assinou os últimos documentos. O homem lhe entregou o restante do valor combinado. Roger guardou o envelope com cuidado, respirando fundo.

Por fim, ele olhou uma última vez para a casa que, por tanto tempo, foi o palco de tantos momentos – bons e ruins. Uma pontada atravessou seu peito, mas ele logo se virou e caminhou de volta ao trailer. Subiu no banco do motorista.

Roger: Prontos?

Clara olhou pela janela, seu coração acelerado. Lauren permaneceu em silêncio, olhando para o nada com expressão vazia. Austin estava entretido com um brinquedo de borracha no colo de Clara.

Clara: Mais pronta do que nunca.

Roger sorriu, deu partida no motor e, alguns segundos depois, o trailer começou a se mover.

Eles deixavam tudo para trás — as ruas conhecidas, os vizinhos, os olhares, as memórias.

Seguiam pela estrada em direção ao desconhecido. Ao novo lar. Ao começo de tudo. Ou… quem sabe, ao início do fim.

Durante a viagem, com o trailer cortando quilômetros de estrada cercada por paisagens cada vez mais verdes, Clara acomodou Austin em sua cadeirinha, certificando-se de que ele estava seguro. Ele balbuciava e sorria, encantado com o balanço suave do veículo.

Clara se ajeitou em seu assento e abriu a mochila onde guardava os livros que Roger havia comprado para ela semanas antes. Pegou um exemplar grosso e colorido, intitulado “Flores Silvestres do Oregon” e começou a folheá-lo. As imagens eram vibrantes, acompanhadas de descrições detalhadas — flores venenosas, medicinais, comestíveis, ornamentais.

Logo depois, ela trocou por um manual de primeiros socorros. Leu atentamente sobre cortes, mordidas de insetos, fraturas, febres, queimaduras… tudo anotado com marcadores coloridos e pequenos post-its que ela mesma havia colocado. Queria estar pronta para tudo.

Em seguida, pegou outro livro — “Sobrevivência Básica em Ambientes Naturais”. Técnicas de acampamento, coleta de água, identificação de alimentos seguros. Era tudo tão diferente, tão fora do comum, mas ao mesmo tempo… empolgante.

Enquanto lia, sentia-se mais viva do que em qualquer aula da escola. Ali, naquela estrada, com a promessa de recomeço e liberdade, Clara se dava conta de que aquela mudança — por mais assustadora que fosse — talvez fosse o que ela precisava para respirar de verdade.

Austin soltou um gritinho animado, tirando-a dos pensamentos.

Clara: (sorrindo) Calma, campeão. Logo a gente chega.

Roger, dirigindo com os olhos atentos na estrada e uma mão firme no volante, olhou brevemente pelo retrovisor.

Roger: Tá tudo bem aí atrás?

Clara: Tudo certo, pai. Estamos estudando pra virar selvagens oficiais.

Roger riu baixo.

Roger: É isso que eu quero ouvir.

E o trailer seguiu, deixando o passado para trás, enquanto Clara mergulhava nas páginas que, agora, pareciam guias para um novo capítulo de suas vidas.

Roger estacionou o trailer próximo à bomba de combustível e desligou o motor. O sol já se punha no horizonte, tingindo o céu com tons alaranjados e dourados. Ele se virou para as duas no banco de trás e disse:

Roger: Vou abastecer. Se quiserem, tem uma mercearia ali do lado… podem pegar o que quiserem.

Lauren apenas balançou a cabeça negativamente, de braços cruzados, apoiada na janela.

Lauren: Não tô com vontade de nada.

Clara hesitou por um momento, mas respirou fundo e perguntou, com gentileza:

Clara: Tem certeza? Posso trazer alguma coisa pra você…

Lauren: Não, Clara. Vai logo.

Sem insistir, Clara desceu do trailer e caminhou até a mercearia. O sino acima da porta tocou quando ela entrou. O ambiente era pequeno, mas aconchegante, com cheiro de pão assando e prateleiras abarrotadas. Ela pegou uma cestinha e foi andando pelos corredores, pegando algumas coisas simples: salgadinhos, dois refrigerantes, pacotes de biscoito e alguns lanches de forno. Quando passou pelo freezer, viu o lanche de presunto e queijo que Roger adorava e sorriu sozinha. Pegou dois e colocou na cesta.

Logo depois, Roger apareceu pela porta, com as mãos nos bolsos e um sorriso preguiçoso no rosto.

Roger: Já decidiu tudo?

Clara: Sim. Peguei seu favorito.

Roger: É mesmo? — ele se aproximou e puxou a filha para um abraço de lado — Você é incrível.

Ele então se afastou e foi até o corredor de bebidas. Clara observou de longe enquanto ele pegava, uma a uma, cinco garrafas de uísque. Franziu a testa, surpresa.

Clara: Pai?

Roger: — riu ao ver o olhar dela — Relaxa, é só pra garantir. Vamos passar muito tempo sem ver uma cidade.

Clara: Isso tudo… só pra garantir?

Roger: Bom, vai que aparece um urso e eu tenho que negociar…

Clara riu, balançando a cabeça. No caixa, quando já estavam passando os itens, ela pegou de última hora um doce de morango com um pequeno cata-vento colorido preso no topo.

Clara: É pro Austin. Ele vai amar.

Roger: Claro que vai.

Roger pagou tudo, pegou as sacolas e eles voltaram ao trailer. Clara subiu primeiro e foi direto até Austin, que estava acordado, inquieto no seu assento. Ela entregou o doce com o cata-vento, e o pequeno imediatamente se encantou com as cores girando, balbuciando e batendo palminhas.

Roger entrou logo atrás, ajeitando as sacolas no armário do trailer e olhando com ternura para a cena.

Roger: Isso aí, campeão… gira até cansar.

O trailer voltou à estrada, agora carregando um pouco mais de comida, um pouco mais de esperança — e o som leve das risadas de Austin, preenchendo o espaço como um alívio silencioso.

A estrada de terra ficou para trás, e o trailer agora estava estacionado em uma clareira, no limite da floresta. O céu já começava a se tingir com tons escuros e alaranjados — o fim do dia se aproximava rapidamente, e seguir adiante naquela escuridão poderia ser perigoso. Roger desligou o motor e se espreguiçou, aliviado por terem chegado tão longe.

Roger: Vamos parar por aqui hoje. É melhor esperar a luz da manhã pra continuar.

Sem dizer nada, Lauren saiu de seu lugar e caminhou em passos lentos até o pequeno quarto no fundo do trailer.

Lauren: Tô com enxaqueca… vou deitar um pouco.

Roger a observou desaparecer pelo corredor estreito e soltou um suspiro pesado. Ele sabia que aquilo era mais do que apenas uma dor de cabeça — era tudo o que ela vinha acumulando há tanto tempo, explodindo em forma de silêncio e afastamento.

Roger: (baixinho, para si mesmo) Eu sei que não é só isso…

Ele então virou-se para Clara, que observava pela janela a floresta densa à frente.

Roger: Ei, o que acha de darmos uma volta antes de escurecer de vez?

Os olhos de Clara se iluminaram.

Clara: Sério? Claro!

Roger sorriu, pegando Austin do assento e colocando o bebê no canguru preso ao seu peito, ajustando com cuidado para que ele ficasse seguro. Austin balbuciava animado, parecendo sentir a energia da aventura que vinha pela frente.

Eles desceram do trailer e logo adentraram a trilha natural que se abria diante deles. A floresta era viva, pulsante. Os galhos se moviam com o vento, folhas caíam como pequenos suspiros da natureza e o som dos pássaros ecoava entre as árvores gigantescas. Era quase mágico.

Roger seguia à frente, abrindo caminho com cuidado, seus passos firmes na terra úmida. Austin ria a cada movimento mais brusco, como se a floresta fosse um parque de diversões.

Clara vinha logo atrás, observando cada detalhe. As folhas, os sons, o cheiro da madeira molhada… tudo era novo, e ao mesmo tempo, reconfortante.

Mas mais do que isso, ela observava seu pai. O jeito como ele caminhava com segurança, como checava a trilha antes de cada passo. Forte, decidido, protetor. Era impossível não se sentir segura com ele ali.

Ver Roger indo à frente, com Austin preso ao peito, abrindo caminho para ela, fez algo apertar dentro do coração de Clara. Uma mistura de gratidão e admiração. E também um outro sentimento, mais confuso… mais profundo. Ela sabia que ele era seu pai, mas não podia negar que era um homem lindo. O rosto marcado por traços firmes e maduros, o corpo forte, os braços cheios de veias que carregavam seu irmão com facilidade.

Clara balançou a cabeça levemente, tentando afastar qualquer pensamento estranho. Mas a imagem dele ali, guiando-os com tanta confiança, ficaria gravada nela por muito tempo.

Roger: (olhando por cima do ombro) Tá tudo bem aí atrás?

Clara: — sorriu, rápido — Tudo ótimo.

Eles continuaram caminhando mais um pouco, explorando em silêncio, até que o céu começou a escurecer de vez. Era hora de voltar. E mesmo com o friozinho da noite chegando, Clara sentia o peito aquecido. Algo estava mudando dentro dela. E ela sabia… aquela floresta não seria o único lugar onde eles se perderiam e se encontrariam.

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Comments

Daisy Conceicao

Daisy Conceicao

pena que esses tipos de histórias nunca chegam no final,as autoras começam e não terminam

2025-04-21

3

Anonymous

Anonymous

tô começando a gostar

2025-04-20

1

Ver todos

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