Sombras do Desejo: Querido Papai

Sombras do Desejo: Querido Papai

Capítulo 1

Aviso ao Leitor

Este livro contém temas extremamente sensíveis como luto, depressão profunda, isolamento, traumas familiares, e uma relação proibida entre pai e filha. A narrativa explora emoções cruas, densas e muitas vezes perturbadoras.

Se você é sensível a assuntos como incesto, sofrimento psicológico, perda de entes queridos e saúde mental abalada, recomendamos cautela.

Essa história não é para todos. Ela pode despertar gatilhos emocionais.

Leia com responsabilidade.

...****************...

Olá, leitor(a),

Antes de tudo, obrigada por estar aqui. “Sombras do Desejo” não é apenas uma história. É um mergulho profundo nos cantos mais escuros da dor, da culpa… e do desejo que ninguém ousaria admitir.

Você está prestes a acompanhar uma família devastada pela perda, lutando para sobreviver no meio do nada — e a se manter inteira quando tudo começa a ruir por dentro.

Se decidir continuar… respire fundo.

...****************...

Capítulo 1

O motor do carro ainda estava ligado, mas Roger não parecia com pressa. Estacionado em frente à escola, ele olhava para a filha em silêncio. Clara mantinha os olhos fixos na entrada do prédio, observando os alunos passarem em grupos, rindo e conversando como se o mundo estivesse leve. Para ela, nunca era assim.

Sabia exatamente o que a esperava ali dentro.

Os dedos apertavam o zíper da mochila com força. O peito pesava.

Roger percebeu.

Roger: Está tudo bem, Clara?

Clara: É… só um dia comum. Nada demais.

Ele não acreditou. Conhecia aquele olhar desde que ela era criança — quando tentava esconder a tristeza por trás de um sorriso curto. Roger se inclinou no banco e beijou suavemente o topo da cabeça dela.

Roger: Vai dar tudo certo, meu amor. Eu tô com você.

Clara fechou os olhos por um segundo, segurando as lágrimas que sempre teimavam em aparecer nesses momentos. Ela sorriu, pequeno.

Clara: Eu sei… obrigada, pai.

Ela o abraçou rápido, mas apertado, como sempre fazia. Depois pegou sua mochila e saiu do carro. Antes de fechar a porta, virou-se.

Clara: Te amo.

Roger: Também te amo.

Ela se virou e caminhou em direção à entrada. Roger ficou no carro, observando até que ela sumisse entre os outros alunos.

Assim que Clara atravessou os portões, sentiu os olhares. Cochichos. Risadas abafadas.

— É ela… — alguém sussurrou.

— A filha da louca.

— Moram naquela casa velha ainda?

Clara não reagiu. Já havia escutado de tudo. Que a mãe era instável, que o irmão mais novo era um erro, que o pai tinha pena dela, que ela era culpada pelo o afogamento do seu irmão… o Ethan… Já disseram até que ela mesma era maluca.

Ela colocou os fones de ouvido e aumentou o volume. A música invadiu sua mente como uma muralha. Só assim conseguia seguir.

Subiu as escadas até sua sala do segundo ano. O corredor ainda cheirava a tinta barata e desinfetante. Ao entrar na sala, fingiu não notar os olhares. Sentou-se na carteira do fundo, como sempre fazia. Perto da janela, longe de tudo.

Mesmo cercada de gente, Clara estava sozinha. Como sempre.

Clara olhava para o quadro, mas sua mente estava longe dali. O som da professora era abafado, distante, como se ela estivesse debaixo d’água. Seus olhos estavam fixos na janela, mas o que via não era o pátio da escola — era o quintal de casa, naquele dia quente e claro, em que tudo mudou.

Ela e Ethan estavam na piscina. Clara tinha doze anos, ele oito. Brincavam juntos, rindo, pulando, jogando água um no outro. Roger e Lauren estavam dentro de casa, aproveitando o raro silêncio para conversar.

Ethan: Tô com fome!

Clara: Eu também. Vou pegar lanche pra gente, tá? Fica aí que eu já volto.

Ethan: Não demora!

Clara: Prometo!

Ela saiu da piscina, pegou uma toalha e entrou na cozinha. Começou a preparar dois sanduíches, encheu copos com suco, cortou frutas. Se distraiu. Talvez tenha se empolgado demais querendo fazer tudo bonitinho. Dez minutos se passaram.

E então, o grito.

Lauren (ao fundo): ETHAAAAAAN!!!

O prato caiu das mãos de Clara.

Ela correu pela casa, o coração já disparado, atravessou a porta da varanda e congelou. Sua mãe estava ajoelhada na beira da piscina, os olhos arregalados, gritando. O corpo de Ethan flutuava na parte funda da piscina, de bruços, imóvel.

Clara: Não… não… não…

Roger apareceu correndo, pulando na piscina antes mesmo de dizer uma palavra. Puxou Ethan para fora, deitou-o na borda e começou a fazer massagem cardíaca.

Lauren: ELE TAVA COM VOCÊ, CLARA! ELE TAVA COM VOCÊ!

Clara: Eu… eu fui pegar comida… eu…

Lauren: ELE TINHA OITO ANOS! VOCÊ O DEIXOU SOZINHO?!

Lauren atravessou o rosto de Clara com um tapa violento. Roger nem olhou para elas — estava desesperado, tentando fazer o peito do filho subir e descer novamente.

Roger: Respira, filho… vem, Ethan… por favor, vem…

A ambulância chegou depois de alguns minutos. Ethan ainda tinha pulso, mas fraco. Foram direto para o hospital, Roger com ele no colo, Clara em silêncio, chorando sem emitir som algum.

Ele morreu duas horas depois. Clara escutou o som do monitor cardíaco se apagando de uma sala distante. Quando olhou para Lauren, ela já não a via mais como filha.

Na sala de aula, a lembrança era tão nítida que Clara só percebeu as lágrimas quando estas já molhavam seu caderno. Os colegas ao redor começaram a rir, cochichar, apontar.

Aluno 1: Tá chorando por causa da mãe doida dela.

Aluno 2: Ou do irmão morto, sei lá…

Professora: Ei! Chega, agora! — ela andou até Clara — Clara, está tudo bem?

Clara não respondeu. Apenas se levantou, saiu da sala e correu pelo corredor. Entrou no banheiro, trancou-se na primeira cabine e se sentou no chão.

A dor apertava o peito como se fosse nova. Como se tivesse acabado de acontecer.

Clara (sussurrando): Eu só queria… que tudo isso acabasse.

O restante do dia passou arrastado. Clara evitava ao máximo o olhar das pessoas, fingia prestar atenção nas aulas, mas sua mente estava a mil. Ela contava os minutos para a saída. Só queria ir embora.

Quando finalmente o sinal tocou, ela caminhou em silêncio até seu armário, no fim do corredor. Já estava mais vazio, mas ainda havia alunos espalhados por ali, conversando, rindo alto. Clara girou o cadeado e abriu a porta.

Um monte de papéis caiu aos seus pés.

Ela congelou.

Se abaixou devagar e pegou um deles. Era uma carta. Escrita à mão.

“Você devia ter morrido no lugar dele.”

Ela pegou outra.

“Assassina. Sua mãe ficou louca por sua culpa.”

E mais uma.

“Acha que alguém vai te amar um dia? Nem sua mãe te suporta.”

As cartas continuavam. Todas assim. Cruéis. Dolorosas. Clara amassou uma delas com força nas mãos. Seus olhos se encheram de lágrimas, mas ela respirou fundo, tentando segurar. Não ali. Não na frente deles.

Ela se levantou e bateu a porta do armário com força, o estrondo ecoando no corredor.

E então, como se aquilo tivesse sido um sinal, um grupo de alunos no fundo do corredor começou a rir alto e chamar atenção dos outros.

Aluno 1: Gente, olha só, vamos fazer a reconstituição da tragédia!

Aluno 2 (fingindo nadar): Ai, mana, vou só nadar um pouquinho enquanto você pega um lanchinho, tá?

Aluno 3 (encenando): Clara: “Voltei! Cadê você, Ethan? Ai meu Deus! Ele morreu!”

Todos riram. Um deles deitou no chão, fingindo estar boiando. Outro simulou o tapa de Lauren na cara de Clara, fazendo som com a boca.

Aluno 4: “VOCÊ DEIXOU ELE MORRER!!!”

O corredor virou um teatro cruel.

Clara não aguentou.

...****************...

Clara, 17 anos

Roger, 38 anos

Lauren, 36 anos

Austin, 1 ano

Mais populares

Comments

Eliene Luges

Eliene Luges

A mãe culpou a filha mas quem deixou 2 crianças na piscina foram os adultos.

2025-04-24

2

Anonymous

Anonymous

já estou amando a história, pelo que li ela não deve ser filha biológica dele.

2025-04-20

1

Elenice Martins

Elenice Martins

é triste, infelizmente não se deve deixar criança sozinha na piscina e nem perto, mais é que mais acontece

2025-04-20

2

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!