Antes de ser o Senhor do Submundo, Mordrath era um dos mais temidos Deuses da Guerra e da Escuridão. Sua presença no campo de batalha era como uma sombra viva — invencível, indomável, imparável. Os outros deuses o admiravam... e o temiam.
Com o tempo, esse medo se transformou em traição. Temendo que Mordrath se tornasse mais forte do que todos os deuses juntos, o baniram para o Submundo, selando-o entre as sombras. Lá, entre ruínas e almas perdidas, ele ergueu seu trono silencioso, transformando o vazio em um reino.
Foi nesse exílio que conheceu sua primeira companheira, Nyssara, uma guerreira imortal de espírito indomável. Com ela teve um filho, uma esperança viva em meio à escuridão. Mas os deuses, ainda temendo o poder de Mordrath, interferiram novamente. Forçaram o casamento de seu filho com uma semideusa de linhagem controlada, tentando quebrar qualquer chance de união poderosa.
Séculos depois, Nyssara caiu em uma guerra entre reinos sombrios. Mordrath, mesmo frio aos olhos do mundo, nunca deixou de visitá-la no Limbo, onde sua alma repousava entre véus de névoa e silêncio. Era seu único momento de vulnerabilidade.
Foi nesse período que ele conheceu os ancestrais de Aelyra, ainda jovens e poderosos, guardiões de segredos antigos. Eles lhe falaram da Profecia da Lua e Sangue, sobre uma loba suprema que nasceria com sangue divino e seria destinada a ter três companheiros — almas ligadas por poder, dor e amor eterno.
Desde então, Mordrath jurou se manter por perto. Observava Aelyra crescer, silencioso, oculto entre os véus do tempo. Era protetor, mas distante, guardando o segredo da profecia até que o momento certo chegasse.
Mas quando Kael, o Rei Vampiro, despertou como o primeiro companheiro de Aelyra, Mordrath sentiu algo inesperado: ciúmes. Pela primeira vez, sua eternidade solitária foi ferida por um sentimento humano. Ele não se incomodava por ser o segundo... até perceber que o vínculo entre os dois crescia.
Ele queria ser o primeiro. O único.
O que ele não sabia — e o destino ironicamente guardava — era que Aelyra já havia feito suas próprias escolhas muito antes da profecia se cumprir. Após atingir a maioridade, entregou sua primeira vez a alguém que confiava, sem saber que isso um dia importaria para algo tão grandioso.
Mordrath, tão antigo quanto o próprio tempo, ainda teria muito o que aprender sobre o coração de uma loba que não pertencia a ninguém... apenas ao seu próprio destino.
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Sombras da Lua Eterna – Fragmento III: A Sombra que Observa
Aelyra sempre sentiu algo estranho ao redor de si, como se olhos antigos a acompanhassem desde criança. Era uma sensação de presença constante, protetora e sombria, mas nunca invasiva. Era ele. Mordrath.
Após a revelação do vínculo com Kael, a loba começou a perceber mudanças sutis. Mordrath não era mais apenas o deus silencioso que aparecia quando ela estava em perigo. Agora, surgia em momentos inesperados — observando, perguntando, cuidando demais.
Ela notava o modo como ele a olhava. Havia um misto de raiva contida, desejo e... saudade? Mas saudade de quê? De quem?
Mordrath, por sua vez, travava batalhas internas. Ele se sentia tolo por invejar Kael, mas não conseguia evitar. A cada gesto entre a loba e o vampiro, sentia o peso de não ser o primeiro. Não saber que ela já tinha amado, vivido, se entregado... mexia com sua vaidade imortal.
Mas Aelyra não era uma donzela inocente, tampouco uma alma esperando salvação. Ela era fogo, lobo e lua. Forte o bastante para amar sem medo e se ferir sem se quebrar.
Certa noite, no alto das torres do antigo santuário lunar, Mordrath finalmente quebrou o silêncio:
— Eu deveria ter sido o primeiro, não acha?
Aelyra o encarou com os olhos dourados brilhando sob a lua cheia.
— Primeiro no quê, exatamente?
— A sentir o gosto da tua alma. A tocar teu corpo com reverência. A dividir o peso do teu destino.
Ela sorriu de lado, um sorriso triste.
— Você me observou por mil anos... mas nunca me tocou. Nunca falou. Esperou a profecia te dar permissão.
Ele quis responder, mas o nó em sua garganta eterna o impediu. Pela primeira vez, o Deus do Submundo se calou diante de uma mortal.
— Você não é o segundo, Mordrath — ela disse, suave como um uivo ao vento. — Você é o que chegou tarde demais... mas ainda pode ser o que fica até o fim.
E naquele instante, entre as estrelas e a sombra, algo se formou. Não um beijo, nem um toque, mas uma promessa invisível. A certeza de que nem mesmo o tempo é mais velho do que um amor que resiste à própria eternidade.
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Atualizado até capítulo 72
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