Sonhei com Você

A noite caiu, mas Bianca não conseguia dormir. Rolava de um lado pro outro, o calor do corpo queimando de dentro pra fora. Cassian ainda estava lá - nos pensamentos, no cheiro imaginado, no toque que nunca aconteceu.

Mas então, em algum momento entre o devaneio e o cansaço, ela adormeceu.

No sonho, estava de novo na sala de aula, mas tudo estava diferente. As luzes estavam apagadas, apenas o luar entrava pelas janelas. As carteiras tinham sumido. Só existia eles, Cassian e Bianca

Ele estava sem terno, a camisa branca aberta até o meio do peito. As mangas arregaçadas. Os olhos escuros cravados nela como se fosse a única coisa que existia no mundo.

- Você sabe que eu não posso - ele disse, com a voz rouca, o corpo se aproximando.

- Eu sei. Mas quero mesmo assim - ela respondeu, sem hesitar.

Ele pegou o rosto dela com firmeza. Os lábios quase encostando. O hálito quente. As mãos dele desceram pelas costas dela até a cintura, puxando-a contra o corpo. Sentia o calor dele. A dureza. A tensão.

- Você é um perigo, Bianca.

- Então se arrisca.

O beijo veio forte, urgente. A boca dele era tudo que ela imaginava e mais. Mãos grandes, pegada firme. Seu corpo derretendo contra o dele.

TRIMMMMMMM!!!

O despertador tocou. Alto. Cruel. Acordando-a no exato momento em que ele a jogava contra a mesa da sala.

- Merda! - gritou, sentando na cama com o coração disparado.

Olhou o celular. 7h52. A aula começava em oito minutos.

- Ai, meu Deus, eu vou me atrasar!

Pulou da cama, tropeçou no próprio chinelo, xingou, correu pro banheiro com a escova de dentes numa mão e o celular na outra. Tentou arrumar os cachos com água, vestiu a saia mais curta sem pensar e a camisa já meio amassada do dia anterior.

Enquanto colocava os tênis correndo, a imagem do sonho ainda estava fresca. O toque, o beijo, a voz dele.

E o pior?

Ela sentia vontade de voltar a dormir... só pra continuar de onde parou.

Bianca chegou esbaforida no portão da universidade, com a mochila pendurada num ombro e a camisa meio pra fora da saia. O coração ainda acelerado, mas agora por dois motivos: a corrida... e o maldito sonho.

Entrou pelo corredor apressada, desviando de alunos e tentando prender a respiração. O pesadelo de qualquer novata era chegar atrasada no primeiro dia - mas pra ela, o maior pesadelo era encontrar ele, logo agora, toda bagunçada, suada e com cara de quem tinha sonhado besteira.

E como se o universo tivesse um senso de humor cruel... lá estava ele.

Cassian.

Encostado ao lado da porta da sala, com o mesmo terno impecável, os braços cruzados e o olhar impassível. Mas quando os olhos dele pousaram nela, por um segundo, ela viu - viu o brilho de quem estava se divertindo por dentro.

- Bom dia, Bianca- ele disse, com a voz baixa, quase arrastada.

- D-desculpa... me atrasei - respondeu, ajeitando a blusa discretamente.

Cassian se aproximou. Um passo lento, firme, até ficar a poucos centímetros dela. O suficiente pra ela sentir o perfume amadeirado outra vez. O mesmo do sonho.

- Dormiu demais? - ele perguntou, os olhos fixos nos dela.

Ela engoliu seco.

- Algo assim...

Ele inclinou um pouco o rosto, e a voz veio ainda mais baixa:

- Sonhos intensos podem ser perigosos. Principalmente quando deixam a gente... sem fôlego pela manhã.

Bianca arregalou os olhos. Ele sabia? Não, impossível. Mas o jeito como ele falava... como se lesse a alma dela.

- P-podemos entrar? - tentou mudar de assunto.

Ele deu um leve sorriso, como se estivesse saboreando o efeito que causava nela.

- Claro. Depois de você.

Ela passou por ele sentindo o calor subir pelas coxas. O olhar dele a acompanhava, ela sabia. O som do salto do sapato dele atrás dela no corredor fazia seu corpo inteiro vibrar.

Ela se sentou. Ele fechou a porta da sala. E antes de começar a aula, disse, com a voz firme:

- Abram o caderno. Hoje vamos falar sobre desejos escondidos... e como eles moldam nossas escolhas.

E naquele momento, Bianca teve certeza:

Não era mais só um jogo.

Era uma guerra silenciosa. E ela... estava perdendo.

Ela decidiu que precisava ser racional.

Respirou fundo, manteve a cabeça baixa durante a aula e fingiu anotar tudo com atenção. Evitava os olhos de Cassian como se eles fossem lâminas prestes a cortar sua sanidade.

Ela precisava se controlar.

Mas o problema é que ele não estava facilitando.

A aula seguia normal, até ele passar entre as carteiras, lendo trechos de um livro que falava sobre desejos reprimidos. Valquíria fingia escrever, mas o som da voz dele a fazia perder a linha do caderno. Até que...

- Bianca, pode ler o próximo parágrafo?

Ela congelou. Levantou os olhos lentamente. Ele estava ao lado da carteira dela, o corpo inclinado, a mão apoiada na mesa. Os olhos fixos nela. Tão perto que ela podia ver as veias discretas na mão dele. Tão perto que o perfume dele invadia tudo.

Pegou o livro com mãos trêmulas. Leu o trecho. A voz falhando no começo. Mas Cassian não a interrompeu. Só ouvia. Olhava. Quase saboreava cada palavra saindo da boca dela.

Quando terminou, ele sussurrou:

- Ótimo. Continua com esse foco... apesar das distrações.

Ela sentiu o rosto queimar.

Depois da aula, saiu da sala o mais rápido que pôde. Não olhou pra trás. Só queria respirar. Mas no corredor, quando achou que estava livre, sentiu aquela presença novamente. O calor. O peso.

- Tá me evitando? - ele perguntou, surgindo ao lado dela como uma sombra.

Ela virou o rosto, mantendo o tom frio.

- Não é nada pessoal. Só... prefiro manter distância.

- Entendo. Às vezes, o que é perto demais assusta.

Ela encarou ele.

- E às vezes, o que é errado... atrai.

Cassian sorriu. E aquele sorriso era puro veneno.

- Exatamente por isso que é perigoso.

Os olhos dele baixaram por um segundo, encarando os lábios dela. Valquíria sentiu o corpo inteiro estremecer. E antes que qualquer um dissesse mais alguma coisa, ele se aproximou. De leve.

A mão dele roçou na cintura dela. Disfarçadamente. Como se estivesse afastando alguém - mas estavam sozinhos.

- Cuidado, Bianca- ele murmurou no ouvido dela. - Tem lugares onde nem a razão consegue te salvar.

Ela ficou ali, parada, tremendo por dentro.

Tentou evitar o perigo.

Mas já estava presa no jogo.

E o pior?

Ela queria perder.

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Comments

Octavio Gonzalez

Octavio Gonzalez

Não posso deixar de dizer que fico ansiosa pela próxima atualização! 😍🤞🏼

2025-04-21

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