A neve caía suavemente sobre Moscou naquela noite. As ruas estavam silenciosas, exceto pelo som abafado dos carros e o eco de passos no concreto gelado. Dentro de um antigo galpão, reformado como centro de treinamento, uma jovem se movia com precisão mortal.
SN Kim.
Fria como o aço que empunhava, determinada como nunca. Seu olhar era intenso, carregado de perguntas que ninguém nunca teve coragem de responder.
Ela parou por um segundo, ofegando, encarando o próprio reflexo em um espelho rachado na parede. O rosto ainda carregava traços delicados, mas os olhos... os olhos estavam diferentes. Cansados. Desconfiados. Perigosos.
— "Por que vocês mentem pra mim?" — sussurrou, como se esperasse uma resposta do vidro.
Atrás dela, a porta se abriu. Era Mikhail, o homem que a criou como filha desde que ela chegou à Rússia, ainda bebê, nos braços de um velho aliado dos Kim.
— SN, já passou da meia-noite. Você precisa descansar.
Ela olhou de volta, com a voz baixa e firme:
— "Me diz a verdade. Quem eu sou?"
Mikhail hesitou. Pela primeira vez, o homem que enfrentava assassinos sem piscar… engoliu seco.
— "Você é SN Romanova. Nossa menina. Nossa filha."
Ela balançou a cabeça, com raiva nos olhos.
— "Mentira."
— "SN..."
— "Eu vejo nos olhos de vocês toda vez que falo do passado. Eu sinto. Tem algo errado. Tem algo que vocês escondem de mim desde o começo."
— "É para sua segurança."
— "Minha segurança ou o conforto de vocês em manter o passado enterrado?"
Silêncio.
Ela andou até uma caixa velha no canto do galpão. Com cuidado, puxou a tampa. Dentro, havia papéis antigos. Documentos, fotos queimadas… e um nome. Um nome escondido em um pedaço de papel amassado:
“Família Kim – Seul”
Seus dedos tremeram. Era a primeira vez que aquele nome aparecia em sua frente.
— "Eu pesquisei. Existe uma máfia na Coreia do Sul com o mesmo sobrenome que aparece nesses papéis."
— "SN..."
— "Não me chama assim se vai continuar mentindo."
Ela encarou Mikhail com os olhos marejados, mas firmes. Pela primeira vez, ele baixou a cabeça.
— "Você… você é a última filha da família Kim. A caçula. Todos pensaram que você tinha morrido naquela noite."
Ela sentiu o mundo girar. Suas pernas falharam por um instante, mas ela se segurou. Não chorou. Não naquele momento. Ela estava além das lágrimas.
— "E meus irmãos…? Eles também morreram?"
Mikhail respirou fundo.
— "Não. Eles estão vivos. E são poderosos. Comandam o império que restou. Mas ninguém nunca soube que você sobreviveu. Ninguém além de nós."
SN ficou em silêncio. O coração batia rápido, mas sua mente já trabalhava em estratégias.
— "Eles me deixaram pra morrer?"
— "Não. Eles pensaram que você morreu. Eles te procuraram por anos, mas nós te escondemos tão bem que nem mesmo seus próprios irmãos conseguiram te encontrar."
Ela fechou os olhos por alguns segundos.
— "Então… está na hora deles saberem que falharam."
Enquanto isso, em Seul…
Na sede da máfia Kim, a noite também era longa.
Namjoon estava reunido com os irmãos em uma sala escura. Mapas, documentos e garrafas de uísque ocupavam a mesa. O clima era pesado.
— "Mais uma pista falsa," disse Yoongi, jogando um papel no chão. "Mais um informante que jurava ter visto ela."
Jimin, sentado ao lado, esfregou o rosto com as mãos.
— "A gente tá caçando um fantasma, hyung. E se ela... e se ela realmente não—"
— "CALA A BOCA!" — gritou Jungkook, levantando de repente.
Todos olharam.
— "Você quer desistir? Beleza. Mas eu não vou. Eu prefiro morrer procurando do que aceitar que a SN não tá viva!"
Jungkook estava descontrolado. Os olhos vermelhos, o punho cerrado. Jin se levantou devagar.
— "Jungkook... a gente sente falta dela tanto quanto você. Mas não é saudável viver nessa obsessão."
— "VOCÊS ESTÃO ERRADOS! Ela tá viva. Eu sinto. Eu sei. Eu ouço a voz dela nos meus sonhos. Eu vejo ela toda vez que fecho os olhos. E o pior... é que eu não consigo lembrar do rosto dela direito."
Silêncio.
Taehyung, sentado no canto, falou pela primeira vez em horas.
— "Talvez... talvez ela esteja esperando a gente."
Jungkook o encarou.
— "Ou talvez… ela esteja vindo."
E ele estava certo.
Naquela mesma noite, SN estava em um avião, olhando pela janela. As luzes da Rússia desaparecendo atrás de si. Em mãos, o colar com símbolo da família Kim que Mikhail finalmente lhe entregou.
Ela apertou o colar.
— "Me esperem. Eu tô voltando. E dessa vez… ninguém vai me impedir de descobrir a verdade."
A neve da Rússia caía com força naquela noite. A mansão silenciosa parecia congelada no tempo. Lá dentro, SN caminhava pelo corredor com passos decididos. Sua cabeça girava com mil pensamentos desde que Mikhail, o homem que a criou, revelou sua verdadeira origem.
Ela entrou na sala de estar, onde ele a esperava, sentado em frente à lareira, com uma caixa de madeira antiga nas mãos.
— “Você disse que ia contar tudo,” — ela disse firme, sem hesitar.
Mikhail olhou para ela com um peso no olhar. Como se carregasse um segredo por décadas. Ele assentiu, abriu a caixa e retirou um pequeno objeto: um pingente antigo, aparentemente comum, mas com uma pedra brilhante no centro.
— “Esse diamante… estava com você quando eu te encontrei. Seus pais colocaram isso no seu pescoço antes do ataque.”
— “É só uma joia?” — SN perguntou, olhando o brilho da pedra.
— “Não,” — ele respondeu, encarando-a com seriedade. — “Esse diamante é o verdadeiro motivo da guerra que destruiu sua família.”
SN congelou.
— “O quê…?”
Mikhail respirou fundo, como se escolher as palavras fosse mais difícil do que enfrentar qualquer inimigo.
— “Dentro dessa pedra preciosa, há um microdispositivo. Um chip. Ele contém códigos de segurança para acessar as contas bancárias da máfia Kim, valores bilionários que estavam escondidos em paraísos fiscais… mas não é só isso.”
Ela o encarava, em silêncio.
— “Também existem arquivos secretos. Dossiês. Identidades falsas, localizações de aliados e inimigos. Informações confidenciais que podem destruir qualquer organização criminosa no mundo. O seu pai… confiou tudo isso a você. Porque você era a última esperança. Ninguém suspeitaria de um bebê.”
SN sentiu o coração acelerar. Ela apertou o pingente no pescoço — sempre achou que era apenas uma lembrança, algo simbólico. Nunca imaginou que carregava o peso do império nas mãos.
— “Então… aquele ataque… não foi só por poder.”
— “Foi pelo que estava com você. Eles queriam esse diamante. Por isso atacaram a sua família. Por isso quase todos morreram.”
— “E meus irmãos…?”
— “Eles sobreviveram. Sete deles. E passaram anos tentando te encontrar.”
Ela fechou os olhos. Lágrimas silenciosas escorreram, mas seu rosto permaneceu firme. Não era tristeza. Era raiva contida. Fúria silenciosa.
— “Eles ainda me procuram?”
— “Não sei. Mas se descobrirem que você está viva… tudo muda.”
SN levantou os olhos, com uma determinação fria.
— “Então que mudem. Eu não vou mais me esconder. Eu vou pra Seul. E vou descobrir tudo. Quem me traiu. Quem me protegeu. Quem me abandonou.”
Mikhail se levantou também.
— “Se você fizer isso… vai estar se jogando no meio da guerra.”
— “A guerra me pariu, Mikhail. Eu sou filha dela.”
Enquanto isso, na mansão da máfia Kim – Seul
Os sete irmãos estavam na sala principal. A tensão era visível. O nome de SN voltava a rondar os corredores, rumores estranhos, sussurros no submundo.
Kim Nam-joon (RM), sempre o mais racional, estava com os braços cruzados. Kim Seok-jin (Jin) se mantinha calado, olhando para o fogo na lareira. Min Yoon-gi (Suga) digitava furiosamente no notebook, tentando rastrear fontes. Jung Ho-seok (J-Hope) caminhava de um lado pro outro, nervoso. Park Ji-min (Jimin) mordia o lábio, claramente abalado. Kim Tae-hyung (V) estava no canto, com o olhar perdido. E Jeon Jung-kook (Jungkook)... fervia.
— “VOCÊS VÃO MESMO CONTINUAR FALANDO COMO SE ELA TIVESSE MORTA?!” — ele gritou, socando a mesa.
Todos olharam.
— “EU SEI QUE SOU A PORRA DA OVELHA NEGRA DESSA FAMÍLIA,” — Jungkook disse, com os olhos marejados — “mas se mais um de vocês abrir a boca pra dizer que a SN tá morta, EU JURO QUE EU VOU PARTIR PRA CIMA!”
— “Jungkook, calma...” — tentou Jin, mas ele não deixou.
— “CALMA NADA, HYUNG! A GENTE É FAMÍLIA OU NÃO É?! Eu não me importo se todo mundo me acha rebelde, problemático, perdido... mas essa garota era nossa irmã! Ela é o que restou do nosso coração. Se a gente desistir dela, então já era. A gente perdeu TUDO.”
O silêncio dominou a sala.
Até que, do nada… o telefone de Yoongi tocou.
Ele atendeu. E o rosto dele mudou completamente.
— “Hyungs... vocês não vão acreditar. Alguém usando o sobrenome Kim… acabou de desembarcar em Seul. Vinda da Rússia.”
Todos se levantaram.
Jungkook apertou os punhos.
— “É ela.”
Namjoon encarou todos os irmãos.
— “Se for mesmo… então a guerra começou de novo.”
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Atualizado até capítulo 32
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