Capítulo 3

Acordaram-na antes do amanhecer.

O baque seco da porta de ferro se abrindo arrancou Vanessa de um breve cochilo. Os olhos arderam com a luz das lamparinas, mas ela não protestou. Apenas sentou-se, silenciosa, enquanto uma criada de cabelo ruivo e expressão indiferente largava uma muda de roupas acinzentadas em sua frente.

— Vista-se. O Duque quer vê-la.

Essas palavras fizeram sua garganta secar.

Raphael não a recebeu em nenhum grande salão. Ele a esperava em um pátio interno, cercado por colunas escuras cobertas de hera, onde uma fonte antiga jorrava água sobre estátuas de crianças cegas.

Vanessa foi escoltada por dois soldados. Caminhava com passos curtos, curvada, a cabeça baixa.

— Deixe que ela venha sozinha — ordenou o Duque, sem sequer virar o rosto.

Os soldados hesitaram. Obedeceram. E se afastaram.

Vanessa ficou parada por um instante. O som de seus próprios batimentos era ensurdecedor. Respirou fundo e, como se caminhasse para um abatedouro, foi até ele.

Raphael estava de pé, mãos cruzadas nas costas, vestindo um sobretudo longo, preto, que fazia seus ombros largos parecerem ainda maiores. Seu cabelo estava preso em um nó simples. O sol fraco da manhã refletia nos fios como gelo reluzente.

Quando ela parou a poucos passos, ele se virou.

O olhar dele caiu sobre ela como um julgamento.

— Esperava menos — disse ele.

Ela não entendeu. Mas não ousou perguntar.

— A Imperatriz tem senso de humor. Mandar uma criatura assim para minha casa... — Ele começou a andar em círculos ao redor dela, os passos ritmados. — Fraca. Desnutrida. Feia... para os padrões deles.

Ele se deteve atrás dela. A respiração de Vanessa parou.

— Mas há algo curioso... — a voz dele ficou baixa, rouca. — Seu cabelo parece ter vida própria. Um mar escuro de rebeldia. Como se cuspisse em tudo o que este império valoriza.

Ela continuava sem se mover.

— Olhe para mim.

Vanessa obedeceu. Lentamente ergueu os olhos. Aqueles olhos verdes, como folhas que ardiam ao sol, encontraram os olhos azuis de Raphael.

Foi como mergulhar em gelo.

— Seu dever, a partir de hoje, é simples — disse ele. — Você limpará a biblioteca, cuidará da estufa dos fundos, e servirá chá à minha esposa no fim da tarde. Um deslize e será açoitada. Um olhar indevido e será trancada no pátio com os cães.

Vanessa apenas assentiu com a cabeça, mas ele notou: suas mãos estavam fechadas em punhos. Os dedos tremiam.

— Está com raiva? — ele perguntou, com um leve sorriso. — Uma escrava, sentindo raiva?

Ela engoliu seco. Estava. Não só raiva — vergonha, humilhação, medo, impotência. Mas havia algo além de tudo isso. Algo que ela não sabia nomear. Algo que nascia da maneira como ele a olhava. Como se ela fosse um quebra-cabeça impossível, uma ofensa viva.

Raphael se aproximou. Muito.

Ela sentiu o calor do corpo dele, mesmo sem que ele a tocasse.

— Cuidado com o que sente, escrava — ele sussurrou. — Emoções, aqui, são armas. E você ainda não tem permissão para empunhar nenhuma.

Então virou-se, sem cerimônia, e foi embora.

Vanessa ficou ali, sozinha. As pernas quase não a sustentavam. Sentou-se à beira da fonte, tentando controlar a respiração.

Mas no reflexo da água, viu algo que a fez parar.

Seus olhos ainda estavam fixos nos dele.

E por um instante... ela achou que tinha visto dor.

Não na própria expressão.

Na dele.

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