A luz do amanhecer filtrava-se pelas frestas da cabana em Mandrava, iluminando o rosto de Afonso, que já se recuperava aos poucos. O príncipe, ainda deitado, observava Amália preparar uma sopa simples na pequena lareira. O cheiro de ervas enchia o ar, misturado à tensão silenciosa entre os dois.
— Você não precisava fazer isso — disse Afonso, a voz mais firme que nos dias anteriores.
Amália nem se virou, mexendo a panela com uma colher de madeira.
— Se eu não te alimentar, você vai desmaiar de novo. E não quero carregar um príncipe morto por aí.
Ele sorriu, mas logo o olhar ficou sério.
— Não posso ficar aqui por muito mais tempo, Amália. Meu povo precisa de mim. O tratado com Aquilária...
Ela o interrompeu, virando-se com uma expressão desafiadora.
— Seu povo não vai ter príncipe nenhum se você morrer na estrada. Se quer tanto voltar, pelo menos espere até andar sem parecer um cervo manco.
Antes que Afonso pudesse responder, a porta da cabana se abriu, e Selena entrou, ofegante.
— Amália, os soldados voltaram! Estão revistando as casas. Acho que sabem que ele tá aqui.
Afonso se levantou com dificuldade, ignorando a dor no ombro.
— Eles vieram me buscar. Preciso ir com eles.
Amália cruzou os braços, hesitando, mas acabou cedendo.
— Tá bem. Mas se desmaiar no caminho, não me culpe.
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No castelo de Montemor, Crisélia recebia Cássio, que, ainda fraco, fora trazido numa maca. O escudeiro, com o peito enfaixado, lutava para falar.
— Majestade... o príncipe... ele escapou. Eu o vi correr para a floresta — disse Cássio, a voz entrecortada.
Crisélia apertou as mãos, aliviada, mas o peso da incerteza ainda a sufocava.
— Você fez o que pôde, Cássio. Descanse agora. Vamos encontrá-lo.
Ao seu lado, Rodolfo, que ouvia tudo em silêncio, aproveitou o momento para se aproximar da mãe, um brilho oportunista nos olhos.
— Se Afonso não voltar logo, mãe, alguém precisa assumir o trono. Eu poderia...
Crisélia o cortou, seca.
— Você só vai sentar naquele trono quando eu estiver morta, Rodolfo. E mesmo assim, duvido que dure uma semana.
Ele recuou, fingindo um sorriso, mas o rancor ficou evidente em seu olhar.
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Enquanto isso, em Aquilária, Catarina caminhava pelos corredores do palácio, seguida por seu conselheiro, Demétrio. A princesa, com um vestido azul escuro que realçava sua aura imponente, falava com calma calculada.
— Meu pai ainda acredita na paz com Montemor, Demétrio. Mas eu vejo uma chance maior. Sem Afonso, eles estão vulneráveis — disse ela.
Demétrio franziu a testa, cauteloso.
— Alteza, provocar Montemor pode trazer guerra. O rei Augusto não aprovaria.
Catarina parou, virando-se para ele com um sorriso frio.
— Meu pai não precisa aprovar. Ele só precisa confiar em mim. Prepare mensageiros. Quero saber tudo sobre o paradeiro do príncipe.
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Na vila, os soldados de Montemor cercaram a cabana de Amália. O capitão, o mesmo de barba rala, bateu à porta com força. Quando Amália abriu, ele entrou sem cerimônia, os olhos varrendo o lugar.
— Sabemos que ele está aqui, moça. Não minta de novo — disse o capitão, a mão no cabo da espada.
Afonso deu um passo à frente, erguendo a cabeça apesar da fraqueza.
— Sou eu quem procuram. Afonso, príncipe de Montemor.
O capitão fez uma reverência rápida, aliviado.
— Alteza, viemos levá-lo de volta. A rainha está desesperada.
Amália observava em silêncio, mas antes que os soldados o levassem, Afonso se virou para ela, os olhos sinceros.
— Você salvou minha vida, Amália. Não vou esquecer isso.
Ela deu de ombros, escondendo o leve calor que subiu ao rosto.
— Só não morra por aí, Alteza. Seria uma pena.
Os soldados escoltaram Afonso para fora, e Amália ficou na porta, vendo-o partir. Algo dentro dela, que ela não sabia nomear, parecia se agitar.
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Horas depois, Afonso chegou ao castelo de Montemor, recebido por uma Crisélia emocionada. A rainha correu até ele, abraçando-o com força, enquanto o povo nas muralhas aplaudia o retorno do príncipe.
— Meu neto... Pensei que tinha te perdido — disse ela, a voz embargada.
Afonso a apertou gentilmente, mas seu olhar era distante.
— Estou aqui, avó. Mas precisamos garantir o tratado com Aquilária. O ataque na estrada... não foi coincidência.
Crisélia assentiu, séria.
— Vamos investigar. Por agora, descanse. Montemor precisa de você inteiro.
Enquanto isso, Rodolfo, do canto da sala, observava o reencontro com um misto de alívio e inveja.
— Sempre o herói, hein, Afonso? — murmurou para si mesmo, os punhos cerrados.
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Na vila, Amália voltava à sua rotina, carregando um balde d’água do poço. Selena, ao seu lado, não resistiu a comentar.
— Você salvou um príncipe, Amália. Isso não é pouca coisa.
Amália riu, disfarçando o pensamento que a incomodava.
— Ele é só um homem, Selena. Um homem metido com uma coroa.
Mas, no fundo, ela sabia que o encontro com Afonso tinha mudado algo. E, em Montemor, Afonso, olhando pela janela do castelo, pensava na plebeia de cabelos ruivos que o salvara, um leve sorriso nos lábios.
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Atualizado até capítulo 25
Comments
Vanusa Candida Alves Nunes
Ta parecendo a história de uma novela que assisti, já tô amando 🥰🥰🥰
2025-04-03
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