Quando a batalha finalmente terminou e o silêncio inquietante tomou conta do lugar, eu tomei minha decisão.
Eu precisava seguir sozinha.
Olhando ao redor, via os rostos tensos, alguns ainda ofegantes pelo esforço da luta. Mas o que realmente me incomodava não era o cansaço visível nos outros, e sim os olhares que me lançavam. Cautelosos, desconfiados… alguns até cheios de desprezo.
Eu já conhecia essa sensação.
Na minha vida passada, fiz incontáveis missões em florestas, lidando com o perigo como se fosse algo natural. Sobrevivência era instinto para mim. E agora não seria diferente. Encontraria um ponto estratégico, construiria uma base e me viraria sozinha. Não precisava de ninguém aqui.
Estava prestes a me levantar quando uma voz suave quebrou meus pensamentos.
— Aonde você vai?
Olhei para o lado e vi Oliver. O sacerdote. Diferente dos outros, seu olhar não carregava aquela repulsa silenciosa. Sempre gentil, sempre bondoso… era de se esperar que fosse o único a falar comigo sem hostilidade.
Suspirei, ajeitando os fios de cabelo bagunçados pelo combate.
— Vou seguir sozinha — respondi sem rodeios. — Não acho que seja uma boa ideia ficar aqui com pessoas que claramente não me querem por perto.
Ele franziu a testa, parecendo prestes a argumentar, mas, antes que pudesse, outra voz entrou na conversa.
— Você quase morreu agora há pouco. — Lucas, o guarda de Liam, me lançou um olhar duro. — Acha que sozinha vai ter mais chances?
Meu olhar encontrou o dele. Por um instante, senti vontade de responder com seriedade, mas então simplesmente ri.
— Que assim seja. Se for para morrer, prefiro morrer sem estar cercada por pessoas que me odeiam.
Houve um breve silêncio após minhas palavras. Então, outra voz se fez presente—mais grave, mais imponente.
— Você não vai sair daqui.
Meus olhos se voltaram para Liam. Ele me olhava com firmeza, os braços cruzados, como se sua decisão já estivesse tomada e eu não tivesse escolha alguma.
— Você é filha de um governador importante. Não podemos simplesmente deixar você morrer sem mais nem menos.
Havia algo quase cínico em suas palavras. Nenhuma simpatia, nenhuma preocupação genuína. Apenas uma obrigação fria e calculista. Como se eu fosse um fardo político, não uma pessoa.
Ri, mas dessa vez, minha risada foi carregada de sarcasmo.
— Quanta consideração — murmurei.
Foi então que, sem perceber, meus olhos se voltaram para outra pessoa.
Henry.
O grande feiticeiro.
Ele se destacava entre os outros, não apenas pelo poder que possuía, mas por sua aparência marcante. Jovem, de cabelos brancos que contrastavam com sua pele clara, um olhar que parecia puro, mas ao mesmo tempo carregava um toque de malícia sutil. Ele era exatamente como eu lembrava do livro.
Meu personagem favorito.
E, ao perceber o quanto sua presença ainda me afetava, senti um calor estranho subir pelo meu rosto.
Droga. Eu realmente não lembrava o quão bonito ele era.
Como se sentisse meu olhar sobre ele, Henry desviou o rosto rapidamente. Isso só piorou a situação. Sem jeito, abaixei um pouco a cabeça, tentando esconder minha expressão. Mas alguém notou.
Liam.
Seu semblante mudou sutilmente, seus olhos estreitando com algo que parecia… curiosidade.
Ignorei. Fingi que não percebi sua reação e tentei manter a compostura. Mas, enquanto pensava na minha saída, outra ideia passou pela minha mente.
Talvez eu não devesse deixar Henry sozinho ali.
Querendo ou não, ele era alguém valioso. E, bem… às vezes, um pequeno ato de bondade não faz mal a ninguém, certo?
Soltei uma risada baixa, sem motivo aparente.
E, naquele momento, percebi que, gostasse ou não, eu ainda teria que lidar com essas pessoas por um tempo.
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Atualizado até capítulo 61
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