O som de passos apressados na areia me traz de volta à realidade. Meu corpo ainda está rígido, minha mente tentando processar tudo, mas não tenho tempo para hesitar.
— Ela acordou. — A voz masculina é fria, carregada de tensão.
Viro o rosto lentamente, encontrando o olhar intenso de um dos sete. O príncipe Henry, herdeiro direto de um dos reinos. Alto, de postura rígida, seus olhos dourados analisam cada um dos meus movimentos, como se já estivesse esperando o pior.
E ele não é o único.
Os outros estão despertando, se recompondo. Alguns ainda tentam entender a situação, mas a tensão no ar é evidente. Porque, no meio deles, estou eu. Maya. A mulher que ninguém quer ao lado.
Engulo em seco, reprimindo o impulso de reagir defensivamente. Sei como a Maya do livro se comportaria—fria, arrogante, sem se importar com a hostilidade ao redor. Mas agora… eu estou dentro dessa história. E sei que agir como ela apenas me tornará alvo.
Preciso pensar.
Levanto-me devagar, o vestido pesado grudando em minhas pernas por causa da areia úmida. Meus músculos estão rígidos, e uma dor incômoda lateja em minha cabeça, mas não posso demonstrar fraqueza.
— Onde estamos? — minha voz soa firme, apesar da confusão que ainda me domina.
Por um momento, ninguém responde. Eles trocam olhares, avaliando se vale a pena me dar essa resposta.
Então, uma nova voz se manifesta.
— Em uma ilha. — O tom é neutro, mas carrega algo mais… uma certa relutância.
Meu olhar se fixa na figura que acabou de falar. Cabelos escuros, olhos afiados, um rosto que carrega sempre um ar de seriedade.
Liam.
Meu peito aperta ao vê-lo tão de perto. Ele está exatamente como me lembrava do livro—firme, inabalável, e olhando para mim com a mesma expressão impassível de sempre. Não há surpresa em seu olhar, apenas vigilância. Como se estivesse esperando que eu fizesse algo errado a qualquer momento.
Ele nunca confiou em Maya.
E agora, sendo ela, posso sentir isso na pele.
— A profecia… — a voz de outra pessoa interrompe meus pensamentos. A princesa Maryan, a mais jovem entre nós. Seus olhos brilham com uma mistura de medo e compreensão. — Então é real?
Um silêncio pesado recai sobre o grupo. Todos nós sabemos o que isso significa.
Dois anos.
Dois anos nessa ilha, cercados por monstros, sem saber se realmente há um propósito maior ou se fomos simplesmente abandonados aqui para morrer.
E, para piorar, eles estão presos aqui comigo.
Sei que, se quiser sobreviver, não posso me dar ao luxo de ser isolada. Mas também sei que nenhum deles me aceitará facilmente.
Então, qual é o meu próximo passo?
Sinto o peso dos olhares sobre mim, mas um, em particular, me chama mais atenção.
Liam.
Ele está me observando, os braços cruzados, o olhar indecifrável. E, por um breve instante, percebo algo diferente. Não é apenas desconfiança. É algo mais profundo, mais instintivo. Como se, por mais que sua mente me rejeite, seu corpo já tivesse decidido que não pode me deixar sozinha.
Interessante.
Talvez eu possa usar isso a meu favor.
Mas, antes que possa refletir mais, um rugido estrondoso ecoa pela floresta densa atrás de nós.
O primeiro monstro apareceu.
E agora… a sobrevivência realmente começou.
---
Quando vi o monstro, a primeira reação foi pura instinto. Não pensei, não hesitei. O monstro era colossal, seus olhos brilhando de uma forma assustadora enquanto avançava em nossa direção, suas garras afiadas e dentes enormes se destacando como uma ameaça iminente.
O medo tentou me paralisar por um segundo, mas não deixei que isso me controlasse. Meu corpo se movia quase automaticamente—quase, porque, apesar de todas as lembranças da minha vida passada, o corpo em que eu estava agora ainda não estava treinado como o meu antigo. Mesmo com a experiência, ele não estava preparado para aquele tipo de combate.
Com rapidez, agarrei um galho caído no chão, quebrou-o de forma rústica e, em um movimento rápido, amarrei uma pedra na ponta, improvisando uma lança. O tempo estava se esgotando. Antes que o monstro pudesse me atacar, saltei sobre ele, tentando enfiar a lança em qualquer ponto vulnerável que eu conseguisse alcançar. Mas foi inútil.
A força do monstro foi demais. Mesmo sabendo como agir, meu corpo novo não reagia com a mesma agilidade de antes. Ele me empurrou com uma força descomunal, fazendo-me cair de costas contra uma árvore com um impacto doloroso. O ar foi forçado para fora dos meus pulmões, e, por um momento, senti a fraqueza do corpo que agora ocupava.
Minha cabeça girava, mas a dor não me permitiu ceder ao desespero. Rapidamente, me recuperei, e, com o corpo ainda dorido, com as mãos trêmulas de tanto esforço, consegui, finalmente, enfiar a lança improvisada no olho esquerdo do monstro. A criatura gritou em um som agudo e desesperado, antes de cair pesadamente ao chão, paralisada.
A luta estava perdida para ele, mas não para mim. Ainda respirando pesadamente, com o suor escorrendo pela testa, olhei para o lado e vi Lucas, o guarda de Liam, já tomando as rédeas da situação. Ele e alguns dos outros estavam fazendo o que podiam para garantir que o monstro não fosse uma ameaça para o grupo.
Mas, no meio da tensão, algo me chamou a atenção. Eu estava ali, de pé, ainda tentando controlar a respiração, quando percebi os olhares sobre mim. Não eram de admiração, nem de agradecimento. Eram olhares duros, cautelosos, e até um pouco… desconfiados.
Eles estavam me observando, provavelmente esperando por algo de mim—uma reação, uma mudança, uma falha.
Frustrada, percebi que meu vestido estava se arrastando e, sem pensar muito, rasguei um pedaço do tecido. Com agilidade, amarrei no meu pé, improvisando uma espécie de proteção para não ter que usar os malditos sapatos altos que haviam me sido dados quando cheguei aqui.
Eu sabia o que pensavam de mim. Maya, a vilã. Não importava o que eu fizesse, nunca seria vista como alguém capaz de ajudar ou de ser útil. Mas não importava. Eu faria o que fosse necessário para sobreviver. Para não ser vista como uma fraqueza.
E, no fundo, algo me dizia que aquela batalha era só o começo.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 61
Comments