capitulo 5

Capítulo 5 – Reflexo do Inferno

O vestido era preto, justo, com uma fenda lateral que revelava quase toda minha perna esquerda. Decote profundo. Salto agulha. A máscara cobrindo metade do rosto. Olhar afiado. Sensual. Mortal.

— Tem certeza que quer ir? — Léo perguntou, encostado no batente da porta, com terno escuro e olhar de lobo prestes a atacar.

— Tenho. Essa é minha chance de ver o que Drakovic está armando por dentro. Essa festa... não é só um evento. É uma vitrine de poder.

— Então você vai entrar na boca da fera com esse vestido?

— É exatamente por isso que vão me subestimar.

Léo se aproximou. Passou a mão pela minha cintura, subiu até o decote.

— Quando essa missão acabar, vou rasgar esse vestido com os dentes.

— Promete?

— Prometo te foder até você esquecer como se digita.

Sorri.

— Melhor você sobreviver pra isso, mafioso.

A festa acontecia em uma mansão na Zona D, em um dos bairros mais ricos da cidade. Um lugar blindado, lotado de seguranças, com convidados internacionais, políticos, banqueiros... e criminosos.

A fachada era de um evento beneficente da “Fundação Koldov”. Mas por trás dos sorrisos falsos e champanhes caros, rodavam contratos de armas, tráfico humano e tecnologia experimental.

Eu entrei sozinha. Com um ponto no ouvido conectado a Léo e Valentim, que monitoravam tudo de uma van estacionada a dois quarteirões.

— Transmissão limpa — disse Valentim. — Temos olhos internos com drones. Qualquer coisa, você diz a palavra-chave: “Tempestade”.

— Copiado — respondi.

Passei pelo hall principal, entre colunas de mármore e mulheres vestidas como deusas. Homens riam alto, cheiravam cocaína em guardanapos de seda. Mas o que me interessava estava no segundo andar.

O Laboratório Sombra.

Peguei uma taça e caminhei como se pertencesse àquele mundo. Um dos seguranças — um brutamontes russo com cicatriz no rosto — me olhou de cima a baixo. Sorri como uma boa vadia de luxo. E continuei andando.

— Escadas à esquerda, entrada oculta por biometria. Mas você é a Cibernética. Dê seu show — disse Léo no ponto, com voz rouca.

— Já estou na dança. Vamos ver se a música é boa.

Usei um garfo roubado do buffet para abrir o painel de segurança oculto. Três fios cruzados. Sinal óptico. Fiz uma leitura de voz do último acesso com o microfone embutido no brinco.

“Drakovic. Acesso autorizado.”

A porta abriu.

O corredor era gelado, silencioso, banhado em luz azul. Computadores, cápsulas de vidro... e uma coisa que me fez parar.

Ela.

Dentro de um cilindro de segurança. Uma garota. Pele pálida, cabelos castanhos escuros, corpo magro, olhos fechados. E sensores conectados à cabeça, pulsando luz vermelha.

Uma réplica de mim.

Engoli em seco.

— Valentim... estou olhando pra... uma versão minha. Idêntica. Idade, estrutura, rosto. Mas... diferente. Mais fria.

— Merda... — ele sussurrou. — Isso é real?

— Real demais.

Antes que eu pudesse reagir, ouvi passos atrás.

Virei. Um homem elegante, com terno branco e sorriso de psicopata.

Mikhail Drakovic.

— Sabia que viria, Cibernética. Cães sempre voltam ao cheiro do próprio criador.

Levantei a arma. Ele não se moveu.

— Um tiro, e a réplica explode. Implante de autodestruição. Sensível ao som.

— O que você fez com ela?

— O que Dogrado não teve coragem de fazer com você. Controle absoluto. Essa não sente nada. Sem prazer. Sem dor. Só códigos. Lealdade absoluta. E o nome dela é... Klara.

Ele riu.

— Um presente para o mundo. Mas você… você será o aviso. A primeira e última rebelde. Hoje, você morre.

— Errado. Hoje, você cai.

Falei a palavra no ponto: “Tempestade”.

O inferno começou.

Explosões no andar de baixo. Gritos. Tiros. Sirenes falsas disparadas por Valentim para causar pânico. Léo invadiu pela varanda quebrando vidro, com dois soldados armados.

Atirei contra Drakovic, mas ele já tinha sumido pelos fundos.

Corri até o painel da cápsula de Klara. Hackeei os códigos, desativei o sensor de destruição, mas mantive a contenção.

Ela abriu os olhos.

Olhos... iguais aos meus.

— Quem... sou eu? — ela sussurrou.

— Ainda não sei. Mas você é minha responsabilidade agora.

— Ana! Saia daí! — gritou Léo pelo ponto.

Corri de volta ao salão. Drakovic estava fugindo num helicóptero particular. Valentim tentou atirar, mas ele usou escudos térmicos.

Ele escapou.

Mas não com o que queria.

De volta à mansão Ventura, desativei Klara temporariamente e entreguei o núcleo de dados aos técnicos.

— Essa menina... é um aviso — eu disse, encarando todos na sala. — Eles vão tentar fazer mais. E a próxima pode não hesitar em matar.

— Como paramos isso? — perguntou Enzo.

— Destruindo a raiz: os servidores principais da SKT Biotech em Moscou. É lá que tudo começa. E termina.

— E você vai até lá?

— Sim. Mas não sozinha.

Léo pegou minha mão.

— Onde você for, eu vou.

Eu sorri. Puxei-o pra perto, sussurrando:

— Agora… me leva pro quarto. E termina o que prometeu com aquele vestido.

— Vai se arrepender de ter me provocado, hackerzinha.

— Ou vou gozar até perder os sentidos.

Ele me levantou nos braços.

E eu soube que a guerra podia esperar algumas horas.

Porque aquela noite… era só nossa.

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