Capítulo 5: Famíliar

Havia um retrato sobre a mesa de centro da sala. A moldura de madeira escura envolvia a imagem de um homem de cabelos negros, já marcados por alguns fios grisalhos, um grande sorriso iluminando o seu rosto. Ao seu lado, sua esposa, que ele abraçava com carinho, e seus filhos, todos reunidos naquele instante congelado no tempo.
Seu nome é Otto. O meu pai.Ele morreu quando eu tinha apenas cinco anos. Minha memória dele não é nítida.
Fragmentos dispersos de sua risada ecoam na minha mente as vezes. Lembro-me do calor de suas mãos segurando as minhas, do tom suave de sua voz ao falar comigo. Pequenos detalhes que, com o tempo, se tornaram ecos.
Tudo o que lembro com clareza são suas cores. Não seu rosto, não suas palavras, mas as cores. Sempre as cores. Elas são a primeira coisa que percebo em alguém, e, geralmente, a primeira coisa que me faz querer me afastar.
Algumas vozes são como vermelho muito forte, ardendo nos olhos. Alguns toques trazem azul frio e cortante, como gelo rachando sob os pés. Mas as dele eram diferentes.
Tons vibrantes de verde dançavam ao redor dele, leves como folhas caindo das árvores em uma tarde de outono. Não era o verde opressor de lugares fechados, nem o verde ácido que costumava me trazer desconforto. Era um verde vivo, fresco, como se eu estivesse diante de um campo aberto depois da chuva.
Charlotte
Charlotte
Então aquele alfa é seu amigo?
A voz da minha mãe me faz sair dos meus pensamentos.
Um som suave e familiar, que me traz de volta à realidade.
Alexandre
Alexandre
Sim ele é.
Sorrio levemente e volto-me para ela, que coloca o pote dos seus biscoitos caseiros sobre o centro da mesa antes de sentar no sofá ao meu lado.
O aroma doce logo preenche o ar e faz com que eu sinta uma leveza no peito.
Charlotte
Charlotte
E estão no mesmo curso? Ele não tem muita cara de artista.
Os feromônios da minha mãe eram azuis. Azuis como o céu de verão depois da chuva, aquele azul claro e sereno, profundo, como a calma que sempre sinto quando estou perto dela.
Alexandre
Alexandre
Não, ele faz engenharia, é da mesma turma de Oliver.
O azul dança ao redor dela, preenchendo o espaço com uma suavidade que me faz querer me perder naquele mar tranquilo.
Charlotte
Charlotte
Espero que ele consiga fazer alguma coisa entrar na cabeça de Arthur.
Eu me perco nesses tons por um momento, antes de voltar a olhar para o pote de biscoitos, sentindo o calor familiar da presença dela.
Alexandre
Alexandre
Soube que ele é bom em matemática e Oliver confirmou.
Com um sorriso ela pega um biscoito logo o pondo na boca e comendo. Parecia estar pensando o que iria perguntar primeiro.
Charlotte
Charlotte
Então não tem tido mais problemas com os feromonios?
Ela realmente nunca para de se preocupar comigo, esboço um sorriso.
Alexandre
Alexandre
Estou bem mãe, só tenho problemas quando sou exposto a feromonios descontrolados.
Os seus olhos ainda preocupados voltam-se aos meus, como se quisesse falar sobre algo que eu já imaginava o que era.
Charlotte
Charlotte
Aquele alfa... ele tentou se aproximar outra vez?
Desvio meus olhos desconfortável com a pergunta. Ela sabe que não gosto de falar sobre ele.
Alexandre
Alexandre
Eu o vi alguns dias atrás, mas ele não...
Suspiro sentindo meu estômago revirar só de lembrar.
Alexandre
Alexandre
Ele não fez nada.
A mão dela pousa suavemente no meu braço, um gesto simples, mas carregado de significado. O toque dela nunca me causa sobrecarga, talvez porque eu já o conheça desde sempre.
O azul dela se intensifica por um breve instante, ganhando um tom mais profundo, como o céu ao anoitecer, antes de voltar à leveza do azul de verão após a chuva.
Ela não diz nada. Não pergunta. Não pressiona. Apenas me toca com carinho, como se dissesse, sem palavras, que está ali. Que entende.
Alexandre
Alexandre
Respiro fundo~
O desconforto que antes pesava no meu peito se dissolve um pouco, como nuvens se afastando no céu.
E então, sem precisar falar sobre isso, simplesmente mudamos de assunto.
Charlotte
Charlotte
Por sinal como o Kim está? Nunca mais trouxe os seus amigos aqui.
Reviro os olhos e sorrio de suas palavras.
Alexandre
Alexandre
Mãe não estamos mais no ensino médio onde trazia os meus amigos para passar a tarde.
Ela revira os olhos e puxa a minha orelha.
Charlotte
Charlotte
Só porque resolveu morar sozinho pensa que é adulto? Você ainda é meu filho, traga eles aqui algum dia vou preparar um bom almoço para eles.
Agora eu quem reviro os olhos mas logo me arrependo pois ela puxa mais forte minha orelha.
Alexandre
Alexandre
Desculpa, desculpa eu vou trazer, solta por favor.
Peço e ela assim faz, conversamos sobre os meus irmãos. Os meus irmãos velhos como a Mel que adotou uma criança e o Miguel que está sempre viajando o mundo.
Sem nos darmos conta a tarde passou e quando me dei por mim Gael e Arthur saem do quarto, meu irmão parecia cansado, mas o alfa ainda mais.
Charlotte
Charlotte
Já acabaram? Venham eu estava conversando e me esqueci de levar um lanchinho para vocês.
Minha mãe levanta da cadeira e acolhe Gael o levando a cozinha e o paparicando, sorrio ao ver meu irmão arrastando os pés até o sofá emburrado por ter sido ignorado.
Alexandre
Alexandre
Quer biscoito?
Entrego o pote de biscoito para ele que se senta ao meu lado.
Arthur
Arthur
Matemática é chato.
Alexandre
Alexandre
Eu entendo, também não é minha praia.
Sinto um peso leve encostar no meu braço antes mesmo de ouvi-lo falar. Arthur nunca foi de grandes gestos, mas suas ações sempre carregam sinceridade. A sua cabeça repousa ali, apenas existindo ao meu lado.
Arthur
Arthur
Senti sua falta
Ele admite, a voz baixa, sem hesitação. Olho para ele e sorrio de leve.
Alexandre
Alexandre
Eu também.
Arthur é um beta. Não tem feromônios. O seu toque é neutro, como uma brisa morna ao entardecer. Assim como a minha mãe, o seu contato não me sobrecarrega, não me sufoca com cores intensas ou vibrações avassaladoras. Ele é pacífico, como uma folha pousando no chão, silencioso.
Arthur
Arthur
Por que não veio antes? Você sumiu desde...
Endireito a minha posição desconfortável e ele levanta sua cabeça.
Arthur
Arthur
Foi mal... É que desde então mal vejo o Miguel e você, a Mel é casada nem dá para contar com ela.
O que aconteceu naquele dia foi culpa minha, tivemos uma briga enorme de família e deve ser solitário para ele.
Alexandre
Alexandre
Vou aparecer mais, não se preocupa.
Bagunço seus cabelos o fazendo resmungar pois havia finalizado seu cabelo hoje.
Sorrio de sua irritação e noto o olhar de Gael sobre mim, ele já vai?
Charlotte
Charlotte
Arthur venha se despedir do seu professor.
Levanto junto com Arthur que se despede, e logo volta para o sofá.
Charlotte
Charlotte
Querido você vai com Gael certo?
Afirmo com a cabeça, o meu olhar se desvia para Gael, e ele já estava me observando. Seu sorriso se abre devagar, caloroso e gentil, como um sol brilhante surgindo no horizonte após uma noite longa.
As cores ao redor dele mudam sutilmente, o dourado se torna mais intenso, misturando-se ao amarelo vibrante que sempre o acompanha. Não é um brilho ofuscante, mas um calor suave que aquece sem queimar. Como o toque morno da luz da manhã atravessando uma janela aberta.
Ao sairmos o olho de relance e limpo minha garganta chamando sua atenção.
Alexandre
Alexandre
Então... como foi ?
Ele saiu de seus pensamentos e voltou sua atenção para mim.
Gael
Gael
A aula? Bom... ele é esperto.
Afirma enquanto tinha um olhar de quem reviveu memórias de alunos bem piores que ele.
Gael
Gael
Se ele tiver mais foco tenho certeza que se sairá bem.
Alexandre
Alexandre
Espero que sim, minha mãe está preocupada, e eu também ele sempre tirou boas notas mas...
Suspiro e guardo minhas mãos no bolso do meu casaco.
Gael
Gael
Ele vai se sair bem.
Olho de relance para ele que sorri, desvio meu olhar e pisco algumas vezes tentando não me perder em suas cores.
Naturalmente a conversa continuou, falamos sobre a faculdade e o gosto peculiar de Gael por motos, ele realmente é uma enciclopédia humana de motos.
Alexandre
Alexandre
Obrigado por me trazer.
Ele sorri, pondo as mãos no bolso, um gesto despreocupado, mas que, de alguma forma, me faz observá-lo por mais tempo do que deveria. Enquanto conversávamos, e mesmo agora, seus feromônios permanecem os mesmos,suaves, envolventes, sem a intensidade esmagadora que sempre me faz querer recuar.
Gael
Gael
Por nada, até amanhã.
O amarelo dourado ao seu redor dança como pétalas ao vento, preenchendo o espaço entre nós com uma luz morna e vibrante. Há apenas a sensação de um campo aberto, banhado pelo sol, onde posso respirar sem medo.
Alexandre
Alexandre
Até.
Aceno para ele que acena de volta antes de seguir seu caminho.
Meu peito estava agitado, e seus feromonios pareciam gravados na minha mente.
Alexandre
Alexandre
Quero fazer outra pintura dele...
Suspiro frustrado e envergonhado por esse meu devaneio.
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Comments

🌼The Butterfly 🦋

🌼The Butterfly 🦋

Amigo cérebro, futuro namorado

2025-04-05

1

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