Capítulo 3: Sombras

As minhas pinturas costumam ser abstratas para as pessoas que observam. Mas para mim são como um diário pessoal, as cores que vejo através de um aroma ou de uma melodia, de um momento específico que não dá para limitar a uma forma.
Dentre tantos quadros, essa é a primeira vez que faço uma forma humana em harmonia com as suas cores.
Observo a minha tela que tomava forma. Era o mais próximo que pude chegar do que eu enxergava.
Houve outra vez que tentei pintar um quadro assim e... bom as cores tornarem-se sombrias demais.
Dessa vez sai dos meus devaneios quando o professor liberou a todos. Mas minha mente ainda parecia fora de órbita, por conta disso levei certo tempo para arrumar os meus materiais.
Quando me dou por mim, me pego a observar Gael que estava de costas e vestia as suas calças. O professor não estava mais na sala, então só restava outra vez nós dois.
Gael
Gael
Por quanto tempo vai ficar me encarando?
Seu tom de voz soou como uma tarde de pequinique, leve e descontraida, quase como se brincasse com suas palavras ele virou-se em minha direção.
Numa tentativa de fugir do contato direto com seus olhos desço meus olhos para o chão de madeira antigo.
Alexandre
Alexandre
D.Desculpa...
O som da sua risada ecoa na minha mente. E era como ouvir o som e as cores de fogos de artifício brilhantes, sinto o meu corpo estremecer e o meu peito acelerar.
Gael
Gael
Tudo bem, eu vou te perdoar por que também gosto de te observar enquanto está pintando, você fica bastante concentrado.
Ergo os meus olhos na sua direção, a sua áurea quase dourada vibrava por toda a sala como se estivéssemos num campo de mil girassóis. As cores que enxergava nele eram lindas, e pareciam dançar.
Espera o que eu estou fazendo? Não, não se deixe levar por essas cores vibrantes! Desvio meu olhar para a minha bolsa.
Alexandre
Alexandre
C.Com licença...
Com pressa guardo o restante de meus matérias na bolsa e a coloco em meu ombro.
Eu preciso por a cabeça no lugar, me deixar levar por essas emoções só vai me machucar.
Gael
Gael
Espera não precisa fugir, eu queria mesmo ser seu amigo.
Antes que pudesse dar um passo à mais, ele segura a minha mão por um breve instante, no entanto logo a solta mantendo sua mão no bolso da calça.
Gael
Gael
Desculpa. Na última vez você se assustou quando toquei seu ombro, não gosta que te toquem, não é?
Aperto a alça da minha bolsa. Ele percebeu isso... Respiro fundo e olho nos seus olhos.
Os seus olhos eram como a neve, dessa vez uma neve branca quase que pura. Afirmo com a cabeça.
Gael
Gael
Então podemos ser amigos?
Um grande sorriso se forma em seu rosto, um sorriso que poderia equiparar ao sol, por conseguir iluminar não apenas seu rosto mas o ambiente ao redor.
Alexandre
Alexandre
S.Sim...
Após trocarmos nossos números de telefones seguimos nossos caminhos.
Alexandre
Alexandre
Amigos...
Resmungo e um breve sorriso surge em meu rosto, que se desfaz gradualmente ao sentir um aroma familiar, era sombrio, fazia meu estômago revirar e meus ombros se encolherem de medo.
Alexandre
Alexandre
Rafa...
Ergo os meus olhos e mais a frente o alfa de cabelos ruivos vinha em minha direção. Sem hesitar ele se aproximou e me envolveu em seus braços.
Rafael
Rafael
A quanto tempo não te vejo, vai continuar me ignorando?
Ele me solta de seu abraço frio, e agarro com força a alça da minha bolsa e não olho em seus olhos.
Alexandre
Alexandre
É que...
Rafael
Rafael
Ainda está chateado com aquilo? Eu já pedi desculpas. Vamos não seja tão rancoroso.
As suas palavras fazem o meu estômago se revirar outra vez. Por que ele está aqui? Ele não deveria estar aqui...
Rafael
Rafael
Vim visitar um amigo meu. Ei vamos sair com o pessoal qualquer dia.
Sua mão fria toca o alto da minha cabeça, e sinto minha respiração falhar, minha cabeça doía tanto quanto meu peito.
Corro para o banheiro e lavo o meu rosto tentando acalmar a minha mente.
Pensei que depois que ele foi embora não voltaria. Ele não mudou nada. Sorrio sentindo um gosto amargo na boca, as lembranças do que ele havia feito ainda estão vivas em minha memória.
. . .
Quando cheguei na faculdade nao tinha muitos amigos, ele foi alguém gentil que me ajudou a me adaptar. Logo nos tornamos amigos, foi na época que conheci o Oliver e a Amélia, e depois de algum tempo consequentemente namorados.
Nunca tinha namorado antes, então aprendi muitas coisas com ele, mas no fim era eu quem sempre fazia tudo o que ele queria, seja ir a festas, shows, mesmo que aquilo me causasse dor de cabeça. Eu estava tão cego... na época meus amigos tentaram me avisar mas eu não dei ouvidos.
Afinal ele era gentil e seus feromonios me atraiam com seus tons de vermelho e azul como os de rubis e diamantes. O seu toque era quente e não frio, ele era como uma luz e eu o inseto que o seguia sem me deparar que estava começando a me queimar.
Quando fizemos um mês de namoro tivemos um encontro e a noite fomos a sua casa. Ele queria algo a mais, mais do que os toques por debaixo da camisa ou os beijos apaixonados, mais que simples abraços.
Então quando o beijo se tornou mais profundo e apressado me senti um pouco surpreso.
Alexandre
Alexandre
E.Espera...
Nossas respirações estavam ofegantes, seus feromonios estavam começando a ficar mais fortes e se misturar aos meu, a sensação era diferente de tudo o que já havia sentido a ponto de me deixar tonto.
Rafael
Rafael
Quero ir até o fim Alex.
Ele admite precionando seu membro em mim, ele estava excitado por minha causa? Eu também estava e se quer conseguia formular uma frase naquele momento.
Alexandre
Alexandre
T.Tudo bem, mas podemos ir devagar?
Peço e ele sorri como se tivesse ganhado o melhor presente. Eu estava feliz por ele estar assim mas também estava com medo e vergonha.
Alexandre
Alexandre
E.Espera... não m.move...tá doendo... !?
Ele suspira irritado indo com tudo me fazendo gritar de dor, era uma dor lancinante, não pude controlar as lágrimas.
Alexandre
Alexandre
P.Para Rafa por favor...
Ele não estava me ouvindo, ele parecia estar gostando da minha dor, suas mãos me apertavam.
Mas é para ser tão doloroso assim?
Quando ele acabou, estava sentindo uma dor muito forte, suas cores pareciam estar se desbotando, era sombrio e sufocante.
Rafael
Rafael
Vamos mais uma vez?
Alexandre
Alexandre
N.Não... E.eu quero parar
Falo sem forças e ele parecia irritado e voltou a se mexer.
Tento o empurrar mas ele me imobilizou e tentava me beijar.
Rafael
Rafael
Não tente esconder você gosta disso não é?
Ele fez o que queria até ficar satisfeito, eu estava tão cansado que perdi os meus sentidos.
Eu pensava que minha primeira vez seria diferente, mas aquela sensação dolorosa parecia gravada em mim.
Como pode cores tão bonitas perderem a sua cor? Eu me culpei, pensei que foi culpa minha, aquelas lindas cores se tornarem sombrias.
Rafael
Rafael
Acordou? Ah eu já estou indo, a gente se fala depois.
Pisco meus olhos sem entender ao certo o que ele havia dito. As memórias voltam como um filme em minha mente. Sento na cama e passo a mão em minha cabeça que doia.
Aquilo realmente aconteceu? Abaixo a cabeça, e sinto meus olhos arderem, havia sangue em meus lençóis. O meu corpo estava cheio de marcas, os seus feromonios estavam tão misturados ao meu a ponto de me causar náuseas.
As lágrimas caem e me encolho na cama. As memórias do alfa gentil e caloroso que conheci iam de encontro ao de ontem a noite.
Naquele momento eu me culpei, me culpei pois realmente pensei que a culpa de tudo aquilo foi minha, no outro dia me culpei mais ainda quando ele terminou comigo.
Por um tempo eu realmente pensei que eu havia falhado, que qualquer outro ômega iria gostar daquilo, e que na verdade o problema era eu.
. . .
Alexandre
Alexandre
Respiro fundo~
Espero que ele não apareça novamente, estar no mesmo lugar que ele é sufocante..
Ergo os meus olhos para o ponto de ônibus, como sempre havia algumas pessoas sentadas, mas havia uma em particular que estava de pé enquanto mexia no seu celular.
No ar os seus feromonios dourados pairavam, os meus pulmões encheram-se deles e o meu corpo relaxou como se fosse um calmante. Era como se eu estivesse a caminhar num campo repleto de girassóis.
Desde quando ele fica nesse ponto? Engulo a seco, e rezo baixinho para que ele não me perceba porém era tarde demais.
Seus olhos nevados voltaram se aos meus e um sorriso caloroso surgiu em seus lábios iluminando seu rosto.
Gael
Gael
Alex? Você também pega ônibus nesse ponto?
Afirmo com a cabeça sem tirar meus fones de ouvido, se tirar tenho certeza que não conseguirei lidar com suas cores vibrantes.
Gael
Gael
Que legal, na verdade eu não costumo pegar ônibus mas minha moto está quebrada.
Ele anda de moto? Deve ser legal, eu sempre quis aprender, mas acho que minha mãe infantaria se me visse andando de moto.
Alexandre
Alexandre
Ah... você anda de moto?
Olho para ele curioso e então ele afirma com a cabeça contando sobre o que aconteceu com sua moto.
Alexandre
Alexandre
Nossa isso vai sair caro não?
Gael
Gael
Sim, por isso vou ter que trabalhar no final de semana como tutor, se conhecer alguém que precisa de um reforço em matemática.
Na verdade eu conheço um sim. Na semana passada ouvi minha mãe desabafar por 30 minutos como meu irmão mais novo é péssimo em matemática. Eu não me importaria de ensinar a ele se eu fosse bom mas eu não sou exatamente o melhor nessa área.
Gael
Gael
Ah chegou meu ônibus, tchau Alex.
Aceno e o observo entrar no ônibus, eu deveria dizer a ele sobre meu irmão?
Bom ele está precisando de dinheiro e minha mãe um milagre, não custa nada tentar.
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Comments

bibitchuuuu

bibitchuuuu

enquanto nosso querido Alex vê os cheiros, eu não sinto nada kkkkk ironia não kkkkk

2025-03-20

1

bibitchuuuu

bibitchuuuu

vamos entrar em um consenso, todos nós odiamos o Rafael e amamos o Gael

2025-03-20

1

Ver todos

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